Com um alvoroço incontrolável ao subir no palco, o atleta campeão mundial Gustavo Kurten recebeu muitas palmas durante longos minutos e não conseguiu conter as lágrimas. Emocionado, levou um certo tempo para se recompor. Minutos antes, nos bastidores, ele finalizava a barba e cumprimentava muito simpaticamente quem passava pelo backstage sem se intimidar por estar com uma lâmina de barbear nas mãos. Muito tranquilo, Guga – como é conhecido – deu aula de humildade e afeto.
No palco, porém, a aula foi outra. Sua história mostra como nem mesmo o maior no topo do ranking tem a real noção de seu talento e capacidade. Em entrevista exclusiva para o LIVRE, Guga – em sua rápida passagem em Sinop (500 km de Cuiabá) – falou ainda sobre a importância de quem esteve ao seu lado para essa trajetória incrível que, segundo ele, aconteceu sem grandes motivos.
1 – Ao que você atribuiu o seu sucesso?
Guga: Sobrevivência, superação, esforços, e, principalmente, ter boas pessoas no entorno para compartilhar horas geniais e incríveis, saborear momentos fantásticos e também nas horas difíceis, conseguir força para reanimar. Eu acredito profundamente que tive sucesso tanto na vida pessoal quanto na esportiva por esses motivos. É claro que na vida profissional tem que se preparar, dedicar e se esforçar muito, mas sem uma base firme e sólida não tem como ir longe.
[featured_paragraph]Agora eu tenho que confessar que nunca percebi de fato que era famoso ou tão incrível como as pessoas diziam, sou um filho, esportista um ser humano comum, com muita vontade de vencer e de jogar. Conhecer gente famosa importante sempre foi tão incrível que fico chocado quando as pessoas me colocam nesse lugar de ídolo.[/featured_paragraph]
2 – Você continua sendo um labrador humano?
Guga: Não sei, esse foi um apelido bem gentil que encontraram nas olimpíadas, mas eu também me identifiquei. Acredito que isso surgiu porque eu gosto de brincar, sou até meio crianção e muitas atividades eu costumo levar na base da brincadeira. Os momento adequados para suportar e encontrar energia principalmente nas pessoas, a forma que eu me comunico ela é leve, é na base da alegria, felicidade, essa vontade de viver, e a figura do labrador tem isso bem presente. Pra mim é um baita elogio, agora já não sei se o labrador gostou tanto…. (risos)
3 – Qual o momento da sua carreira foi a o mais emocionante e porquê?
Guga: Com certeza foi o momento em que joguei com André Agassi, ele era o número um o mais imbatível. Lembro que quando eu entrei para jogar contra ele na primeira vez eu já sabia que ia perder e perdi. Quando tive a segunda chance de jogar contra ele, eu pensei, não tem como eu ganhar, mas já que é assim vou entrar e vou dar o melhor de mim e aí ganhei. Isso foi tão incrível que até hoje não sei bem ao certo entender como isso aconteceu.
4 – Porque ainda não temos um novo Guga no Brasil?
Guga: Tenho certeza que o que falta na verdade é incentivo, eu digo incentivo financeiro mesmo. Temos sim muitos atletas incríveis que podem ser trazidos para o tênis, o problema que o tênis é um esporte que custa um certo investimento, os equipamentos não são baratos e necessita de muito esforço físico, psicológico e apoio. Então como um garoto passando por dificuldades financeiras vai conseguir se dedicar o necessário para o esporte? Eu não falo de ser rico, longe disso, eu não era nem perto de um garoto rico, minha mãe sempre foi assistente social, mas tive sim um suporte e grandes chances.
5 – O que faz o Guga feliz hoje?
Guga: Estar com pessoas, sentir esse carinho e ter a percepção de que inspirei muita gente com minha história, isso não tem preço. Posso dizer com certeza que dar palestras e sentir esse amor me faz a pessoa mais feliz do mundo
