Cidades

Tradição da cerâmica está ameaçada pela falta de interesse dos jovens

São Gonçalo Beira Rio, berço desse tipo de artesanato, tem apenas oito profissionais em atividade

4 minutos de leitura
Tradição da cerâmica está ameaçada pela falta de interesse dos jovens
(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Quebrar o barro, sovar, modelar, raspar, alisar, pintar e queimar. Estas são as etapas para confecção de uma cerâmica artesanal. Um trabalho duro, demorado e que não tem um retorno financeiro imediato.

Por conta disso, os jovens não se interessam pela técnica ancestral das ceramistas da comunidade de São Gonçalo Beira Rio, que é o berço deste tipo de artesanato e tem apenas oito profissionais em atividade.

Alice Conceição é presidente da associação de ceramistas e diz que tem amor pela atividade (Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

A presidente da Associação de Ceramistas do São Gonçalo Beira Rio, Alice da Conceição Almeida, conta que a idade das integrantes do grupo está entre 50 e 60 anos. A maioria aprendeu o ofício dentro de casa por necessidade e com o tempo passou a amá-lo.

“Os jovens não querem fazer e esperar vender. Eles querem aquele dinheiro certo no final do mês”, argumenta.

LEIAM TAMBÉM:

Atualmente, grande parte da produção vai para a loja de artesanato da comunidade. Lá, as peças ficam expostas para admiração dos clientes, que muitas vezes são de fora do Estado.

“Quem é de fora gosta de levar como lembrança para familiares e amigos. Já os daqui, acham caro ou feio, não gostam”, comenta.

Com relação ao preço, Alice explica que chega a ser inferior ao trabalho para se fazer cada peça.  Elas são preparadas ao logo dos meses e quando se completa a quantidade suficiente para queimar no forno de barro, vão para finalização.

Ela e uma amiga, por exemplo, conseguem fazer a queima a cada 3 meses. Mas, tem outras artesãs que fazem o processo mensalmente.

A quantidade de peças por vez depende do tamanho do forno. No dela, cabem cerca de 70 peças, porém existem estruturas maiores, com capacidade para 100 unidades.

Os ganhos

As ceramistas expõem os produtos na loja da comunidade e recebem aquilo que é vendido. Aí, os ganhos, geralmente, não passam de um complemento de renda.

“Às vezes dá R$100, R$ 200, mas já teve vez de eu tirar R$ 1 mil por mês”, relata.

Peças pequenas vendem com mais facilidade para os turistas porque são fáceis de embalar (Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Os artigos com mais saída geralmente são os menores, pois podem ser embalados e colocados na mala com facilidade. Além do mais, o dinheiro do turista rende, já que ele pode comprar mais presentes e agradar mais amigos.

Então, as galinhas, cururueiros, canecas, farinheiras e moringas estão na lista de predileções.

No que diz respeito aos artefatos maiores, existe uma demanda muito grande pelo pote. No entanto, a ceramista que fazia esse produto abandonou o ofício. A família dela abriu uma peixaria e como o negócio era mais viável economicamente, ele optou pelo restaurante.

“Ela já tinha uma certa idade. O trabalho com cerâmica é pesado e de restaurante também. Por esse motivo, precisou escolher”, conta Aline.

Como tudo começou

Alice diz que aprendeu a fazer cerâmica com a mãe. Naquela época, quase todas as famílias da comunidade desenvolviam a atividade.

Nem todos tinham forno para queimar as peças e, por esse motivo, pediam emprestado para o vizinho.

O trabalho era muito pesado porque além de ir atrás do barro, também era preciso pegar a lenha no mato para abastecer o forno, construído com tijolos e barros.

Peças são modeladas com as mãos da profissional, o que fazem cada uma delas única (Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

“Acho que a primeira peça que vendi foi uma panelinha. Mas, não peguei o dinheiro porque minha mãe vendia tudo junto e o que ganhávamos era para pagar as contas da casa”, lembra.

A ceramista diz que sente saudades daquele tempo. Quando muitas pessoas produziam e várias peças era confeccionadas. Ela acredita que a arte não vai acabar por completo, mas não seguirá para a forma tradicional, de modelagem com as mãos.

“Tem muita gente usando torno. Quem sabe trabalhar faz qualquer peça nele e com mais rapidez. Não tem motivo para gastar horas fazendo com as mãos”, finaliza.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
0
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
0
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
0
Inspirado

Principais Manchetes