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Acesso ao cinema? Conheça 12 iniciativas que promovem a telona em MT

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Acesso ao cinema? Conheça 12 iniciativas que promovem a telona em MT
Circulando por cidades mato-grossenses, o Cine Sesc promove exibição de filmes ao ar livre. O registro é de Lucas do Rio Verde

Precisa ter vontade, entusiasmo e iniciativa para transformar a realidade. E a arte pode ser uma boa ferramenta. É nisso que acreditam realizadores locais que se empenham em uma incansável cruzada com objetivo de formar plateia para o cinema. E, por muitas vezes, promover o primeiro contato.

Eles estão distribuídos por vários pontos do Estado, movimentando a rotina de escolas, universidades, comunidades rurais, praças de cidades do interior e até hospitais.

Apaixonados pelo cinema e loucos para compartilhar a magia da sétima arte, eles fazem a diferença quando o objetivo é democratizar o acesso do cinema no Estado. A proposta de redação deste ano, do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), provocou a sondagem de importantes projetos que promovem a exibição gratuita, capacitação e produção de filmes.

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De acordo com um dos realizadores mais devotos, o produtor cultural Diego Baraldi, as ações se multiplicam para além de salas de cinema comercial – e o conteúdo diferenciado revela novas possibilidades.

“Muita gente nunca viu um filme de Mato Grosso, por exemplo. Este ano perguntei em todas as sessões nas quais exibi produções regionais se alguém já havia visto filmes de produtores locais. Quando muito, uma minoria viu, ou sabe que existe. Além disso, encontrei gente que nunca entrou em um cinema. Aqui mesmo em Cuiabá, muitos nunca foram ao Cine Teatro, ao Sesc e tampouco ao Cineclube Coxiponés – que já tem 42 anos”.

Mas graças a Diego e a outras dezenas de realizadores, o cenário vai se transformando.

Confira um dossiê com iniciativas que merecem destaque.

1. Cinema Circulante

Quando não está na temporada de Papai Noel – que começa já em novembro – o ativista dos livros e cinema Clóvis Matos circula pelo Estado com a biblioteca móvel do projeto Inclusão Literária. Junto vão também o computador, projetor e tela em que exibe – em boa parte a moradores da zona rural -, ao ar livre, produções com assinatura de realizadores mato-grossenses. Alguns títulos incluídos são frutos de oficinas que resultaram em vídeos produzidos junto a comunidades por onde passaram.

O que move o projeto é a vontade que ele e Epaminondas Carvalho têm, de levar a magia do cinema a lugares em que muitas pessoas só conhecem os filmes, quando eles passam na TV. E olha lá! Desde a década de 1980 o Cinema Circulante promove a divulgação do cinema e da literatura regional por várias paragens. Ao longo dos anos também contou com a companhia e apoio de muitos outros entusiastas.

2. CinePense

O cineclube sinopense – num trocadilho – ocupa um auditório do campus da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Toda quinta-feira tem sessão na hora do almoço e no fim de tarde para atrair universitários – boa parte deles estuda em horário integral. Começou como uma atividade durante uma greve e a primeira exibição foi ao ar livre em frente à guarita da universidade.

A servidora técnica Carolina Gouveia é a responsável pelas atividades. Graças ao apoio da instituição e da professora Elaine Dione Venega da Conceição, hoje o cineclube de Sinop (500 km de Cuiabá) tem espaço fixo e equipamentos de projeção. Vinculado ao Rec, costuma exibir produções universitárias nacionais e regionais. Olha só como foi animada exibição especial que celebrou o Dia das Crianças.

3. Cineclube Zumbis

Outra iniciativa de Sinop guarda uma curiosidade: celulares são permitidos nas sessões. É que pode acontecer, como em uma das sessões em que foi exibido um filme sobre a Ditadura Chilena, de uma professora chilena contribuir com o debate. Conforme as dúvidas vão surgindo, os cinéfilos presentes vão mandando suas impressões para trocar ideia em tempo real.

