Terça-feira, 9 de março de 2021, fim de tarde e expediente em Cuiabá. Ônibus lotados transportam os trabalhadores que voltam para casa. Nada muito diferente do horário de pico de qualquer outro dia, se as máscaras não denunciassem a pandemia de covid-19 que avança em todo o país.
O transporte coletivo da Capital tem sido alvo de críticas e apontado como um dos responsáveis pela segunda onda da doença. Nas ruas, a reclamação de quem depende dos ônibus gira em torno da lotação e da quantidade de ônibus circulando.
“Como manter distanciamento dentro de um ônibus lotado? Como não pega covid assim?”, questiona a auxiliar de serviços gerais, Késia Pereira, 34 anos. Na Praça Maria Taquara, na região central, ela aguardava há duas horas a linha 730.
Segundo ela, o intervalo entre os veículos está parecido com o de feriados, quando a frota é reduzida. “O prefeito fala em ter paciência, esperar o próximo ônibus se tiver lotado. Esperar por mais quantas horas? Chega a ser engraçado”, ela critica.
Para a Câmara de Vereadores, a prefeitura faz “vista grossa” sobre a lotação e “passa a mão na cabeça” dos empresários do setor.
Na semana passada, os vereadores Michelly Alencar (DEM) e Dilemário Alencar (Podemos) propuseram multa de R$ 60 mil aos empresários que não disponibilizarem 100% da frota. A proposta deve tramitar como projeto de lei.
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Na segunda-feira (8), o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) foi questionado sobre o problema. Para ele, pulverizar o número de passageiro depende do comportamento dos próprios usuários do serviço.
“O que eu posso fazer? No ano passado, eu reduzi gradativamente para 70%, 30% a circulação dos ônibus e me criticaram. Agora, eu liberei 100% da frota e estão criticando de novo, porque os ônibus estão lotados. Evitar ônibus cheio depende da consciência de cada um, eu não vou baixar decreto para marmanjo não lotar os ônibus”, disse.
Principal causa de transmissão
Enquanto conta o dinheiro, a vendedora dos passes diz que os ônibus estão lotados e que “a coisa tá feia”. O troco é entregue para a passageira e não há luvas e nem álcool em gel para proteção. Já dentro do ônibus, não apoiar-se nos corrimãos é quase impossível.
Além dos ônibus lotados, os passageiros enfrentam fila para entrar nos veículos.
Há quem crie estratégias para (tentar) diminuir as chances de contágio, como um idoso que fica do lado de fora da Estação Ipiranga, na praça com o mesmo nome, na região central. “Espero o ônibus chegar, só depois entro. Não vou ficar no meio dessa gente toda”, explica.
Para os especialistas em saúde, o uso intenso do transporte coletivo é uma das principais de causas de transmissão de vírus. A rotação constante de passageiros, de diferentes bairros, em contato corpo a corpo ou indireto, pelos corrimãos, facilita a infecção.
O que diz a MTU?
À reportagem, a Associação Mato-grossense dos Transportadores Urbanos (MTU) afirmou que os ônibus são higienizados a cada viagem. Além disso, álcool em gel é disponibilizado aos usuários em cada veículo.
“O importante é que cada passageiro tome os devidos cuidados”, diz a nota da instituição.