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A hora e a vez do etanol de milho

Dez anos após o início no Brasil, a produção de etanol de milho impressiona e se torna alternativa em várias frentes 

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A hora e a vez do etanol de milho
Foto: Assessoria

Enquanto as circunstâncias do cenário mundial empurram para cima os preços dos combustíveis fósseis, o mercado de etanol de milho no Brasil vem crescendo a um ritmo impressionante.

Completando 10 anos em 2022, desde a implantação da primeira usina flex no Brasil, o etanol de milho vai se tornando uma alternativa valiosa sob várias perspectivas, que vão de uma opção de ganho para o setor sucroalcooleiro, uma porta para a entrada de investimentos e a geração de postos de trabalho no país e, principalmente, um caminho para a sustentabilidade na indústria automobilística.

Nem nas melhores projeções à época da abertura da primeira usina flex nacional, em 2012, nós poderíamos imaginar que o milho chegaria a ser responsável por 15% de toda a geração de etanol no país para a safra 2022/23, como divulgaram recentemente a União Nacional do Etanol de Milho (Unem) e o Instituto de Economia Agrícola de Mato Grosso (Imea).

O dado impressiona, por representar um aumento de 31% em relação à safra anterior, e de 7% em comparação com a última previsão de produção, subindo de 4,2 bilhões de litros para 4,5 bilhões de litros. E o volume de milho processado pelas usinas também deve aumentar de 7,98 milhões de toneladas para 10,38 milhões de toneladas, um incremento de 30%, tornando o produto complementar ao etanol de cana e equalizando o mercado, reduzindo o risco de desabastecimento.

E o potencial vai além, com a expectativa de o Brasil se tornar o maior produtor de etanol no mundo, limitando sua dependência de importação dos Estados Unidos. Estudos indicam que estamos no caminho de sermos não apenas um importante fornecedor global de etanol, mas, sobretudo, de tecnologia, com o milho sendo o grande impulsor desse crescimento. Segundo estimativas da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o etanol de milho deve crescer 35% até 2029.

Entre as razões para o entusiasmo no setor está evidentemente a demanda, pressionada pelos preços internacionais do petróleo, mas também um aumento dos investimentos no setor privado, com o estímulo da Agência Nacional do Petróleo (ANP), que autorizou, por exemplo, um incremento na produção de etanol na unidade Sinop de 1,7 milhão de litros para 3 milhões de litros por dia, elevando essa produção para 1 bilhão de litros ao ano.

O potencial desse setor é tão grande que a IFF investiu em um novo Centro de Inovação no Brasil, com equipamentos de última geração e um Laboratório de Bioprocessos e estrutura dedicada para atender a indústria de etanol de milho. O Laboratório reproduz condições de fermentação em diferentes escalas para avaliar a aplicação de leveduras de nova geração. Além disso, uma recém-lançada plataforma digital de análise e simulação possibilita simular o processo do produtor e utilizar a ciência dos dados para predizer resultados e identificar oportunidades de otimização.

Brasil potência verde

A indústria de etanol de milho vem coroar uma história de pioneirismo brasileira. O país sempre esteve na vanguarda na produção e na pesquisa de biocombustíveis desde a década de 1970. O Brasil é também pioneiro na adição de etanol à gasolina, com a maior porcentagem de mistura do mundo (27% segundo o RenovaBio), em um contexto em que 60% dos carros são flex, o que também reduz a pegada de carbono da frota de veículos brasileira. Não é pouco, diante do desafio global urgente de reduzir as emissões de carbono.

Segundo a UNICA, entre março de 2003, quando foi lançada tecnologia flex, e maio de 2020, o consumo de etanol no Brasil evitou a emissão de mais de 515 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, um volume equivalente às emissões anuais somadas de Argentina, Venezuela, Chile, Colômbia, Uruguai e Paraguai. Quando se avalia o ciclo de vida completo do combustível, o etanol reduz em até 90% a emissão de Gases Efeito Estufa (GEE) em comparação com a gasolina.

Os benefícios também incluem o produtor. No Mato Grosso, a produção do milho safrinha  aumentou 18 milhões de toneladas para 40 milhões de toneladas nos últimos dez anos, e o preço da saca, que era de 12 reais, subiu a 80 reais, tornando-se um produto muito importante para os agricultores. Esse crescimento do milho permite maior perenidade à produção, garantindo fornecimento o ano todo, e representa para as usinas de etanol uma diversificação de matéria-prima para a energia renovável.

E ter combustível verde e renovável em larga escala colocará o Brasil em uma posição de destaque no futuro, com uma matriz energética nacional que abastecerá uma frota sustentável, complementando a aposta nos carros eletrificados, cuja demanda deve se consolidar em duas ou três décadas, sem ameaçar a indústria brasileira de etanol. Com tantos benefícios que incluem produtores, trabalhadores, consumidores, a indústria, e ainda favorecendo o planeta, é possível prever que a vez do etanol chegou, e pra valer.

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MÁRIO CACHO é diretor de Grain Processing para a América Latina na IFF

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