As salas de aula continuam vazias, apenas alguns professores ocupam seus postos para acompanhar os alunos virtualmente. O cenário da pandemia se mantém porque as escolas não têm condições de receber os estudantes.
“É triste ver isso. Eu estudei aqui e era tão diferente, tinha segurança para receber a gente. Agora, é só o descaso”, diz Daniel da Silva Queiroz, 35 anos, empresário e corretor de imóveis, sobre a Escola Estadual Benedito de Carvalho, no bairro CPA II, em Cuiabá.
O colégio é uma das 3 escolas anunciadas pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc) que manteriam as atividades remotas. Inclusive, a própria direção da unidade afirma que avisou a Pasta que não teria como iniciar a modalidade híbrida de ensino.
Do lado externo, grande parte do muro caiu. Ainda de tijolos, restou apenas a parte que leva o nome da escola e os portões de entrada e saída. O cercamento é feito com tapumes de alumínio que ora caem, pendem e precisam ser recolocados.
Onde seriam os fundos da escola, o acesso é completamente livre. Entra ali, quem quiser. O risco é maior próximo ao buraco que abrigaria uma caixa d’água e, hoje, está tomado pelo mato. Com esse acesso indiscriminado, alguém pode se acidentar.
Luiz Solino, diretor da escola, diz que o problema não está apenas no muro. Nas salas, não seria possível seguir o distanciamento social e nem mesmo a abertura das janelas, que foram lacradas após a instalação dos aparelhos de ar condicionado, há alguns anos.
Inclusive, algumas estão com os vidros quebrados.
“Parte do telhado também está comprometida, tem cupim no madeiramento ali no fundo, a fiação também precisa ser reavaliada, afinal, a escola é da década de 1980”, ele enumera os problemas.
A direção afirma que tem cobrado da Seduc a reforma prometida. Mas o compromisso nunca foi efetivado. Agora, como já estavam em ensino online e offline, com as apostilas, a gestão escolar decidiu manter os 600 alunos com as atividades remotas.
“A maioria dos pais já estava ciente que não temos condições de voltar”, reforça Solino.
O diretor informa ainda que, apesar de a Secretaria afirmar que a escola será transferida para um novo local, não há nada documentado ou oficializado quanto a isso.
Memória diferente
O empresário Daniel estudou durante a infância na Benedito de Carvalho. “A minha base escolar foi ali, da 1ª a 8ª série”, lembra. Agora, dois sobrinhos e o enteado, de 11, 9 e 12 anos, respectivamente, tentaram seguir o mesmo caminho. Mas não está sendo possível.
“Eu não permitiria o retorno das crianças, porque, ali não tem condições de manter as medidas de biossegurança contra o coronavírus”, avalia. “Os banheiros não funcionam, as janelas não abrirão”, rebate.
O autônomo Jean Kleber Quinteiro, 45, lembra que a reforma da escola foi anunciada, mas nada foi feito. Enquanto isso, a situação foi ficando cada vez pior até que ele mesmo resolveu buscar ajuda com deputados para tentar solucionar o problema.
“Ali é um risco para as crianças. Qualquer pessoa leiga vê que ali não tem condições de funcionar”, critica.
Na mesma situação
A Escola Estadual Santos Dumont, no bairro Dom Aquino, e a Dom Francisco de Aquino Corrêa, no bairro Jardim Europa, estão na mesma situação.
“O prédio é muito antigo e não tem como os alunos virem”, disse uma pessoa que trabalha na segunda unidade e preferiu não se identificar.
O LIVRE tentou contato com a direção da Santos Dumont, mas a pessoa responsável informou que não poderia responder aos questionamentos naquele momento.
O que diz a Seduc?
A Secretaria de Estado de Esducação informa que as três unidades vão funcionar, de forma provisória, em prédios locados. Os processos para locação já estão em fase final e a mudança será realizada ainda em agosto, quando ocorrerá o retorno das atividades na modalidade híbrida.
A Pasta garante que os processos de construção e reforma geral das escolas já estão em andamento.