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Mais avenidas? Cuiabá vive círculo vicioso e uma estratégia errada de mobilidade urbana

Em 2019, para cada 1,3 habitante da Capital de Mato Grosso havia um carro. A mesma proporção de São Paulo

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Mais avenidas? Cuiabá vive círculo vicioso e uma estratégia errada de mobilidade urbana
(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Nos últimos 20 anos, Cuiabá passou a ter um número veículos proporcional ao de metrópoles e investiu unicamente na abertura de novas vias. Mesmo assim, o problema continua. Um sinal de que essa pode não ser a estratégia apropriada para resolver as questões de mobilidade urbana.

O caos instalado na Capital pode ser ilustrado com números. Conforme a Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob), em outubro do ano passado, Cuiabá chegou aos 440 mil veículos circulando diariamente pela cidade. 

Se confrontado com a população deste ano, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 612 mil habitantes, a proporção é de 1,3 pessoa para cada veículo. 

São Paulo, a maior Capital brasileira, com 12 milhões de habitantes, tinha no mesmo ano 8,6 milhões veículos motorizados, a proporção. 

“Não funciona porque as pessoas entendem que são abertas mais vias para passar mais carros. Aí, elas investem mais em transporte privado. Aumenta o número de carros em circulação e aquilo parecia a solução pouco tempo atrás, se transforma em um novo problema”, diz a professora de Engenharia do Transporte da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Marina Baltar. 

Calçadas e transporte público 

Mas o pior desta linha de serviços públicos é a falta de investimentos em áreas que teriam  impacto forte e permanente no aprimoramento da mobilidade urbana: a construção de calçadas nas áreas mais movimentadas e a melhoria do transporte público. 

Também existem números para ilustras as falhas em Cuiabá nessas áreas. O relatório final do estudo Calçadas do Brasil de 2019 avaliou a disponibilidade de calçadas na cidade como uma das piores do Brasil dentre a Capitais. 

(Foto: Suellen Pessetto/ O Livre)

De 27 cidades avaliadas, Cuiabá ficou na 25ª colocação. Numa escala de nota de 0 a 10, teve a pífia pontua de 4,79. Bem longe até mesmo da média considerado viável. 

O estudo, realizado pelo Mobilize Brasil, avaliou as condições de “caminhabilidade e acessibilidade” em todas as Capitais brasileiras. Esses critérios foram considerados como alternativas para a melhora tráfego nas cidades e reduzir o impacto do transporte urbano. 

O levantamento inclui dados sobre larguras mínima e máxima das calçadas, sinalização e segurança de trafegabilidade. A maioria dos resultados ficou entre regular e ruim em Cuiabá. 

A professora Marina Baltar inclui na lista de dificuldades de mobilidade urbana o sistema precário de transporte coletivo. A frota de ônibus e qualidade de serviços continuam no mesmo patamar, embora a cidade venha crescendo nas últimas décadas. 

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“Cuiabá precisa distribuir melhor o serviço de transporte público, para alcançar com melhores serviços as pessoas que estão morando fora do centro urbano. Já passou da hora de se pensar em linhas secundárias de carregamento, passando pelas principais avenidas e, a partir daí, passar para a linha principal, que conduz aos bairros”, pontua. 

O que dá para fazer em quatro anos? 

Os anos de campanha eleitoral são propícios para as promessas que não cabem dentro de um mandato. Marina Baltar afirma que a situação complexa do problema deve ser resolvida ao longo de mais tempo, mas já existe atraso em colocar as intervenções em execução. 

No caso de Cuiabá, a falta de um plano diretor para orientar as ações de gestores, independentemente de cores políticas ou foco de governo agrava a situação. 

“Mas é possível começar a construir calçadas, criar um sistema de taxação de estacionamento para desestimular o estacionamento no centro da cidade – que já temos problemas nas vias e os estacionamentos irregulares complicam. É possível começar de algum ponto, de maneira adequada”, afirma. 

Ela complementa que acessibilidade deve ser seguida pela arborização das cidades para criar “oásis” ao calor intenso, mas não desanimar a população a utilizar transporte alternativo.

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