Eleito governador de Mato Grosso empunhando a bandeira do combate à corrupção, Pedro Taques (PSDB) teria montado um esquema de desvios de dinheiro público ainda na campanha eleitoral de 2014, e que teria reflexos logo no primeiro ano de governo, em 2015. Detalhes do esquema vieram a público nesta sexta-feira (19), com o fim do sigilo da delação do empresário Alan Ayoub Malouf, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em abril.

“Alan Malouf revelou dados de um esquema complexo de arrecadação de verbas para campanhas eleitorais, notadamente para a formação de ‘caixa 2’ para a campanha eleitoral de Pedro Taques”, afirma a procuradora-geral da República Raquel Dodge em petição endereçada, no início deste ano, à então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármem Lúcia.

Segundo a delação, além de dar um “retorno” àqueles que ajudaram a pagar a milionária campanha de Taques, o objetivo dos organizadores do esquema era quitar dívidas da campanha eleitoral vitoriosa do deputado federal Nilson Leitão (PSDB-MT), em 2014, e ainda “retirar um mensal por fora”. Leitão hoje é líder do PSDB na Câmara Federal e foi candidato a senador derrotado em 2018.

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A ideia dos articuladores era muito simples: empresários que deram dinheiro para a campanha eleitoral teriam contratos com o governo Taques a partir do ano seguinte, ou receberiam o dinheiro de volta por meio de esquemas, como o descoberto na Operação Rêmora, que fraudou licitações para construção e reforma de escolas públicas.

A operação foi conduzida em 2016 pelo Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual, quando “apenas” cerca de R$ 400 mil haviam sido desviados. A investigação levou à prisão do ex-secretário de Educação Permínio Pinto (PSDB) e culmina agora na delação de Alan Malouf.

“Alan Malouf afirma que o esquema de desvios de verbas públicas, por meio de fraudes a licitações, teve início com a nomeação de Permínio Pinto na Secretaria de Estado de Educação (Seduc). Acrescenta que o responsável pela indicação do secretário e beneficiário do esquema seria o deputado federal Nilson leitão”, diz a procuradora.

Alan Malouf, que na delação diz que exercia a função de “tesoureiro informal” da campanha de Pedro Taques, diz que os “empresários-amigos” do futuro governador eram Marcelo Maluf, Erivelton Gasques, Fernando Minosso, Juliano Bortoloto e Eraí Maggi, este último primo do ministro da Agricultura Blairo Maggi (PR).

“Os simpatizantes ainda tinham o encargo de arregimentar outros empresários dos setores de atuação”, narra a delação.

Empréstimos consignados

Além do desvio de dinheiro para escolas estaduais, a delação aborda outros esquemas relacionados à formação do caixa 2 da campanha de Pedro Taques a governador, em 2014. Segundo Malouf, uma das empresas que doou ilegalmente para a campanha, em troca de manutenção do contrato no governo Taques, foi a Consignum.

A empresa gerencia margem de empréstimos consignados aos servidores estaduais e foi alvo da Operação Sodoma, que desmantelou esquema montado no governo anterior. Willians Mischur, o proprietário, confessou que pagava pelo menos R$ 500 mil por mês em propina ao ex-governador Silval Barbosa e sua cúpula para manter o contrato.

Malouf disse que o empresário doou R$ 900 mil à campanha de Taques, dos quais R$ 500 mil foram pagos em espécie a Paulo Zamar Taques, primo do governador, e R$ 400 mil por meio de cheques. O contrato prosseguiu por 20 meses do atual governo antes de ser substituído por um sistema do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), que não traz custo ao Estado.

A delação de Alan Malouf, obtida em primeira mão pelo LIVRE, tem 20 anexos, cada um relatando um suposto episódio do esquema fraudulento.

O fim do sigilo da delação foi decretado pelo ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Outro lado

O governador Pedro Taques, por meio de nota, nega a prática de caixa 2 em sua campanha de 2014, além de ressaltar que não é réu na Operação Rêmora e que terá direito a ampla defesa nos autos.

Veja na íntegra a nota encaminhada ao LIVRE.

“Conforme já declarado desde 2016, o governador Pedro Taques nega a prática do chamado “Caixa 2” em sua campanha eleitoral ao Governo de Mato Grosso em 2014 e tampouco autorizou vantagens indevidas a qualquer empresa durante o exercício do mandato. Apesar de citado por delator em acordo de delação premiada, Taques não é réu no processo da chamada “Operação Rêmora” e terá direito a ampla defesa nos autos. O governador já constituiu advogados para atuar no processo e garantir que a verdade prevaleça”.

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