O ex-secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Seciteci), Nilton Borgatto (PSD), é apontado como financiador do tráfico de cocaína do Brasil para Portugal. O processo da 2ª Vara Federal de Salvador (BA) aponta que Borgatto agia junto com o lobista Rowles Magalhães Pereira da Silva e doleira Nelma Kodama. Os três foram presos nessa terça-feira (19) pela Polícia Federal, durante a operação “Descobrimento”.
O papel de Nilton Borgatto na organização criminosa também o colocava próximo a Marcelo Mendonça de Melo, membro do PCC, e Cláudio da Rocha, outro investigado como responsável pela compra de drogas no Brasil.
A defesa de Nilton Borgatto disse, em nota, que o ex-secretário nega as informações e que um recurso judicial está sendo preparado.
Papel na organização criminosa
Conforme a Polícia Federal, Borgatto tinha relação próxima com o lobista Rowles Magalhães Pereira da Silva, responsável pelo fretamento do avião.
O contato faria parte da própria organização do grupo, em que cada integrante era responsável por uma área de atuação. Os postos de Borgatto e Rowles seriam capitais, que passariam pela compra da droga e despacho para o comprador na Europa.
Desde que a investigação da Polícia Federal começou em fevereiro de 2021, após a apreensão de mais de meia tonelada de cocaína no aeroporto de Salvador, os investigados fizeram algumas reuniões em Cuiabá.
Borgatto é identificado pelo apelido “Índio”. A correspondência do apelido com o então secretário teria sido confirmada após o cancelamento de um voo em nome de Nilton Borgatto, quando uma foto dele foi enviada para a WhatsApp junto do apelido.
Droga descoberta
Uma das reuniões em Cuiabá teria sido chamada para tratar da apreensão da droga em Salvador. Ainda conforme o processo, nesse trecho os investigados e suas posições no grupo são identificados.
Na discussão via WhatsApp, o lobista Rowles Magalhães Pereira da Silva diz, em referência à droga descoberta, que “Índio” estaria “associado a [Nelma] Kodama na contratação da aeronave”.
A Polícia Federal informou na deflagração da operação que a investigação ao grupo iniciou em fevereiro de 2021 após 595 quilos de cocaína terem sido descobertos na fuselagem um jato executivo Dassault Falcon 900, com sede em Portugal.
A apuração descobriu que a droga era escondida na aeronave por mecânicos e auxiliares, outros integrantes da organização criminosa.
Milhões no tráfico
O volume de dinheiro que rendia à organização criminosa pode ser medido pelas conversas entre o lobista Rowles Magalhães e a doleira Nelma Kodama. A PF diz que os mantinham relações amorosas e de negócios.
Algumas conversas que os investigadores tiveram acesso mostra o cálculo. O lucro que teriam seria de R$ 6 mil por quilo de droga que estaria prestes a ser enviada para a Europa, conforme o processo da 2ª Vara Federal de Salvador.
A quantidade calculada seria em torno de 400 quilos, o que geraria cerca de R$ 2,4 milhões. A doleira diz que negociaria no valor de R$ 3 milhões, com um suposto comprador identificado na conversa deles como “T”, e o lobista diz que o valor seria baixo.
“Rowles alerta que esse valor é pouco, já que o custo de um voo fretado para a Europa é em torno de R$ 1,2 milhão e devem R$ 2 milhões”, diz trecho de prints de conversa anexados ao processo.
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