Em 292 anos de história, a Câmara de Vereadores de Cuiabá teve apenas 9 mulheres em suas cadeiras. A primeira delas foi Estevina do Couto Abalém, em 1951, e a última delas, Lueci Ramos, que atuou de 2013 a 2016.
A participação feminina sempre foi pífia em relação a quantidade de representantes e nesta legislatura, elas foram completamente excluídas dos postos eletivos. As 25 vagas no parlamento da Capital foram ocupadas por homens.
Na avaliação de duas delas, a candidata sempre é coadjuvante no processo eleitoral. Ou ela está acompanhando o marido ou filho, ou foi indicada por ele.
São consideradas excelente assistentes e cabos eleitorais e na maior parte dos casos, são inclusas no processo para cumprimento da cota obrigatória de 30%.
O ano mais frutífero para as mulheres foi 2001, quando a Câmara tinha Chica Nunes, Lueci Ramos, Verinha e Enelinda Scala.
Mas a pergunta é: por quê?
Na opinião da assistente social aposentada Lueci Ramos (PSDB), o obstáculo começa na participação da mulher nos cargos de alto escalação do Poder Executivo (municipal e estadual).
Ela concorreu ao pleito passado e recebeu 3.556 votos, o que a deixou em 27° lugar e com a vaga de suplente.
“Temos que estar como secretárias de Estado ou em posições que nos oportunizem mostrar serviço à população. Contem a quantidade de mulheres em relação aos homens nessas posições”.
Hoje, na opinião da ex-vereadora, que junto de Maria Nazaré Hahn (1955) coleciona vitórias (ambas tiveram 5 reeleições), grande parte das candidatas acabam em uma disputa só porque os partidos precisam cumprir a cota dos 30% para diferentes gêneros.
“Muitas são vistas como boas cabos eleitorais e confiáveis, mas não como protagonistas. A política é um ambiente machista na concorrência. Mas, depois que estamos lá, a coisa muda de figura”.
Para quem se interessa em entrar na vida pública, Lueci, que ainda não sabe se participará das eleições ano que vem, aconselha iniciar o trabalho dentro das comunidades.
Ela, por exemplo, começou a militância na associação comunitária do bairro CPA 3, no clube de mães e na creche onde trabalhava.
Nesse ponto, a ex-vereadora seguiu o mesmo caminho de Maria Nazaré Hahn, que se filiou ao Partido Social-Democrata (PSD) e atuou firmemente na construção e estruturação do bairro Praeirinho. Ela faleceu em 2004.
Um salto cultural
Luciana Zamproni, hoje do Partido da Mulher Brasileira (PMB), foi a segunda mulher mais votada na eleição passada e se prepara para concorrer no próximo pleito.
Ela defende que a participação das mulheres é pequena porque todas são criadas para estarem no suporte e serem coadjuvantes, seja do marido ou dos filhos.
“Basta pensar em nossas lideranças. Quase todas são esposas ou vieram de famílias políticas. Precisamos ter espaço para quem começa a militância por iniciativa própria também”.
Zamproni fala ainda que a diferença no tratamento dos candidatos homens e mulheres começa dentro dos partidos. Na hora de distribuir verbas e de dividir os espaços de fala nos eventos nas comunidades, por exemplo.
E a situação não é diferente na legenda a qual ela se filiou. Embora o nome seja Partido da Mulher Brasileira, Zamproni avalia sair.
“Eu entrei porque acreditava que seriam as mulheres lutando pelo seu espaço. Depois, percebi que 70% das lideranças do partido eram de homens. Então, é incompatível com as diretrizes”.
A advogada, que hoje ocupa o cargo de secretária-adjunta na Prefeitura de Cuiabá, acredita que a militância feminina precisa ser fomentada desde da infância.
“Eu sempre me interessei. Nasci militante e sempre estava nas discussões da escola, da igreja e da universidade. Temos que participar mais e ocupar os espaços de fala”.
Veja a lista de vereadoras que Cuiabá já teve:
- Estevina do Couto Abalém (1951)
- Maria Nazaré Hahn (1955)
- Ana Maria do Couto (1963)
- Bia Spinelly (1993)
- Lueci Ramos (1997)
- Enelinda Scala (2001)
- Verinha Araújo (2001)
- Chica Nunes (1997)
- Márcia Campos (2008)
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