Mato Grosso

Velório de bebê indígena teve caixão aberto e mais três xavantes pegaram covid-19

Até o dia do enterro, a aldeia não havia sido informada sobre a causa da morte da criança. Dois pacientes estão internados

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Velório de bebê indígena teve caixão aberto e mais três xavantes pegaram covid-19
Fim da tarde em Marãiwatsédé Foto: Adriano Gambarini/OPAN.

A morte de um bebê de oito meses na Terra Indígena Marãwaitsédé, em Mato Grosso, expôs a fragilidade nos atendimentos aos povos indígenas no Estado. De acordo com um relatório da Operação Amazônia Nativa (Opan), a criança teve cerimônia de velório com o caixão aberto. A situação pode ter contribuído para a disseminação na doença nas aldeias.

Marãiwatsédé é umas das terras indígenas mais desmatadas da Amazônia Legal. A área teve mais de 70% da vegetação nativa de seu território convertidas em pasto e lavoura.

Lá, apenas uma Unidade Básica de Saúde Indígena atende os 1.057 xavante da região. Segundo a Opan, a unidade tem déficit no quadro de profissionais e não conta com um médico há, pelo menos, um ano.

A falta de remédios básicos também é citada pela entidade.

(Foto: Jornalistas Livres/Reprodução)

Morte do bebê

O óbito da criança foi registrado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) no dia 11 de maio. O resultado de um exame comprovou posteriormente o diagnóstico para covid-19.

A família, entretanto, contesta. Segundo eles, o bebê nasceu prematuro, de seis meses. Por isso, ele foi retirado da aldeia pela equipe de saúde, com desnutrição e desidratação.

Em função da falta de médico, ele foi levado para Bom Jesus do Araguaia, onde foi entubado sem o conhecimento dos pais. Um dia depois, a criança morreu.

Após o óbito, o corpo do bebê retornou para a aldeia Marãiwatsédé. Como de costume, a cerimônia de velório tradicional foi realizada na casa da família, com caixão aberto.

Por meio de nota, a Fundação Nacional do Índio (Funai), tornou pública a morte em 20 de maio, nove dias depois.

De todo modo, do dia 11 a 19 são oito dias, o que representa uma janela que pode ter aberto a possibilidade de transmissão descontrolada de covid-19 na maior aldeia da terra indígena, com mais de 600 habitantes“, diz trecho do relatório.

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Confirmação e negligência

O resultado do exame do material biológico da criança foi emitido no dia 14 de maio. Até então, familiares e a equipe de saúde não haviam sido notificados sobre a suspeita.

No dia 14 de maio, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) informou sobre uma paciente xavante que havia testado positivo para covid-19. A mulher continua internada em Barra do Garças.

Já no dia 22 de maio, um ancião da TI Marãiwatsédé, com mais de 70 anos, foi internado no município de Água Boa, com insuficiência respiratória. O avô materno do bebê de Marãiwatsédé também teve sintomas, mas permaneceu na aldeia.

Os dois também foram diagnosticados com covid-19.

O que dizem a Funai e a Sesai?

A reportagem do LIVRE entrou em contato com os dois órgãos. Até a publicação desta reportagem nenhum deles, porém, se manifestou. O espaço continua aberto para manifestação.

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