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“As cotas femininas são o golpe da elite”, diz desembargadora

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“As cotas femininas são o golpe da elite”, diz desembargadora

Ednilson Aguiar/Olivre

desembargadora Maria Helena Gargaglione Póvoas

Desembargadora foi indicada a prêmio do Senado Federal

“As cotas femininas são o golpe da elite”. A fala é da desembargadora Maria Helena Gargaglione Póvoas, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso. Ex-presidente e ex-corregedora do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Póvoas defende que o formato atual para a formação de chapas, que obriga coligações a terem no mínimo 30% de mulheres entre seus candidatos, não colabora para uma maior participação feminina na política.

Maria Helena Póvoas foi indicada ao prêmio Bertha Lutz, entregue pelo Senado Federal, que reconhece o trabalho de mulheres que contribuíram para a defesa dos direitos femininos e das questões de gênero no país. A indicação foi feita pelo senador Cidinho Santos (PR), a quem a desembargadora diz não conhecer pessoalmente.

Póvoas afirma que algumas das mulheres que “saem” candidatas estão “culturalmente aquém” daquilo que se esperaria, e entram sem sequer saber do que estão participando. Maria Helena diz acreditar que não se acaba com desigualdades por meio de decretos e leis.

“Elas muitas vezes não sabem sequer que precisam prestar contas. Pensam, ‘se nem eu votei em mim mesmo, vou prestar contas do quê?’. E também não sabem das sanções que podem vir a ocorrer, como a proibição de assumir o cargo se for aprovada em um concurso público, ou a proibição de tirar passaporte”, diz.

Como medidas para evitar abusos, Póvoas defende que os partidos deveriam ser responsabilizados, inclusive vinculando a prestação de contas do candidato à liberação de recebimento do fundo partidário. “O partido recolheu nos seus quadros e depois joga fora só o bagaço da laranja. Acredito que seja preciso atrelar o partido como copartícipe”, afirma a desembargadora.

Lideranças
Maria Helena provoca pelo surgimento de lideranças femininas desde quando atuava na seccional de Mato Grosso da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MT). Póvoas foi presidente da Ordem entre 1993 e 1997, por dois mandatos.

“Acho que foi um momento interessante, em que era preciso inspirar outras mulheres a participar. Não queria que nosso papel se limitasse a ser aquele de mulher que faz os sanduíches no dia da eleição”, avalia a desembargadora.

Ednilson Aguiar/Olivre

desembargadora Maria Helena Gargaglione Póvoas

Póvoas foi presidente da OAB por dois mandatos

Póvoas cita mulheres como as pianistas Dunga Rodrigues e Bartira de Mendonça e a esportista Ana Maria do Couto May como exemplos de figuras importantes no Estado. “As mulheres escreveram belíssimas páginas da história de Mato Grosso”, diz.

Sempre atenta à política, a desembargadora vê com preocupação o atual momento. Ela, que também atuou no movimento estudantil durante a ditadura militar, questiona os defensores de retorno dos militares ao poder.

“Para falar que vai votar no Bolsonaro, e que defende a volta dos militares, não sabe um terço do que aconteceu durante o regime”, diz. “Se você pegar os jornais da época e olhar as capas… Não se via uma notícia sobre o Brasil, porque não podia falar. Mataram gente ‘pra burro’. Eu mesma tomei umas borrachadas nas pernas”, completa.

Inspiração
A inspiração para se voltar à política, apesar das dificuldades de ser mulher, veio de casa. O pai de Maria Helena, o ex-deputado e ex-vice-governador Lenine de Campos Póvoas, trazia o debate e a história para a mesa de jantar e deixava a pequena Maria Helena encantada.

“Ele me contava histórias do exército feminino durante a Guerra do Paraguai, da esposa do barão Hermenegildo de Albuquerque Portocarrero, Ludovina Portocarrero. Ela comandava as mulheres no Forte de Coimbra, fabricando cartuchos durante a guerra, lado a lado com os homens”, rememora.

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