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Inclusão é olhar para o todo

O Brasil só será um grande país quando nós, cidadãos, também formos protagonistas das soluções

3 minutos de leitura
Inclusão é olhar para o todo

Uma frase atribuída ao físico alemão Albert Einstein, diz: “Em toda dificuldade existe uma oportunidade”.

Aos 20 anos enfrentei uma das maiores dificuldades da minha vida: a perda da visão do olho esquerdo por conta de uma doença inflamatória. Ao longo de dez anos passei por 12 cirurgias na tentativa de recuperar a visão, sem sucesso. A solução encontrada foi a remoção cirúrgica do olho e o uso de prótese.

Minha condição de monocular me tornou mais sensível às dificuldades enfrentadas por outras pessoas como eu, com algum tipo de deficiência.

Motivação

A perda da visão, no entanto, não me limitou; ao contrário, me motivou a agir para transformar a realidade destas pessoas. Meu foco passou a ser a inclusão para o exercício pleno da cidadania em nível nacional. Idealizei uma lei e trabalhei intensamente para que ela fosse sancionada.

Foram muitas idas e vindas ao Congresso Nacional e muito diálogo com a classe política até que a Lei Amália Barros (Lei 14.126/2021) fosse sancionada, em 22 de março de 2021.

Por conta desse instrumento jurídico, os monoculares passaram a ser oficialmente reconhecidos como pessoas com deficiência, tendo assegurados os mesmos direitos e benefícios previstos na legislação para a pessoa com deficiência.

Sem qualquer cargo público ou político, consegui dar a uma parte de brasileiros novas oportunidades. Mesmo cega de um olho, fiz a classe política e, por consequência, a sociedade como um todo, enxergarem uma necessidade que até então era ignorada e desconhecida para muitos.

Nova visão do Brasil

Esse trabalho intenso me deu uma nova visão sobre o Brasil: a inclusão é um olhar para o todo e não só as minorias. O país possui inúmeros gargalos, muitos com impactos profundos e diretos na vida dos cidadãos como, por exemplo, a falta de creches para crianças oriundas de famílias mais pobres.

Estudo publicado pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal revela que, entre as famílias mais carentes, apenas 24,4% das crianças de até 3 anos de idade frequentam creches no país, ou seja, uma a cada quatro. É um número muito grande de crianças sem acesso à primeira etapa da educação infantil e de mães que, por não terem com quem deixar seus filhos de maneira segura, estão excluídas do mercado de trabalho.

As mulheres de baixa renda são as que mais precisam trabalhar (muitas delas são responsáveis pelo sustento do lar), mas são, justamente, as que menos têm acesso às creches.

O acesso à educação é um direito garantido pela Constituição e o Plano Nacional de Educação (Lei 13.005/2014) prevê que o Brasil deve atender em creches, até 2024, a pelo menos 50% das crianças de até 3 anos de idade.

Um país é feito de quem existe nele. O Brasil só será um grande país quando nós, cidadãos, também formos protagonistas das soluções. Problemas a resolver não faltam e os obstáculos são inúmeros, mas minha deficiência e minha experiência têm me mostrado que, assim como disse Einstein, dificuldades são também oportunidades valiosas de transformação.

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Amália Barros é jornalista, fundadora do Instituto Amália Barros e idealizadora da lei 14.126/2021

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