Política

De onde vem a violência presente na política brasileira?

Cenário de polarização tem a ver com a imaturidade brasileira em lidar com seus problemas e o potencial de agressividade humana

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De onde vem a violência presente na política brasileira?
Velório do tesoureiro petista assassinado

A política brasileira ficou marcada nos últimos quatro anos por dois fatos de extrema violência: a facada no então candidato à presidência, Jair Bolsonaro (PL), em 2018, e o assassinato, no início deste mês, do sindicalista Marcelo Aloizio de Arruda, filiado ao PT. 

Ambos os crimes aconteceram em situações que o contexto político foi o mais ressaltado, num momento de tensão da polarização no país. Os atritos podem ser mais antigos que se imagina e chegaram a um contexto de luta campal, que pode se intensificar com o início da campanha eleitoral, em meados de agosto. 

O analista político Onofre Ribeiro diz que a polarização política no país começou como uma disputa eleitoral entre partidos e evoluiu para um choque de “manadas descontroladas sem a figura do líder para apaziguar os ânimos”. 

“Ao contrário, as figuras em destaques são oportunistas. Elas tentam tirar proveito da situação para mostrar ao adversário que tem mais força. Se um acende um palito, outro acende uma tocha”, comenta.

(Foto: Reprodução/Instagram)

De partidos aos conflitos nas ruas 

O analista faz retroceder o histórico ao fim da década de 1990, quando PSDB e PT disputam o controle político do Brasil. De um lado, o então presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) como representação de uma política voltada para a economia liberal, e do outro o então futuro presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com proposta de controle maior do estado à economia. 

FHC exerceria mais um mandato e Lula e Dilma Rousseff (PT) trocariam o comando pelos próximos 16 anos.  

“Depois daquela disputa acirrada entre a Dilma e o Aécio [Neves] no segundo turno [em 2014], a Dilma venceu, e o discurso dela, ao lado do Lula no palanque, foi característico da situação hoje. Ela venceu e não disse vamos cada um lamber suas feridas para tentar governar adiante, ela disse ‘nós vencemos porque somos os melhores, vamos colocar fogo no país’”, comenta. 

Segundo ele, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem influência desse contexto e acrescentou o tempero explosivo militar. Paralelamente, a participação dos brasileiros, principalmente dos filiados a partidos, aumentou também por outros motivos e entramos no cenário de solução de ataques físicos. 

A temperatura já esteve alta nas campanhas eleitorais de 2014 com conflito entre manifestantes entre apoiadores de Dilma Rouseff e Aécio Neves e nos anos seguintes o calor continuaria a intensificar. 

“Tanto a facada no Bolsonaro quanto a morte do sindicalista em Foz do Iguaçu não tem elementos que indicam a participação das figuras políticas no país, e eu não vejo como algo plausível. Mas, o contexto político nosso hoje é de matilha fora do controle. E não está só assim em São Paulo, Rio de Janeiro; a situação é a mesma em Cuiabá, em Livramento, Poconé. E inevitavelmente vai aumentar nas campanhas eleitorais”, pondera. 

Ecos de Maquiavel

O cientista político João Edisom afirma que um aspecto marcante da política brasileira são os traços personalista e individual. São não característica exclusivas, o perfil pode ser traçado pelas influências europeias, mas se fortalecem num cenário com potencial da violência física. 

“Itália já passou pela mesma situação que estamos passando agora, é uma política unida às características mais rasas do ser humano, o que não dá certo na política onde se deve buscar contornar os problemas. Mas, os brasileiros não têm maturidade, posam como bons cidadãos em alguns aspectos para esconder o lado mal”, diz. 

As características são maquiavélicas, no sentido conceitual do termo. Segundo o cientista, basicamente, somos grupos sectários que tentam dominar os outros por imposição pura da força. Aquele que sai vencedor controla o território até que o um novo grupo devolva o golpe. 

“Preste atenção que a situação está caótica, com as figuras políticas acusando os adversários, mas quando a mesma coisa ocorre no grupo no qual elas estão, a situação vira e elas tentam abafar, colocar panos quentes. É a política do ódio”, comenta. 

A campanha eleitora de fato será liberada no calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a partir da segunda quinzena de agosto. E até a semana de ida às urnas, no começo de outubro, os candidatos poderão ir às ruas pedir votos.  

A perspectiva dos estudiosos é que os próximos meses devem ser tensão, com grande potencial de a política descambar para a luta campal.

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