Judiciário

“Não tinha como os policiais não saberem que o tiro partiu deles”, diz coronel

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“Não tinha como os policiais não saberem que o tiro partiu deles”, diz coronel
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Tenente-coronel da Polícia Militar de Mato Grosso, Cláudio Fernando Carneiro de Souza, responsável pela investigação da morte do 2° tenente da PM Carlos Henrique Paschiotto Scheifer, morto em maio de 2017 durante operação, afirmou que os três militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope), que estavam na operação, sabiam que o tiro que atingiu o oficial partiu de um colega de farda.

O depoimento foi prestado ao juiz Marcos Faleiros, da 11ª Vara Criminal de Cuiabá, especializada em Justiça Militar, na tarde desta quarta-feira (3). Ele foi o quarto militar a depor.

Pela morte do tenente, são acusados o soldado Werney Cavalcante Jovino, o cabo Lucélio Gomes Jacinto e o sargento Joailton Lopes de Amorim.

O coronel Fernando começou explicando que foi designado pela Corregedoria Geral da Polícia Militar para conduzir o inquérito e que, em 21 anos de corporação e participação em diversas operações, sabia, desde o início, que havia algo errado com a morte do tenente Scheifer.

[featured_paragraph]Conforme o oficial, seria improvável que um policial militar saísse morto de uma operação sem que outros militares também se ferissem ou que houvesse confronto.[/featured_paragraph]

Além disso, o coronel garantiu, durante o depoimento, que Scheifer não oferecia risco para ninguém e que não seria possível que um colega tivesse atirado por confundi-lo com um dos bandidos. A alegação do oficial vai de encontro ao depoimento dos envolvidos, que chegaram a afirmar que ouviram barulho na mata e, por isso, aguardaram 40 minutos em posição de defesa.

“Na minha opinião, não houve qualquer movimento na mata. E não tinha como os policiais que estavam ali não saberem que o tiro partiu de um deles”, avaliou.

Durante o depoimento, o coronel chegou a simular a posição que o tenente Scheifer estava quando foi atingido. Para o coronel, o tenente do Bope tinha experiência e conhecimento técnico suficiente para não ser negligente a ponto de colocar sua segurança em risco.

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Para Fernando, o tiro que assassinou o tenente Scheifer foi intencional. Em sua simulação, ele também observou que o oficial tinha passado pelo soldado Jovino, que avaliou a situação e não atirou. Depois, porém, ao passar por onde o cabo Jacinto se encontrava, o oficial foi alvejado.

Ainda no depoimento, o coronel também frisou que, segundo colheu em sua investigação, a própria tropa da Polícia Militar da região estava “descontente” com a ação do Bope. O descontentamento também foi apontado no depoimento do 2° tenente Herbe Rodrigues da Silva, que participou da ação. Ele foi o terceiro a depor na tarde de terça-feira.

Mal contado

Ao falar sobre o caso, o tenente Herbe observou que a história contada pelo trio de militares do Bope a respeito do que teria ocorrido quando Carlos Scheifer foi alvejado estava, no mínimo, mal contada. Isso porque os militares teriam cometido “quebra de protocolo”.

Formado na mesma turma de Scheifer, o 2° tenente Heber foi acionado para dar apoio à ocorrência. Até aquele momento, a informação era de que um caso de assalto a banco, na modalidade “novo cangaço”, estava em andamento.

Para o juízo, o tenente questionou o fato de que, após o tiro ter acertado Scheifer no abdômen, os demais policiais se mobilizaram para buscar uma viatura e socorrer o oficial.

[featured_paragraph]”Se eu não sei a direção que o tiro veio, aí é pior ainda. Aí é que tem que atirar”, disse. “Mas o tenente foi alvejado pela frente. Será que ninguém viu que ele foi baleado?”, questionou.[/featured_paragraph]

Conforme o oficial, mesmo com a intenção de proteger o comandante da operação, no caso em questão, Scheifer, os militares deveriam ter feito cobertura, estando, pelo menos, revidando os tiros.

Pela falta de protocolo, Heber afirma que os demais militares, quando Scheifer já estava no hospital, passaram a comentar que o caso teria se tratado de um “fogo amigo”, ou seja, o tiro teria partido da própria polícia.

“Para a infelicidade da guarnição e para a nossa felicidade, o projétil ficou [preso no corpo]. Senão não dava perícia”, comentou durante o extenso depoimento. Para o tenente Heber, a perícia foi fundamental para desconstruir uma série de mentiras passadas pelo trio do Bope para encobrir o assassinato de Scheifer.

A morte

Carlos Scheifer entrou para a Polícia Militar em 2011 e, após se formar no Curso de Formação de Oficiais (CFO) da PM, serviu no Grupo Especial de Fronteira (Gefron) por dois anos. Depois que fez o Curso de Operações Especiais (Coes) em Mato Grosso do Sul, passou a integrar a equipe do Bope, em março de 2017. Sua morte aconteceu em maio daquele ano, quando ele tinha 27 anos.

Scheifer foi escalado para comandar a equipe (formada por ele e os três militares acusados) para atuar em uma operação de repressão a um assalto a banco, da modalidade Novo Cangaço, no distrito de União do Norte, próximo à cidade de Matupá (695 km de Cuiabá).

Conforme o promotor de Justiça que analisou o caso, Allan Sidney do Ó Souza, durante a operação, teria acontecido um desentendimento entre a equipe e o tenente Scheifer. Isso porque, já no segundo dia de confronto com bandidos, o cabo Jacinto atirou contra um dos suspeitos, vindo a causar sua morte.

Para Scheifer, o tiro do Bope era desnecessário e, como toda ocorrência, deveria ser relatado no boletim. O fato teria irritado o militar, que chegou a comentar com os demais: “esse comando é muito legalista, né?”.

Naquele mesmo dia, o grupo retornou para a área de conflito. Conforme o inquérito policial, os militares teriam ouvido um barulho na mata, o que o fizeram aguardar, sem posição de defesa, por 40 minutos. Dalí, Scheifer já saiu sem vida. Foi atingido por um disparo na região abdominal.

A primeira informação repassada pelo trio aos demais militares, que também davam suporte a ocorrência, era que o tenente teria sido atingido por um tiro dos suspeitos. No entanto, depois de um laudo pericial, ficou comprovado que o projétil encontrado alojado no corpo do tenente partiu de um fuzil do cabo Jacinto.

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