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PCE em Cuiabá: cantina vendia produtos ilegais e praticava preços exorbitantes

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PCE em Cuiabá: cantina vendia produtos ilegais e praticava preços exorbitantes
"Mercadinho" dentro da penitenciária

Os presos adquiriram dentro da própria cadeia grande parte dos produtos ilegais retirados das celas durante a força-tarefa para “faxina” realizada pela Secretaria de Estado de Segurança Pública na Penitenciária Central de Cuiabá.

Ventiladores, refrigeradores, congeladores, fogões e baldes estão acessíveis na cantina da unidade e chegam a custar até 200% a mais que os preços praticados fora das grades.

Conforme os familiares que estão desde segunda-feira (12) acampados na lateral do presídio, eles se esforçam e muitas vezes ficam a “arroz e ovo” para dar o mínimo de condições para o detento.

Uma das mulheres, que não se identificou com medo de represálias, conta que o comércio começa quando uma lista é passada no raio. No papel, estão os produtos disponíveis e quanto custam.

A partir daí, cada um avalia, dentro das possibilidades financeiras, o que pode ser comprado. Um saco de sal custa R$ 4, enquanto nos mercados convencionais pode ser adquirido por R$ 1, a exemplo.

E, se o almoço for acompanhado de refrigerante, a garrafa de 1,5 litro custa R$ 10 e a água mineral, R$ 8.

Um balde comum, que dentro da cadeia é de grande utilidade, custa R$ 60. O utensilio é usado para armazenar água, uma vez que o abastecimento é liberado em horas definidas.

Sessão de eletrodomésticos

Esta é com certeza a mais cara, na opinião das esposas e mães de presos.

Um congelador custa R$ 400, um fogão R$ 350 e um ventilador R$ 300. “O mesmo modelo do lado de fora sai por R$ 90”.

Para quem pergunta como ligar o eletrodoméstico, a resposta é simples: os fios elétricos também são vendidos na cantina.

“Quando vimos as coisas queimadas, vimos dinheiro nosso queimando. Eles não deixam trazer nada de fora e quando levamos comida, elas são jogadas fora se o mercado vender a mesma coisa”.

Eletrodomésticos foram comprados dentro da cadeia e retirados das celas pelos agentes em operação

Sem luz e água

Segundo informações conseguidas por familiares desde a segunda-feira (12) junto a reeducandos que são contemplados com alvarás de soltura, a energia teria sido desligada nas celas.

Desde então, o ambiente que já era insalubre, piora. Eles relatam que cada cela tem 40 detentos e eles ficam em um calor insustentável. A água é escassa e muitos são obrigados a tomar água suja.

As roupas, utensílios de cozinhas e demais objetos foram queimados no pátio da penitenciária. O grupo que dormiu em frente à unidade viu as nuvens de fumaça e relata ter ouvido gritos e pedidos de socorro, vindo de dentro do prédio.

“Os raios 3 e 4 ficam depois dos muros, ouvimos tudo aqui”.

Mulheres estão acampadas e aguardam notícias dos maridos e filhos que estão na unidade  (Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Na rua lateral, a via foi ocupada pelos parentes. Eles trouxeram até colchões para passar a noite e dizem que só sairão do local depois de terem informações sobre a situação dos presos.

As visitas estão proibidas desde terça-feira (20) e serão retomadas apenas com o final da operação.

A operação

Presos foram retirados das celas na segunda-feira (12) durante a noite para uma operação que ainda está sendo realizada e tem o objetivo de higienizar as celas, reorganizar os detentos e retirar materiais ilegais que estavam nos espaços.

A ação foi desencadeada 25 dias depois da Polícia Civil cumprir mandados de prisão contra o ex-diretor da PCE, Revétrio Francisco da Costa e outros servidores da unidade, acusados de entregar um congelador recheado de celulares a lideranças de facções criminosas.

Secretário Alexandre Bustamante assegura que situação está sob controle (Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

De acordo com o titular da Sesp, Alexandre Bustamante, um balanço do que foi retirado das celas será apresentado no final da operação, que tem previsão para durar 30 dias.

Nesse período, além da retirada dos materiais, haverá a reforma da cela e retirada das tomadas e ventiladores. Um custo previsto de R$ 100 mil aos cofres públicos, conforme previsão do próprio Bustamante.

Ele disse ainda, em uma entrevista coletiva oferecida à imprensa, que não é o momento de se falar como os objetos entraram e sim de limpar tudo.

Bustamante também explicou que os trabalhos começaram na terça-feira (13) e fazem parte de uma programação complexa, uma vez que envolve o remanejamento de 2.440 presos.

“Estamos sendo apoiados pela comunidade carcerária, mas é lógico que um ou outro não está gostando. Principalmente, os que sairão da zona de conforto”.

O secretário desmentiu as denúncias de familiares sobre maus tratos e insalubridade. Além de pedir ajuda dos veículos no combate às Fake News e falsos áudios de salve.

Um deles, conforme o gestor, resultou em um transtorno imenso ontem (14). Na ocasião, falava de bombas e atentados no bairro Pirineu em Várzea Grande. “Deslocamos várias viaturas para o local e não havia nada. Perda de tempo e dinheiro”.

Citou ainda o caso envolvendo um rapaz, preso em Lucas do Rio Verde, por espalhar áudios mentirosos. “A desinformação é uma estratégia”.

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Outro lado

A Sesp, por meio da assessoria de Imprensa, diz que o governo sancionou um decreto que mudará todo sistema de gestão das cantinas nas unidades prisionais.

Com relação ao preço, o novo decreto diz que os produtos deverão ser cotados em dois lugares diferentes antes de serem vendidos e terem valor de mercado.

Diz ainda que a Sesp emitirá um documento com os itens que poderão ser comercializados e já os lucros da venda serão repartidos da seguinte forma: custeio do produto/objeto comprado, devidamente justificado documentalmente; custeio do Conselho da Comunidade na operacionalização do comércio, mediante apresentação de comprovantes; 50% (cinquenta por cento) do lucro líquido ao Conselho da Comunidade, vinculado à utilização em projetos que visem à assistência dos recuperandos, mediante prévia anuência do Colegiado do Conselho de Fiscalização de que trata o artigo 5° deste Decreto; 15% (quinze por cento) do lucro líquido à Fundação Nova Chance, para fins de investimentos em projetos que visem à ressocialização dos egressos; 35% (trinta e cinco por cento) do lucro líquido a ser depositado na conta do Fundo Penitenciário, para utilização nos termos da Lei Complementar n° 498, de 04/07/2013.

A assessoria reforça ainda que a presença da cantina é garantida pela lei de execuções penais, no artigo 13.” O estabelecimento disporá de instalações e serviços que atendam aos presos nas suas necessidades pessoais, além de locais destinados à venda de produtos e objetos permitidos e não fornecidos pela Administração”.

Leia o decreto na integra aqui.

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