Os problemas de saneamento de Cuiabá se acumulam desde o crescimento populacional das últimas década do século XX. A distribuição das redes de água e esgoto só avançou nos últimos oito anos e a exemplo da urbanização e mobilidade, este problema também está relacionado ao fato de a cidade estar crescendo “sem rumo”.
“Sempre devemos levar o plano territorial em consideração. Ele é o que vai nos dar a direção do que precisa ser feito e como a infraestrutura da cidade deve crescer. Sem isso, o que fazemos é apenas o papel de bombeiros: pagar fogo quando ele aparece”.
A afirmação é da especialista em Engenharia Sanitária pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), professora Eliane Beatriz Nunes Rondon Lima. Segundo ela, hoje a rede de esgoto e de água encanada da Capital, com tratamento adequado, alcança cerca de 60% da população. Um percentual ainda baixo, mas que vem aumento.
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Antes de 2012, apenas 30% dos cuiabanos tinha acesso a esses serviços. Contudo, a destinação individual do esgoto doméstico em fossas sanitárias continua alta. Tudo porque não há o controle necessário sobre para que lado a cidade tem crescido.
Lixão sem solução
E quando se fala em tratamento de resíduos sólidos – o lixo -, especialistas já apontam esse problema como algo que extrapola o município. Os serviços de coleta, destinação e reciclagem das sobras residenciais de industriais são vistos em proporção metropolitana.
Isso anexa outras cinco cidades – Várzea Grande, Chapada dos Guimarães, Livramento, Santo Antônio do Leverger e Acorizal – ao planejamento da Capital. Mas Cuiabá não conseguiu resolver sequer o problema individual.
“Cuiabá continua com problema de destinação, reciclagem e tratamento do resíduo sólidos. Uma cidade que recolhe cerca de 600 toneladas de lixo diariamente… esse volume não representada o total de resíduos produzidos na cidade”, comenta o professor e especialista no assunto – membro do Departamento de Engenharia Sanitária da UFMT – Paulo Modesto.
Segundo ele, a prefeitura informa que recolhe 93% do lixo produzido na Capital. Mas a quantidade de bolsões, terrenos baldios com entulhos e o que escorre para os córregos e rios que cortam a cidade colocam em xeque esse número.
A reciclagem, que deveria estar em 70% de tudo o que é produzido, não chega a 5% e o plano de coleta seletiva é falho. Essas atividades complementares ajudariam a mitigar o problema de estoque ao longo dos meses e da poluição.
O que dá para fazer em quatro anos?
O plano de resíduos sólidos por região metropolitana começou a vigorar no Brasil em 2010. Cidades que compõem essas regiões, geralmente, com população individual acima de 100 habitantes, têm até agosto de 2021 para apresentar um plano de tratamento, coleta e reciclagem. Em Mato Grosso, a situação está na estaca zero.
O professor Paulo Modesto afirma que Cuiabá, como Capital, deve ser acompanhada pelo governo do Estado na elaboração do plano. Isso significa que o próximo prefeito tem que priorizar esse problema assim que assumir o cargo.
“Mas, enquanto se pensa na região metropolitana, Cuiabá pode melhorar a destinação dos resíduos que ela coleta, aumentar a reciclagem, a qual está muito longe do adequado. Tudo isso não precisa esperar pelo plano metropolitano”, pontua.
Ele alerta ainda para a necessidade de regularizar as condições de trabalho dos catadores. Cerca de 200 pessoas passariam diariamente pelo lixão em Cuiabá para fazer a coleta de materiais.