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Após cinco anos ao lado de esposo, mulher descobre que ele nunca existiu

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Após cinco anos ao lado de esposo, mulher descobre que ele nunca existiu
Ilustração/Pixabay

Era dia 17 de abril de 2019 quando a Polícia Militar de Sapezal (480 km de Cuiabá) prendeu um homem por dirigir embriagado. Parecia ser só mais um caso de imprudência no trânsito e que, felizmente, não havia acabado em tragédia. Porém, quando o suspeito foi interrogado pelo delegado Valmon Pereira da Silva, uma história de mentiras envolvendo um assassinato e muitos anos de farsa começou a ser descoberta.

O primeiro crime

No dia 6 de agosto de 2013, por volta das 14 horas, Francisca Ferreira Lima foi assassinada por seu então marido. O feminicídio aconteceu na propriedade rural em que os dois moravam, situada no Ramal do Cemitério, Distrito de Nova Califórnia, Rondônia.

Segundo a denúncia do Ministério Público Estadual de Rondônia, feita ainda em 2013, que levou em conta o inquérito policial, o marido da vítima, Sidinei Camilo da Silva chamou Francisca no quintal da casa e, assim que ela saiu, atirou nela pelas costas.

A mulher morreu ainda no local, não havendo tempo de receber qualquer tipo de socorro. Depois do assassinato, ele fugiu e, por pelo menos seis anos, ninguém teve qualquer notícia dele.

A nova identidade

Sidinei fugiu para Sapezal, em Mato Grosso, onde deu início a uma nova vida. Ele enterrou o passado com a esposa, criou uma nova identidade e passou a viver com o nome de “Manoel Ferreira dos Santos”.

Em Rondônia, Sidinei passou a ser considerado foragido da Justiça, já que ninguém tinha qualquer sinal de onde ele poderia estar.

Em Sapezal, por sua vez, ele viveu sem nenhum documento, trabalhando por seis anos como lenhador diarista. Ali conheceu uma nova mulher, com quem viveu por mais de cinco anos e teve dois filhos – uma menina hoje com quatro anos e um menino de dois.

Segundo o delegado Valmon Pereira da Silva, da delegacia da Polícia Civil de Sapezal, a nova companheira nunca soube do passado do homem que chamava de marido.

A Polícia Civil chegou a investigar se a segunda mulher realmente não teria sido cúmplice do suspeito, mas chegou à conclusão de que ela e os filhos eram somente novas vítimas de Sidinei.

Sidinei Camilo da Silva (na foto) viveu ao menos seis anos como Manoel Ferreira dos Santos

A prisão e a descoberta

Depois de seis anos vivendo como um cidadão comum – porém, sem documentos –, Sidinei foi preso pela Polícia Militar ao ser flagrado dirigindo alcoolizado em Sapezal, fazendo ziguezague na rua.

Vizinhos e até mesmo familiares da esposa dele, que estavam vendo a cena, acionaram a polícia temendo que algo de pior acontecesse. Os policiais chegaram, constataram a embriaguez e o encaminharam para a delegacia.

Sininei, assim como vinha fazendo há anos, apresentou-se como Manoel Ferreira dos Santos e, como estava sem documentos, os policiais somente puderam acreditar.

Porém, no dia seguinte, quando o delegado Valmon Pereira da Silva foi ouvi-lo, a verdade começou a aparecer.

“Na hora do interrogatório a gente começou a questioná-lo sobre familiares, nome do pai, da mãe, ele começou a se contradizer, até que resolveu falar a verdade”, contou o delegado ao LIVRE.

Segunda esposa e vítima

A surpresa não veio apenas para a polícia, que quando ouviu a história, contada bem por cima – já que Sidinei se recusou a falar detalhes – descobriu o mandado de prisão em aberto da Justiça de Rondônia.

Sua nova mulher também foi pega de surpresa. Ela contou à polícia que já convivia com o suspeito desde 2013 e que tinham dois filhos, mas que nunca haviam casado no papel e ele não registrou nenhuma das crianças, que tinham apenas o nome da mãe nos documentos.

“Ele sempre falava pra mãe das crianças que ia pegar a segunda via dos documentos dele no estado de Rondônia, sempre inventava uma história para não registrar as crianças”, disse o delegado Valmon.

Em depoimento à Polícia Civil, a mulher contou que o marido nunca foi preso durante todos os anos em que viveram juntos e, talvez por isso, o passado dele nunca tenha sido descoberto.

Isso não significa, no entanto, que em Sapezal ele teve uma vida idônea. Em seu relato para o delegado, a mulher contou ser vítima de violência doméstica há muitos anos, mas que nunca teve coragem de denunciar o marido.

(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Destino incerto

Depois que toda história veio à tona, a Justiça de Rondônia foi informada sobre a prisão de Sidinei e tentou recambiá-lo, onde ele deve cumprir a pena da condenação por homicídio qualificado por feminicídio.

A Justiça de Sapezal, porém, negou a transferência e ele segue preso no presídio de Campo Novo do Parecis (404 km de Cuiabá).

Em Sapezal, o delegado Valmon Pereira da Silva pediu pelo indiciamento de Sidinei pelos crimes de falsidade ideológica, embriaguez ao volante e direção perigosa.

Como segue em Mato Grosso, Sidinei ainda vive um pouco mais tempo como “Manoel” – e a Justiça de Rondônia aguarda sua transferência para que ele comece a pagar pelo crime cometido em sua quase outra vida.

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