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Mãe teme pela vida da filha de 12 anos após ela ser acusada de crimes virtuais

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Mãe teme pela vida da filha de 12 anos após ela ser acusada de crimes virtuais
(Foto:Ednilson Aguiar / arquivo / O Livre)

A mãe de uma adolescente de 12 anos registrou um boletim de ocorrência na delegacia de Polícia Civil em Sinop (500 km de Cuiabá) para denunciar que sua filha vem sofrendo ameaças nas redes sociais depois que uma série de vídeos difamatórios se espalhou pela internet. A menor vem sendo acusada de estar produzindo esses vídeos.

Nas últimas semanas, os vídeos se propagaram nas redes sociais, sempre mostrando as fotos de dezenas de jovens e adolescentes, com legendas pejorativas. Alguns termos que acompanham os vídeos são: “os cornos de Sinop”; “as mais rodadas de Sinop”. Outras frases com xingamentos também aparecem nos vídeos. Além disso, são sempre acompanhados por músicas com letras ofensivas.

De acordo com a mãe, a filha aparece em diversos vídeos. Por isso, ela não entende o motivo das acusações, já que a menina foi exposta tanto quanto as demais vítimas. A mulher enfatizou que a adolescente sempre foi orientada sobre os perigos da internet, pois ela sabe de todos os riscos que a ferramenta traz se não for usada da maneira correta.

“Por medo minha filha só fica trancada em casa, as aulas estão prestes a voltar e ela nem quer ir à escola”, relatou a mãe da adolescente, – que optou por não se identificar.

Algumas das legendas dos vídeos.

Em entrevista, ela relatou como tem sido os últimos dias após as ameaças começarem.

“Depois que as ameaças tiveram início, vários moleques passaram lá na rua que moramos e quebraram as lâmpadas dos postes. Minha filha chora muito, hoje ela não fica nem na frente de casa sozinha”, ressaltou a mãe.

Captura de tela feita de um status do WhatsApp. Uma das pessoas que ameaçou a menina compartilhou a conversa.

A mãe da jovem contou ainda que teme pela integridade física, pela vida da garota e pelos traumas psicológicos que a situação pode acarretar.

“Nossa família toda está com muito medo. Tem um vídeo circulando dizendo que tem que pegar essas meninas que fizeram esse vídeo e raspar a cabeça, e eu tenho muito receio. Agora o medo é maior porque as aulas vão começar. Ontem ela me pediu, por favor, para mudar de escola, pois na que está matriculada ela tem muito medo de que algo de ruim aconteça. Ela nem quer ir à escola. Além disso, ainda tem os traumas psicológicos que isso pode trazer”.

Momento em que a menina é exposta como acusada.

Crimes virtuais

O advogado e secretário da Comissão de Direito Penal e Processo Penal da OAB/Sinop, Fábio Peixoto, explicou o que são crimes virtuais.

“Os crimes virtuais são todos aqueles já previstos na legislação brasileira, porém cometidos na internet. Existem muitos crimes acontecendo em meio virtual, tal como extorsão, estelionato, pedofilia, calúnia, injúria, difamação, entre outros”, relatou o advogado.

Ainda conforme Fábio, a primeira providência a ser tomada por quem for vítima desses crimes é reunir todas as provas possíveis, pois isso auxilia o processo de investigação.

[featured_paragraph]“Primeiramente é necessário reunir todas as informações que possam auxiliar nas investigações, ou seja, deve-se armazenar todos os dados do ato criminoso, como conversas em rede social, troca de mensagens, telas (print-screen), tudo o que apontar o autor e qual o crime cometido”, pontuou. [/featured_paragraph]

Após todas as provas serem colhidas, a vítima deve ir até um cartório e registrar esses arquivos em Ata Notarial. Com isso fica atestada a veracidade dos documentos recolhidos, para que possam ser usados como provas em uma ação penal.

Peixoto ressaltou que as medidas primordiais para não sofrer crimes virtuais são ter cuidados básicos e atenção sobre situações muito vantajosas, além de nunca passar informações pessoais a desconhecidos.

No caso em questão, dos vídeos e das ameaças, ainda existe um agravante, pois várias pessoas foram expostas. Inclusive a adolescente que está sendo ameaçada é menor de idade e, conforme o advogado, o caso entra na esfera de proteção do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

As penas aplicadas dependem de qual crime o autor cometeu, podendo inclusive configurar mais de uma conduta para ser penalizado. Fábio ressalta que até as pessoas que compartilham podem sofrer consequências.

“Quem compartilha responde tanto quanto quem criou. O compartilhamento pode ser classificado como difamação (imputar fato ofensivo à reputação), ou injúria (ofender a dignidade ou decoro), segundo os artigos 139 e 140 do Código Penal. Esses crimes são graves; vale lembrar que existem relatos de que estas exposições vexatórias já atingiram situações extremas, como o suicídio por parte de quem foi ofendido”, disse.

Traumas psicológicos

Segundo a psicóloga Crislaine Ruffato, traumas provocados por exposições desse tipo podem ter interferência direta na vida adulta da pessoa. Existe a chance de a pessoa passar a entender que o ambiente onde vive é inseguro e se tornar mais reativa a ele, impedindo-se de se relacionar e construir suas vivências de forma satisfatória.

Se não houver o tratamento e acompanhamento necessário, as experiências traumáticas podem ser o estopim para uma depressão.

[featured_paragraph] “Depois de um trauma psicológico intenso, a pessoa pode vir a se deparar com a dificuldade de voltar ao seu estado psicológico habitual, e disso passar a ter pensamentos e comportamentos destrutivos. Os sentimentos e o significado da experiência a qual passou podem contribuir para o desenvolvimento de uma depressão, assim como outros transtornos psicológicos”. [/featured_paragraph]

A atenção dos pais é muito importante. Monitorar e orientar os filhos é primordial, tanto quanto para que ele não seja vítima e nem o delituoso. Em caso de exposição, é importante avaliar o ocorrido e procurar imediatamente medidas de intervenção com profissionais, que poderão orientar na melhor forma de proceder no caso.

“É importante compreender que os sintomas desencadeantes de uma vivência traumática podem ser avassaladores quando não tratados adequadamente e a tempo. O mais recomendado é o acompanhamento psicológico por um profissional capacitado. Os efeitos do acompanhamento permitem que a pessoa dê um novo direcionamento e enfrentamento da situação vivida, assim como a reconstrução de processos que direcionarão na qualidade de suas construções e relações”, concluiu.

  

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