24 de fevereiro de 2019, o calvário de quem transporta a safra mato-grossense de soja volta a se repetir ao longo da BR-163, no Pará, às vésperas do Carnaval. O drama é antigo, já foi acompanhado de perto pelo LIVRE em 2017, e cenas idênticas se repetiram em 2018.

Hoje, 2º de março de 2019, marca o sétimo dia de trânsito interrompido na principal via de acesso aos portos do Arco-Norte. O ponto crítico fica entre o Riozinho da Arraias e Morais de Almeida. São apenas 28 quilômetros, mas o tempo de espera para tentar cruzar esse curto trecho chega a 44 horas. E nada garante que o caminhoneiro vá conseguir subir a “serrinha do Moraes”, onde a pista se torna extremamente escorregadia.

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Estimativa da prefeitura de Novo Progresso (1.060 km de Cuiabá-MT) aponta que cerca de três mil carretas estão “presas” na região. Enquanto uns motoristas querem retornar aos lares, outros tentam, em vão, correr contra o tempo para entregar a oleaginosa em perfeitas condições nos portos.

A paciência de quem espera em meio ao calor, à lama, e à chuva vai se esgotando e acidentes provocados muitas vezes por imprudência vão sendo registrados. Outros motoristas tentam furar a fila de caminhões e as filas duplas trancam a via nos dois sentidos.

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O vice-prefeito de Novo Progresso, Gelson Dill, alerta que não há mais espaço às margens da rodovia para pouso, muito menos nos postos ao longo do trecho. Ele cita que está em busca ao menos de banheiros químicos para os trabalhadores que devem permanecer por dias parados. “Mas por enquanto não temos como atender isso, não temos nenhum prestador de serviço que consiga atender essa demanda aqui”, lamentou.

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Outra preocupação do gestor público é o impedimento de serviços básicos como o acesso à saúde e educação. A população dos vilarejos e municípios muitas vezes fica “ilhada”. Ambulâncias não conseguem transitar, ônibus intermunicipais também não. E as crianças estão há sete dias sem conseguir chegar até a escola.

O motorista Vanderley Del Sent dessa vez não foi para o trecho, mas o neto dele seguiu rumo ao Distrito de Caracol, outro vilarejo próximo ao ponto interditado. Ele explica que não há atoleiros. O problema é a serra, local onde a pista de terra é íngreme e bem escorregadia. As carretas carregadas, algumas com 57 toneladas, não conseguem subir.

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Em meio a tantos pedidos de notas, respostas à população e entrevistas, o Departamento Nacional Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) enviou ao LIVRE o endereço de um site onde agora disponibiliza – em tempo real – as condições da via. O andamento das obras, o tempo de espera e os bloqueios podem ser vistos aqui.

Seria uma comodidade para quem está na via, no entanto, em muitos trechos sequer há sinal de telefonia. Alguns estabelecimentos comerciais e postos disponibilizam rede Wi-fi. Caso o caminhoneiro ainda tenha bateria no celular, é um alento poder conversar com a família e compartilhar os vídeos e fotos do caos em grupos de caminhoneiros.

No final da tarde dessa sexta (1º), cerca de 100 carretas conseguiram atravessar o ponto crítico, segundo informações de moradores que residem em chácaras próximas à via. “São caminhões descarregados que estão voltando de Miritituba (PA). São poucas carretas em relação ao número das que seguem aguardando liberação e condições de trafegabilidade”, comentou Gill.

Para piorar, a previsão é de chuva na região até a próxima quinta-feira (7).

A colheita da safra de soja 2018/19 está sendo finalizada em Mato Grosso, onde mais de 87% dos 9,6 milhões de hectares já foram colhidos.

Com mais de 40 anos de existência, a BR-163 se tornou a principal rota para o escoamento da produção agrícola mato-grossense. Em fevereiro do ano passado, alguns caminhoneiros ficaram parados no mesmo ponto e próximo ao Trairão.

No início do ano de 2017, em uma série de matérias especiais, o LIVRE acompanhou o drama de famílias inteiras, que pararam distante de municípios e acabaram ficando sem água, comida e até mesmo sem leite para crianças.

 

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