Os números mostram o que os cuiabanos já sabem, choveu pouco este ano em relação ao ano passado. Conforme os dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) em Mato Grosso, entre janeiro e abril, foram 430,3 milímetros de chuva, um número 37% inferior ao ano passado, quando se registrou 691,1 milímetros.
Então, podemos concluir que, este ano, Cuiabá – mais uma vez – fará jus ao título de “Cuiabrasa”, já que a estiagem – entre os meses de maio e setembro – tende a castigar.
Vale lembrar que a redução das chuvas não é algo que vem de hoje. Se considerarmos que em 2019 foram registrados 821,4 milímetros e compararmos aquele ano a este, teremos uma redução de 47% no volume de água.
Mas afinal de contas, o que está acontecendo?
Professor e doutor do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Rodrigo Marques explica que existe uma série de questões a serem observadas e elas incluem as mudanças no clima e o agravamento da percepção da mudança por conta da ação do homem.
Marques assegura que não podemos esquecer, antes de qualquer avaliação, que, em Cuiabá, os períodos de chuvas e estiagem sempre aconteceram, sendo que entre outubro e abril, aumentam as precipitações. Já entre maio e setembro, elas ficam raras.
Historicamente, no primeiro período se concentram 90% das chuvas previstas para o ano e, no segundo, os outros 10%.
O clima
O ano passado, que teve uma seca excessivamente pesada e atípica, foi tomado por uma série de fenômenos nos sistemas que determinam o clima. O primeiro deles foi a presença, ao longo do ano, de vários anticiclones a cerca de 5km da superfície.
Eles jogam ar para baixo e geram uma pressão, que impede a chegada das nuvens. Sem água, a temperatura sobe e se intensifica por conta da compressão das moléculas abaixo do anticiclone.
E, lembrando os livros escolares, a temperatura é a movimentação de moléculas dos corpos, não é mesmo?
A compressão das moléculas fez os termômetros registrarem até 44º C embaixo da sombra.
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Paralelo a isso, o ano passado também teve uma movimentação das massas polares, que tomaram caminhos mais ao Sul, e o bloqueio atmosférico na Argentina. Ou seja, quem trazia chuva e um pouco de frescor ficou no trajeto.
O professor lembra que é comum ter os anticiclones no período de estiagem, não durante as chuvas, mas, pelo jeito, este ano se repetiu.
Marques adverte que ainda não dá para saber se a situação será uma constante porque, quando o assunto é clima, as organizações internacionais acreditam que é necessário se analisar pelo menos 30 anos os dados para se descrever um ciclo e suas repetições.
Mas não adianta colocar tudo na conta do clima
As mudanças climáticas não são culpadas por tudo que vivemos no ano passado. Ela apenas contribuiu, já que a fumaça que tomou conta do ar em 2020 não foi produzida pelo calor e, sim, por queimadas e incêndios florestais criminosos.
O doutor fez estudos do ar em Cuiabá durante a estiagem e conseguiu comprovar que as partículas tóxicas liberadas pela fumaça fazem com que o ar fique mais poluído que o ar de São Paulo.
Aliado a isso, tem a questão da redução da água disponível porque os reservatórios não conseguem se restabelecer com a pouca chuva. A água não cai do céu e a da terra acaba passando por processos que envolvem o homem.
Em busca da modernidade, áreas são drenadas, calçadas recebem uma série de intervenções que comprometem o futuro. E, levando em consideração o funcionamento sistêmico do clima, é preciso lembrar que grande parte das chuvas que chegam ao Centro-Oeste e Sudeste se formam pela evaporação da Amazônia, que está sendo desmatada.
Nesse ritmo, toma-se outro destino a discussão. A chuva não chega, quando chega é pouca e não consegue encher os rios.
Economicamente, isso é péssimo, sem a irrigação natural que “São Pedro” manda, os produtores começarão a investir em irrigação.
A irrigação vem dos rios que abastecem as cidades. Sendo assim, logo o setor agrícola vai competir pela água com as cidades.