Cidades

Pacientes confundem cirurgia bariátrica com opção estética

8 minutos de leitura
Pacientes confundem cirurgia bariátrica com opção estética

A busca pelo corpo perfeito e a “ditadura da magreza” têm feito com que muitas pessoas busquem médicos especialistas em gastroplastia – popularmente conhecida como cirurgia bariátrica, ou cirurgia de redução de esotômago – com fins estéticos, fugindo do real motivo para o tratamento: o excesso de peso.

A obesidade é uma doença que tem atingido milhares de brasileiros – e a má alimentação e os distúrbios alimentares ligados à ansiedade têm colaborado para que os números de obesos no país aumentem.

O LIVRE conversou com o médico cirurgião geral Rogério Cantadori, que já realiza gastroplastia em Cuiabá há 13 anos. Ele afirmou que ainda hoje as pessoas confundem e acreditam que a cirurgia pode ser uma opção estética, mas isso é um erro.

Ednilson Aguiar/O Livre

Rogério Cantadore

Rogério Cantadori é cirurgião geral e realiza Gastroplastia em Cuiabá há 13 anos

“Entre 30 e 40% das pessoas nos procuram por motivos estéticos, por não conseguirem comprar uma roupa, por vergonha, autoestima baixa, mas, na verdade, elas não se encaixam na indicação e nós explicamos isso. 100% dos pacientes escutam o profissional e entendem”, disse o médico.

Quando recebem esse tipo de paciente, os especialistas primeiro tentam entender o motivo que o levou a procurar pela cirurgia e explicam os motivos que podem levar à realização da cirurgia.

“A gente utiliza o que chamamos de Índice de Massa Corpórea (IMC) – peso ÷ altura². Hoje a indicação da Organização Mundial da Saúde é o IMC entre 35 e 39, com comorbidades, que seriam doenças associadas à obesidade, como diabetes, hipertensão, doenças da coluna como a hérnia de hiato, doenças osteoarticulares e doenças metabólicas”, afirmou o médico.

“Hoje a indicação da Organização Mundial da Saúde é o IMC entre 35 e 39, com comorbidades, que seriam doenças associadas a obesidade”

A esteticista Cláudia Nunes, de 41 anos, é um exemplo desses casos. Com IMC de 35,5, Cláudia estava com um grave problema de joelho e, se não perdesse 25 quilos em pouco tempo, passaria a andar de cadeira de rodas.

Ela fez a cirurgia no início de dezembro e, até o momento, já perdeu 11 quilos. Apesar da mudança a estar agradando, ela garante: jamais faria somente por estética.

“A recuperação é tranquila, sem dor, porém, tem que seguir corretamente às orientações médicas e a dieta. De fácil não tem nada, essa cirurgia é uma mudança de vida, mas a pessoa tem que estar consciente de que não é mágica”, disse.

Ela afirmou que os primeiros dias são os mais difíceis, pois a dieta é muito restrita e os gases causados pela cirurgia causam desconforto. Ela espera que com a perda de peso consiga ter uma qualidade de vida melhor e, mesmo com pouco tempo de cirurgia, já tem visto essa mudança.

Cantadori explicou que a estética anda junto com a cirurgia, afinal a melhora é visível, e isso faz com que as pessoas confundam, mas essa jamais será a finalidade. Pessoas com IMC acima de 40, por exemplo, têm a indicação mesmo sem doenças associadas. Já as pessoas em que o cálculo fica abaixo de 35, obesidade considerada grau 1, é possível tratar clinicamente.

“Hoje nós temos uma ferramenta que se chama balão intragástrico. Esse balão fica entre seis meses e um ano e faz um trabalho de reeducação alimentar. É uma alternativa também para os super obesos, que estão muito obesos e têm um risco maior de fazer a cirurgia – então eles colocam balão para poder entrar melhor na cirurgia”, disse.

O cirurgião disse que o Brasil teve uma grande elevação da obesidade nos últimos anos, “tanto que nós somos hoje o segundo em obesidade infantil no mundo”. Para ele, o motivo que levou a esse aumento é a má alimentação do brasileiro, somada à falta de exercício físico.

O Livre

Tabela obesidade

A cirurgia

No Brasil, são liberados dois tipos de cirurgia: o by-pass gástrico e a sleeve gástrica. A primeira é uma mudança do intestino, em que é feito um desvio intestinal, uma cirurgia mais agressiva que pode causar uma desnutrição, devido à perda de ferro, proteínas, vitaminas e sais minerais.

Já a sleeve gástrica é um corte vertical no estômago, em que não é mexido na absorção de nutrientes. Embora muitos pacientes procurem os médicos já com alguma ideia da cirurgia que querem fazer, é o médico quem faz a indicação do melhor para cada caso.

A preparação para a cirurgia envolve profissionais de várias áreas da saúde, com avaliações cardiológicas, endocrinológicas, psiquiátricas, ortopédicas e a análise de possíveis casos de pneumologia. Sendo assim, não basta a indicação do cirurgião.

Segundo Cantadori, uma das avaliações que mais precisa de cuidado é a psiquiátrica, “porque é onde se esbarra nos transtornos de ansiedade, que estão quase sempre associados ao excesso de alimentação; então, é muito importante um tratamento prévio psiquiátrico, tratando esse transtorno da ansiedade”, disse.

Ednilson Aguiar/O Livre

Rogério Cantadore

Cantadori explicou que o emagrecimento é uma parceria entre médico e paciente

Esse tratamento é feito através do uso de medicações, que auxiliarão na mudança alimentar do paciente, fazendo com que ele deixe de “descontar” a ansiedade na comida, controlando o intervalo entre as refeições, a escolha dos alimentos e a quantidade.

Atualmente a cirurgia dura entre uma hora e uma hora e 15 minutos. A evolução da medicina diminuiu o tempo e também os riscos. As maiores complicações hoje são o sangramento pós cirúrgico, as fistulas e a trombose pulmonar.

Depois da cirurgia, a recuperação é feita com orientação nutricional por etapas, que mudam semanalmente, e é criada especificamente para cada paciente. E a orientação psiquiátrica se torna ainda mais pesada, para que o paciente não “burle” a cirurgia.

“Ele volta a comer normal, mas em quantidades menores. Tem alguns que burlam a cirurgia, começam a comer doce, excesso de bebida alcoólica, eles fogem, saem do ritmo e começam a tentar burlar a cirurgia”, contou o cirurgião.

Nesses casos o paciente pode voltar a engordar, afinal, a cirurgia não é definitiva, ajuda em 70%, mas os outros 30% é papel unicamente do operado. “A cirurgia em si não é milagrosa, é uma união entre os dois”.

Paciente de Cantadori operada há dois meses, Cláudia concorda: “tem que estar muito consciente de que é uma parceria entre o médico e o paciente”. Ela afirmou que é importante que, antes de se submeter à cirurgia, a pessoa procure indicações de pessoas conhecidas e só a realize quando estiver totalmente segura quanto ao médico.

Por não ser uma cirurgia estética, a bariátrica é aceita por planos de saúde e realizada até mesmo pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
0
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
0
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
0
Inspirado

Principais Manchetes