O projeto de extensão do campus da Universidade Estadual de Mato Grosso em Sinop, nasceu com impulso do professor Denizalde Pereira e já soma 15 anos de atividade e equipamento próprio.

Conforme um dos seus realizadores, Milton Mauad, nasceu em 2004 com exibição de “Hurricane” (com Denzel Washington, dirigido por Norman Jewison) no Dia da Consciência Negra.

Registro da primeira sessão

Como a data celebra um personagem da militância brasileira, Zumbi dos Palmares, virou Cineclube Zumbis, algo como “somos todos zumbis”. O cinema nacional ganha espaço na programação que ocupa as noites de sábado no campus. A sessão mais recente exibiu Narradores de Javé, de Eliane Caffé.

4. Cineclube Peskaria de Cinema

Desde 2015 o cineclube leva conteúdo de cinema a escolas, campus da Unemat e centros culturais de Cáceres (a 220 km de Cuiabá).

A programação se norteia em boa parte por datas relevantes do calendário nacional. Uma exibição especial, em parceria com o Cine Xin, levou os cinéfilos da cidade para conferir a animação “Historietas Assombradas: o Filme”, de Victor Hugo Borges.

O filme foi exibido em várias cidades de Mato Grosso pelo projeto de itinerância do Cine Caramelo, Festival de Cinema Infanto-juvenil de Porto Alegre (RS).

O idealizador do Peskaria de cinema, Leandro Peska, já vivenciou momentos singulares “nesse trajeto”. A iniciativa nasceu da vontade que ele tinha de encurtar o caminho entre a população e o cinema.

“Lembro que certa vez, em uma sessão ao ar livre no campus da Unemat, um pipoqueiro se aproximou e emocionado, disse que nunca tinha visto um filme em uma tela naquelas proporções. Foi seu primeiro contato com o cinema”.

Veja a cara de felicidade dos alunos da Unemat que haviam acabado de assistir uma sessão

5. Cine Guaporé

O professor do IFMT, Cláudio Dias, é um dos idealizadores do cineclube em atividade na cidade de Pontes e Lacerda (480 km de Cuiabá), que nasceu no campus da instituição. As sessões ocorrem às quartas-feiras, no fim da aula.

Este é o momento em que alunos, servidores e a comunidade compartilham reflexões sobre a realidade, estimulada pelas produções audiovisuais exibidas pelo projeto de extensão. Os filmes exibidos permeiam temas do universo cultural, de movimentos sociais e história.

O projeto que nasceu em 2015 estendeu as ações de exibição também para a produção. Os alunos engajados no Cine Guaporé, recentemente desenvolveram um trabalho dentro da comunidade Maria Capoeira, um dos primeiros agrupamentos da cidade. Os moradores cujas famílias estão ali desde a chegada a estação de telégrafo foram estimulados a pensar sobre suas origens e, ao lado dos alunos, produziram o vídeo “Siriri de Roda”.

O olhar dos jovens é entrelaçado aos depoimentos dos adultos que narram a história e a forma de organização da dança e da música nas festas da comunidade.

YouTube video

6. Núcleo de Produção Audiovisual – NPD

O núcleo que nasceu em 2014 em Barra do Garças (510 km de Cuiabá) tem sede na Universidade Federal de Mato Grosso e promoveu uma verdadeira revolução na região do Araguaia. O coordenador Gilson Costa, que à época da aprovação do projeto pelo Ministério da Cultura, via Secretaria do Audiovisual, garantiu recursos para implantação do núcleo, incluindo, a aquisição de materiais e equipamentos para sua consolidação.

Foi então que outras cidades da região foram aparelhadas e puderam desenvolver suas atividades, formando um circuito exibidor do Araguaia. O NPD possui ainda acervo da extinta Programadora Brasil, com filmes de temáticas ambientais e sociais.

Ao certo, os grandes destaques ficam por conta da produção que “fala a língua do Araguaia”. Dentre as iniciativas da rede de exibidores destacam-se as exibições de filmes em escolas da rede pública de ensino e para públicos especiais, caso do cineclube de Araguaiana com sessões para idosos.

