Comportamento

Volta às aulas: alunos e professores já se adaptaram ao ensino remoto?

Entre os desafios do EAD está a falta de contato. "Você faz de conta que está falando com o aluno", conta professora

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Volta às aulas: alunos e professores já se adaptaram ao ensino remoto?
Sala de aula (Foto: Reprodução/O Livre)

O quadro, as cadeiras enfileiradas, o contato entre professor e aluno. O sistema de ensino como a maioria conhece teve de se adaptar às pressas por causa da covid-19. Com a impossibilidade das aulas presenciais, a tecnologia assumiu o protagonismo e se tornou alternativa para o ensino regular.

A mudança súbita, contudo, pegou os atores envolvidos no processo de aprendizagem de surpresa. De acordo com um relatório do Banco Mundial, mais de 1,5 bilhões de alunos ficaram sem estudos presenciais em 160 países.

“Estávamos acostumados com a interação do professor com o aluno, o olho no olho. E, de repente, tudo mudou”, conta Carla Maria Epaminondas, professora de História na rede privada de Cuiabá.

Aos 50 anos, ela está na lista de professores que tinham pouco ou nenhum contato com tecnologia e que, quase que do dia para a noite, tiveram que planejar e ministrar aulas mediadas por telas.

“Foi muito complicado para gerar link, eu anotava no papel. Às vezes, eu compartilhava tela, eu caía da aula e tinha que ligar para a orientadora, pedir para segurar as pontas até conseguir voltar. Era um nervosismo”, ela lembra.

(Foto: Katerina Holmes / Pexels)

Carla compartilha novas situações vivenciadas pelos professores nas plataformas online: alunos dormindo na tela, os que não abrem a câmera. “É muito difícil. É uma função quase que de representar, porque você faz de conta que está falando com o aluno”, ela explica a sensação.

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O auxílio da escola em que trabalha foi essencial para superar a fase de adaptação. A estrutura da rede privada favoreceu o desempenhar da função. Para os servidores públicos da Educação, entretanto, o momento de adequação foi conturbado (e quiçá superado).

A falta de formação e suporte técnico é um dos problemas mais citados pelos profissionais. Na rede pública estadual, as aulas devem retomar em fevereiro no sistema híbrido, ou seja, com aulas online e presenciais.

Outros desafios

Segundo dados do Unicef, cerca de 4,8 milhões de crianças e adolescentes, de 9 a 17 anos, em todo o mundo não têm acesso à internet em casa. Isso corresponde a cerca de 17% de todos os brasileiros nessa faixa etária. Ou seja, a realidade tecnológica do ensino virtual é muito distante para uma parcela significativa da população.

É o exemplo de Guilherme, de 17 anos, que divide o único aparelho de celular da casa com as outras duas irmãs, uma de 7 e outra de 11 anos. A mãe, que vive de bicos como diarista, recarrega os créditos no celular para os filhos poderem estudar.

“É meio difícil ter que ficar sempre colocando crédito no celular. Não é toda hora que a gente tem dinheiro”, ela conta. A cada recarrega, são gastos entre R$ 15 e R$ 20 que duram pouco.

Do lado dos estudantes, a aprendizagem é o ponto de dúvida. “Não temos experiência suficiente, nem dispositivos culturais, que garantem o mesmo efeito [de aprendizagem] apenas vendo uma imagem e ouvindo o som”, pontua Silas Borges, doutor em Educação pela USP e professor da UFMT.

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