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Você sonha pelos seus filhos?

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Você sonha pelos seus filhos?

“Esta é a que vai ser médica”, ouvi de uma amiga norte-americana quando me apresentou a filha. Não começou pelo nome, idade ou interesses, apenas traçou o seu destino nos cinco minutos iniciais da conversa. Detalhe: a menina tinha 9 anos na época.

Aquilo me deixou amargurada. 

Será que a menina queria mesmo seguir a profissão da mãe? Gostava de ciências ou amava história? Queria mesmo cuidar de pessoas ou preferia os números? Seria possível saber o que faria para o resto da vida aos 9 anos de idade?

A lembrança daquela apresentação me acompanha enquanto crio meu filho.

Nunca tentei guiá-lo para um caminho profissional, embora tenha minhas preferências. Vivo perguntando o que gosta de fazer, quais as disciplinas preferidas, como imagina seu futuro, mas Deus me livre impor uma carreira. 

Não foi só aquela conversa que me alertou para algo que não deveria fazer com meu filho. Minha experiência pessoal também ajudou.

Adolescente, eu me imaginava fazendo tanta coisa no futuro. Arquiteta, advogada, psicóloga, psiquiatra, administradora, jornalista. Tinha tantos caminhos que poderia seguir. Que injustiça ter que escolher um só.

Tive que fazer meses de orientação vocacional para, enfim, decidir que escrever era o que queria. Por sorte, meus pais sempre me deram liberdade para escolher meu rumo. Não havia pressão e isso tirava um peso enorme das minhas costas.

Minha surpresa é que, quando decidi mudar de país e me aventurar em outras áreas profissionais, acabei trabalhando com muitas das coisas das quais gostava na juventude.  Acho que nossos gostos e inclinações permanecem em algum lugar da memória e os trazemos de volta quando temos oportunidade.

Até hoje ainda gosto de mais coisas do que sou capaz de fazer. Mas, depois de um certo tempo, percebi que precisava ter foco, escolher uma estrada. Foi quando voltei a escrever. Por opção própria, sem pressão.

Então, meu lema é esse: deixe seus filhos livres. Deixe que escolham algo que amem de paixão. Caso contrário, não serão felizes. Não digo deixá-los sem orientação. Temos que participar ativamente dessa decisão – se possível, visitar algumas empresas no ramo que eles queiram trabalhar, pensar em um estágio experimental antes mesmo de fazer faculdade. Mas nunca impor nossas opções. Nunca fazer com que nossos sonhos virem os deles. 

Para concluir: a filha da minha amiga não vai ser médica. Hoje, quase adulta, está animadíssima – e feliz – pensando em virar chef de cozinha. E sua mãe entendeu, finalmente, que filhos podem sonhar e voar sozinhos.

Assinatura Debora Nunes

 

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