O NPD atua não só com objetivo de fazer os filmes circular, como também, apoia gravações audiovisuais na região, e capacitação da equipe – que vai da captação de imagens até a finalização do produto cinematográfico. A ação mais recente, em parceria com a sala comercial local, levou ao cinema 600 pessoas em uma mostra que durou três dias e exibiu filmes – em horário nobre – em que o Rio Araguaia era o fio condutor das narrativas.

“Muitas pessoas nunca tinham ido ao cinema. E a primeira experiência foi com filmes que tratavam do seu universo”, destaca Gilson. Eles puderam “se reconhecer na tela”.

7. Pequi com Câmera

Em Cuiabá, os professores Leonardo Gomes Esteves e Moacir Francisco de Barros coordenam o projeto de extensão do curso de Cinema e Audiovisual de Mato Grosso, prestes a completar dois anos de atividades.

A turma que conta com 30 alunos de diferentes cursos, incluindo as engenharias, estuda o cinema e produz filmes. Atendendo até mesmo a comunidade externa no regime de parcerias, caso de vídeos informativos para a Associação Mato-Grossense de Dislexia e vinhetas para o Festival de Cinema Tudo Sobre Mulheres.

O produto mais recente criado por eles é a série Pequi Atualidades, um cine jornal que registra o cotidiano dos alunos. A propósito, três destes breves vídeos. que se assemelham a diários de bordo audiovisuais criados pelos alunos do projeto serão exibidos no mesmo dia da premiação do Maual, no dia 27 de novembro.

Já está em andamento também a produção de um documentário sobre a trajetória de Gloria Albues, uma das pioneiras do teatro e cinema mato-grossense. Eles também participam de uma oficina para exercitar a crítica de cinema.

Confira um dos vídeos informativos sobre a dislexia:

8. Cine Sesc

Completando 10 anos em 2019, o Cine Sesc, em Cuiabá, por anos é um bálsamo na vida dos cinéfilos que querem descobrir filmes que vão muito além do circuito comercial.

Curiosamente, o técnico de cinema da instituição, Francisco Krauss, desenvolveu sua carreira, baseada pela vivência, desde os tempos em que frequentava o Imagens em Pauta, idealizado pelo produtor cultural Diego Baraldi, em parceria com o Sesc Asenal. Cursou Rádio e TV na UFMT e hoje, coordena a programação.

A unidade conta hoje com acervo especial, está integrada a um circuito nacional e alternativo de cinema e também oferta cursos e conta com videoteca e laboratórios de práticas audiovisuais.

Tem programação para crianças com o Cine Pipoca e ainda, em formato itinerante alcança plateias que não teriam acesso ao cinema, não fosse, pela iniciativa do Sesc Mato Grosso em circular pelo Estado.

O Cine Sesc não só vai a escolas da Grande Cuiabá, como também, promove sessões em praças de cidades do interior e unidades de saúde, caso de exibições realizadas no Hemocentro e ainda, no Hospital do Câncer, visando público com mobilidade limitada.

9. Encontros com o Cinema

O projeto que ocupa as noites de terça-feira do Cine Teatro Cuiabá dá continuidade ao formato do Imagens em Pauta, que o produtor cultural Diego Baraldi iniciou em 2007 no Cine Sesc, no Arsenal. A plateia das sessões do Encontros com Cinema é estimulada a conhecer ou revisitar as obras cinematográficas de cineastas prestigiados no circuito autoral e independente.

Ao final de cada exibição a plateia participa de debate sobre o filme. Filmes nacionais e regionais ganham espaço considerável entre as exibições. Há um ciclo especialmente dedicado a cineastas de Mato Grosso.

O projeto é projeto realizado em parceria com o Cine Teatro Cuiabá, a Pró-reitoria de Cultura, Extensão & Vivência (PROCEV), Cineclube Coxiponés, Faculdade de Comunicação e Artes e Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Mato Grosso.

