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“É muito tênue a linha entre um relacionamento abusivo e um crime”, diz delegado

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“É muito tênue a linha entre um relacionamento abusivo e um crime”, diz delegado
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Relacionamento abusivo é um termo bastante utilizado na atualidade, mas uma realidade ainda romantizada pelas pessoas, mesmo que sem perceber. O ciúme bonitinho, o medo excessivo de perder quem se chama de amor… Para o delegado Claudio Alvares Santana, da Delegacia Especializada da Mulher, Criança e Idoso de Várzea Grande, não passam do primeiro passo para a violência doméstica.

“O controle, a dominação no relacionamento… Daí para uma ameaça, uma injúria, uma lesão corporal, é um passo. É muito tênue a linha entre um relacionamento abusivo e um crime”.

Na avaliação do delegado, tudo que limita a pessoa e que a obriga a se “adequar” para se tornar o que o parceiro espera já caracteriza um relacionamento abusivo.

“O homem que quer controlar a rede social, o telefone, a roupa que a mulher usa, o tipo de corte de cabelo… Tudo isso são características de um relacionamento abusivo”, ele pontua.

“A mulher deve observar essas características. A partir do momento que o homem passa a controlar e ela não tem mais vontade própria naquele relacionamento, ela tem que ter a consciência que está em um relacionamento abusivo”, completa Santana.

“São sinais de alerta. A partir dali, para haver a prática de um crime relacionado a violência doméstica, está bem próximo”, diz delegado.

“Ele me ama”

Segundo o delegado, a sociedade e, principalmente as vítimas, ainda romantizam muitas das características do relacionamento abusivo. Santanta sustenta que não são raras as vítimas que chegam à delegacia com a ideia errônea de que “ele me bate porque me ama”, ou “ele tem ciúmes porque tem medo de me perder”.

“A vítima confunde. A primeira coisa que eu falo em minhas palestras é: quem ama, não bate. Quem ama, não agride. Quem ama, não estupra. Quem ama, não controla e não domina. Isso não é amor, isso pode ser obsessão, qualquer tipo de sentimento, menos amor”.

Conforme o delegado, a primeira coisa que a mulher precisa saber é diferenciar o amor desse sentimento de domínio ou obsessão.

Ciclo da violência doméstica

Outra tecla na qual o delegado Cláudio Alvares Santana sempre precisa bater em suas palestras é na do ciclo da violência doméstica. Ele afirma que o círculo vicioso precisa ser quebrado desde o início, já que depois que a vítima entra nele é muito mais difícil conseguir sair.

“Estudos de psicólogos mostram que a mulher leva de nove a 10 anos para conseguir sair do ciclo da violência”, ele pontua.

O ciclo começa com discussões, tensão, um pequeno atrito ou até xingamentos. A segunda fase é a da violência. Em geral, primeiro com uma ameaça, mas que com o tempo evolui para a agressão. Na terceira fase, ocorre a “lua de mel”, quando o agressor se mostra arrependido e diz que nunca mais repetirá aquilo.

“Isso vai girando e se agravando. Nunca diminui. Quem começou com ameaça, agora já bate. O fim é o feminicídio”, ele enfatiza.

A orientação de Santana é procurar a polícia assim que os primeiros sinais aparecem. “Iniciou o ciclo da violência doméstica? Quebre o ciclo! Como? Fazendo um boletim de ocorrência, pedindo uma medida protetiva, denunciando”.

Como ajudar?

O delegado lembra que qualquer pessoa pode denunciar, de forma anônima, um agressor e ajudar uma vítima de violência doméstica. As denúncias podem ser feitas através do Disque 100 ou pelo 197, números da Polícia Judiciária Civil.

Em casos de ameaça, é necessário que a vítima queira fazer a denúncia para que seja aberto o inquérito policial e o delegado dê início a uma investigação. No caso de agressão, não depende mais da vontade da vítima.

“Se a vítima teve uma lesão, mesmo que ela fale para o delegado que não quer a investigação, a investigação vai iniciar”, ele afirma.

E Santana frisa a importância de amigos e familiares ajudarem a vítima a perceber os sinais de alerta e aceitar que, a partir do momento que se entra no ciclo da violência, dificilmente há volta.

Outra atitude que pessoas próximas podem adotar, segundo ele, é mostrar para a mulher agredida que a culpa não é dela e que a atitude de seu parceiro não depende das atitudes dela própria.

“É igual a história do lobo. Você pega o lobo na floresta, leva para o centro de São Paulo, para um apartamento. Dá mamadeira no bico, biscoito, cria ele na cama, coloca edredom. Dá todo cuidado, igual um cachorrinho. Mesmo assim, quando ele crescer, ele vai uivar, porque ele é lobo, não é cachorro. Assim é o agressor. Você vai levar no psiquiatra, vai chorar, implorar, acreditar, mas um dia ele vai te bater de novo, porque o perfil dele”, insiste o delegado.

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