Comportamento

Professores de escolas públicas e particulares concordam: o Enem tem que ser adiado

Na rede pública de ensino, a falta de acesso à internet pelos alunos impede qualquer tentativa de ensino à distância

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Professores de escolas públicas e particulares concordam: o Enem tem que ser adiado
Foto: Agência Brasil

No Congresso, o assunto ainda divide opiniões e, no Judiciário, a disputa processual está longe de chegar ao fim. Mas para professores, sejam da rede pública ou privada de ensino, já é consenso: a data do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) desde ano precisa ser alterada.

Soenil Clarinda de Sales, professora de Língua Portuguesa de uma escola estadual e Poconé (100 km da Capital), e Robson Cireia, coordenador do Ensino Médio de uma escola estadual em Cuiabá, afirmam enfaticamente que a Educação está paralisada desde que as aulas tiveram que ser suspensas por conta da pandemia do novo coronavírus.

Segundo ambos, embora a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) tenha liberado conteúdo em uma plataforma on-line, o modelo não tem funcionado e os alunos estão, em sua maioria, completamente sem contato com os professores.

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A maior parte dos alunos de Soenil, por exemplo, não tem acesso regular à internet. Entre os que têm, a qualidade do serviço não é boa o suficiente para garantir acesso à plataforma do governo e os conteúdos que lá estão. E há ainda casos de quem sequer saber como operá-la.

Para os poucos que conseguem chegar ao material disponibilizado pela Seduc, a única alternativa é resolver os exercícios das diferentes disciplinas sem qualquer orientação de um professor. Não há aulas on-line, não há contato algum, segundo ela.

“A gente quer ajudar, mas até nisso há um conflito, porque sabemos que alguns alunos não vão conseguir entrar em contato com a gente”, lamenta Robson.

O coordenador ainda levanta outra questão: em que condições emocionais estes alunos estão?

“Os pais deles estão trabalhando ou perderam os empregos? Eles estão com saúde? A escola é mais do que um espaço para ensinar, ela é um espaço para incentivar e que serve de apoio”, ele destaca.

(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Retorno às aulas

Na avaliação de Robson e Soenil, no mínimo, a prova do Enem deveria ser adiada para o final de janeiro ou início de fevereiro. Isso mesmo que as aulas fossem retomadas ainda em maio, conforme estimativa inicial.

O coordenador lembra que a maioria dos estudantes da rede pública de ensino sequer iniciou o ano letivo de 2020. As aulas tinham previsão de início justamente no dia 23 de março, quando as primeiras medidas de isolamento social começaram a ser adotadas.

“Até colocar tudo no ritmo, vai ser preciso tempo”, defende Soenil.

E para Robson, o Ensino Médio deve ser priorizado no retorno, que terá que ser gradual por conta da limitação no tamanho das escolas.

“Onde eu trabalho, são 21 turmas só de Ensino Médio e aproximadamente 10 de Ensino Fundamental, crianças. Se a gente for considerar o espaço de 1,5 metro entre cada um, não dá”, ele exemplifica.

Prejuízo até para quem tem internet

Proprietário de uma das mais famosas redes de escolas particulares de Cuiabá, o professor Sidney Farina também defender ser inevitável uma decisão de adiamento da data do Enem.

(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Segundo ele, em sua escola, as aulas continuam acontecendo no mesmo horário e com a mesma duração de antes do início da pandemia. Tudo graças a um sistema on-line que permite a comunicação em tempo real entre professores e alunos.

“Mas a gente sabe que não é assim para todo mundo”, ele ressalta.

O professor avalia ainda que, mesmo esse tipo de sistema, não garante que o aluno será tão disciplinado nos estudos quanto poderia, se estivesse frequentando a escola. Uma disciplina que, na avaliação dele, se reduz gradativamente no caso de aulas gravadas e ainda mais naqueles casos em que não há aula nenhuma.

Por enquanto, mantido

Nesta quarta-feira (29), conforme notícia veiculada pela Agência Brasil, a Advocacia Geral da União (AGU) conseguiu derrubar uma decisão liminar que determinava uma adequação no calendário do Enem de 2020.

A liminar havia sido proferida pela Justiça Federal em São Paulo.

Segundo o texto da Agência Brasil, a decisão em favor da manutenção da data atual ocorreu porque o Ministério da Educação (MEC) teria demonstrado que adotou medidas para “para garantir que nenhum aluno será prejudicado”.

Até agora, o MEC alterou apenas a data de realização do Enem digital – que será aplicado nesse formato pela primeira vez este ano. As provas estavam previstas para os dias 11 e 18 de outubro e passarão a ser nos dias 22 e 29 de novembro.

Conforme o calendário do MEC, o Enem em seu formato tradicional será aplicado nos dias 1º e 8 de novembro.

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