10. Cine Teatro

O prédio construído na década de 1940 segue até os dias atuais como um dos principais espaços culturais de Cuiabá. Além de acolher projetos audiovisuais diversos, sedia festivais e mostras de cinema e também, desenvolve projetos próprios, caso do A Escola vai Ao Cine Teatro que nos últimos anos já recebeu público que ultrapassa a marca de 8.500 alunos e professores atendidos.

De acordo com a diretora administrativa do espaço, Flávia Taques, “além da sessão de filme, o público participa de uma visita guiada para conhecer o Cine Teatro, um dos mais importantes patrimônios históricos da capital”.

11. Cineclube São Vicente

O cineclube recém-criado funciona no Campus do IFMT, na Serra de São Vicente. O projeto foi criado para promover diversão e lazer à comunidade escolar da Serra de São Vicente, incluindo, escolas e comunidades do entorno. Incluem-se aí, alunos do IFMT, do Centro de Referência de Jaciara, de Campo Verde e ainda, crianças da escola estadual Gustavo Dutra, que ganharam sessão especial em comemoração ao dia das Crianças.

A exibição de filmes ocorre uma vez por mês, no auditório do IFMT, que tem 300 lugares. A temática dos filmes, segundo o coordenador Fernando Augusto, está alinhada com temas sociais e educativos. Depois da sessão, presentes podem pontuar suas impressões em bate-papo e também, tirar dúvidas.

Fernando conta que há muitos casos de pessoas que nunca foram ao cinema. “Na verdade a maioria, pois muitos são alunos da comunidade, que vieram da zona rural, de assentamentos. Eles ficam impressionados a exemplo, em saber que o filme que assistem, foi rodado em Cuiabá. Enfim, que Mato Grosso produz cinema!”.

12. Cineclube Coxiponés

O Cineclube Coxiponés fica no Centro Cultural da UFMT (Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

No Cineclube Coxiponés pipocam atividades. Neste ano, em especial, foram consolidadas várias atividades para assistir e conversar sobre cinema. A Sessão Belo Belo é mediada por alunos do curso de cinema e audiovisual (às terças-feiras); A Sessão Dias de Cinefilia, é mediada por Gabriel Billy (quartas); a sessão : doc (focada em documentários e limiares), mediada pela Karine Queiroz (quintas) e a Kino Mundo é mediada pelo João Pedro Régis (sextas). Todas essas acontecem às tardes, às 14h, semanalmente.

Às quintas à noite o Cineclube tem projetos pontuais com parceiros da sociedade civil organizada: Sessão Tudo sobre mulheres, em parceria com Cumbaru Filmes, focada em filmes feministas e/ou produzidos por mulheres; Sessão Afrocine, realizada pelo Coletivo Audiovisual Negro Quariterê, com ênfase em filmes produzidos/realizados/protagonizados por pessoas negras; Sessão Cine Debate Latinoamericano, realizada em parceria com o Círculo Anônimo da Palavra; Sessão Diversidade (essa mais esporádica), concentrada em filmes de temática LGBTQI+, além de sessões especiais em parcerias com Departamentos e/ou programas de pós-graduação da UFMT.

Assim como o Cine Teatro, o Cineclube Coxiponés acolhe diversos eventos de cinema, como festivais e mostras. O auditório do Centro Cultural, onde funciona o cineclube, é palco de vários deles.

“Neste ano realizamos algumas ações/sessões em torno da Rede Cineclubista de Mato Grosso, que formamos na MAUAL 2018. Na próxima MAUAL faremos o I Encontro da REC-MT, com participação de representantes de ações cineclubistas que acontecem em diferentes cidades de MT, como Serra de São Vicente, Várzea Grande, Sinop, Cáceres, Barra do Garças e Tangará da Serra”, explica o produtor cultural e coordenador de ações, Diego Baraldi.

E você, conhece outras iniciativas em sua cidade? Conte para a gente nos comentários!

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