A única sobrevivente de um atropelamento que matou dois jovens em frente a boate sertaneja Valley Pub, no dia 23 de dezembro passado, em Cuiabá, poderá ser indiciada por homicídio culposo, isto é, quando não há a intenção de matar. Segundo o delegado titular da Delegacia Especializada em Delitos de Trânsito (Deletran), Christian Cabral, apenas o resultado das perícias poderão afirmar se há culpa ou não. Hya Girotto, de 21 anos, ficou em coma, passou por cirurgias e recebeu alta nesta semana.
De acordo com o delegado, diversos fatores deverão ser levados em consideração para o resultado final da perícia, entre eles uma análise minuciosa das imagens do acidente. Apesar disso, ele afirma que, caso fosse feita uma consideração superficial, a jovem universitária poderia, sim, ser culpada pela morte dos amigos.
Pelas imagens é possível ver que Hya esteve com um grupo de amigos na porta da boate momentos antes do acidente. Durante os minutos do vídeo, a jovem faz diversas brincadeiras na rua. O atropelamento acontece, porém, mais ao final, depois que o casal de amigos atravessa e Hya retorna para a rua para dançar. Quando a dupla volta para buscá-la, é atropelada.
[featured_paragraph]“Numa análise inicial das imagens, a gente vê que ela teve um comportamento inapropriado na hora da travessia. Ela estava dançando sobre a via. Inclusive um veículo que parou na faixa próximo ali, um veículo branco, parou por causa dela, e isso estreitou a faixa de circulação”, explicou Christian.[/featured_paragraph]
“A perícia pode chegar a conclusão que, mesmo que a Rafaela [condutora do veículo] estivesse com sua capacidade psicomotora adequada, na velocidade adequada, não teria sido possível evitar o acidente, apesar de ser previsível porque não tinha para onde ela ir”, finalizou.
O delegado aponta ainda que outras imprudências também foram visíveis no vídeo. À exemplo, citou diversos carros estacionados à esquerda da via, onde é proibido. Ele também observou que a boate, ainda que de madrugada, utiliza uma faixa de rolamento, o que também é proibido.
“Se todos tivessem respeitado os seus deveres, às vezes, mesmo a Rafaela estando embriagada e dirigindo em alta velocidade, ela teria condições de ver, com uma distância razoável, as vítimas na rua e de desviar delas. Mas ali não tinha como desviar”, observou.
Apesar dos apontamentos, o delegado garante que, hoje, a sobrevivente não tem chances de ser indiciada, considerando apenas os depoimentos. A culpabilidade só será aplicada caso o laudo da perícia técnica revele o fato. Nesse caso, a jovem passaria a responder o processo criminal junto da condutora do veículo, Rafaela Screnci.
O caso
O atropelamento aconteceu na madrugada do dia 23 de dezembro, quando Hya e seus amigos, Ramon e Myllena, estavam saindo da boate. Por volta das 6 horas da manhã, Rafaela Screnci Ribeiro descia com seu veículo, supostamente em alta velocidade, pela avenida Isaac Póvoas, quando acertou o trio.
A motorista foi presa e dias depois teve o valor da fiança aumentado pela Justiça, passando de R$ 9 mil, para R$ 28 mil, atendendo a um pedido do Ministério Público.
No dia do acidente, o LIVRE conversou com uma testemunha, que presenciou o acidente e contou a sua versão do atropelamento.
Um vídeo, de câmeras de segurança, mostra o grupo com outros amigos na porta da boate momentos antes do atropelamento. As imagens também captaram o acidente.
Devido ao impacto da batida, Myllena de Lacerda Inocêncio, de 22 anos, morreu poucas horas depois. Já Ramon Viveiros, de 25, chegou a ser socorrido e foi transferido para um hospital particular. Ele passou por uma cirurgia, mas seu quadro se agravou dias depois e ele acabou não resistindo aos ferimentos.
