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Viola: se eu ligar a televisão pra ver jogo de hoje, acabo dormindo

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Viola: se eu ligar a televisão pra ver jogo de hoje, acabo dormindo
Foto: O Livre

Dono de um jeito muito particular de jogar e irreverência ao comemorar seus gols, Paulo Sérgio Rosa, mais conhecido como Viola foi um centroavante com passagem por grandes clubes do futebol brasileiro e seleção.

Já aposentado, atuou no Brasil por times como: Corinthians, Palmeiras, Santos e Vasco da Gama. Já no exterior, teve passagem pelo Valencia, da Espanha e Gaziantepspor, da Turquia. Sua qualidade o fez ser convocado para a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos da América. Ano em que o Brasil conquistou o tetracampeonato mundial.

O centroavante, ídolo do Corinthians, começou sua trajetória nas categorias de base do Timão e com apenas 19 anos foi protagonista do título do Campeonato Paulista de 1988, sendo o autor do único gol do jogo.

Assertivo em sua fala, Viola em entrevista exclusiva para o LIVRE falou sobre as dificuldades enfrentadas no início de sua carreira – quando diversas vezes não tinha dinheiro nem para pagar passagem de ônibus para ir aos treinos – e sobre suas comemorações. Ele também criticou o futebol atual, além de falar sobre sua aposentadoria.

1 – Qual foi o gol mais importante da sua vida?

Viola: Tem um, dia 31 de julho de 1988. Foi o primeiro do título, o primeiro que me deu a trajetória para assinar a carteira profissional. Foi o gol onde tudo começou, na minha carreira e na minha vida [quando fez gol pelo Corinthians].

2 – Enquanto jogador você foi irreverente nas comemorações, nas brincadeiras e resenhas. Hoje no futebol algumas dessas atitudes não são mais aceitas. Os jogadores podem até receber cartão amarelo por comemorarem. O que você acha disso?

Viola: Eu particularmente não falo sobre isso. A minha carreira já foi, então eu não falo de jogador, não falo mal de entidade. Procuro ficar neutro no assunto pra não criar inimizade, mas tá do jeito que gostam, entendeu? Se os jogadores aceitam isso, não fazem uma reivindicação é porque gostam e acham que tem que ser desse jeito.

Se em minha época alguém falasse pra eu parar de fazer minhas comemorações, eu ia perguntar o porquê, entendeu? Porque eu tenho que parar de me divertir e divertir o público, se o futebol é um espetáculo? Ou o futebol só tem robô na torcida?

Hoje os jogadores aceitam tudo. Tão muito preocupado é com o brinco, com o gel, com Nutella e com algumas coisas mais. Na minha época agente ia ‘pro pau’, sangue na veia, sangue nos olhos e não tinha frescura.

Eu não gosto de responder isso porque eu sou muito sincero e muito verdadeiro nas minhas palavras. Falo e seguro o que eu digo, então se tá bom pra todo mundo assim, quem sou eu, Viola que já foi, que faz parte do passado, que não joga mais futebol, a não ser para fazer apresentações, vou tentar mudar isso? Não vou. Nem no futebol eu estou mais.

Eu procuro não assistir jogo de futebol a não ser se for um Real Madrid, um Barcelona, porque eu sei que o couro vai comer, se eu ligar a televisão pra ver jogo de hoje eu acabo dormindo. E dormir é perda de tempo. Então eu procuro deixar de lado.

3 – Ao encerrar sua carreira teve a sensação de dever cumprido?

Viola: Com certeza. Pra mim não faltou mais nada. Primeiro de tudo, o jogador de futebol quando vai parar tem que saber a sua hora, o seu momento e o principal, tem que ter sabedoria a carreira toda para quando parar não sentir falta do arroz, do feijão, da sua viagem, do seu familiar, sabe?! Ter sua casa, seu carro e desfrutar daquilo que ele trabalhou.

O jogador que para dessa forma, bem, não tem problema de parar. Então eu não tive problema de parar. Continuo o mesmo cara de sempre feliz, alegre, sorrindo, brincando, sacaneando, viajo o mundo inteiro, não sou rico, não sou milionário, mas vivo muito bem. Então, parei bem fera.

Eu entro aqui (Arena Pantanal) [e não fico], mas que saudade, saudade do que? Agora é outra era. Viola passou como passou o Zico, como passou Pelé, vai passar Neymar e vão vindo outros, então você tem que aceitar, eu aceitei.

Agora o cara que começa a beber, ir pra putaria, não dar valor primeiro para sua mãe, para o seu pai, deixa morando na mesma favela porque quer andar de Audi, andar de Golf; quando perde tudo, tem que voltar para a casa da mãe. Ele volta para favela, ai volta para o crime, volta com depressão, acaba bebendo e morre na sarjeta.

Então o jogador de futebol, hoje não, mas antigamente a maioria dos jogadores de futebol não era estudado como eu não sou. Eu aprendi no decorrer da minha vida. A minha faculdade foi na periferia, onde eu vi nego morrendo, vi nego apanhando e sendo esfaqueado e nunca mexi numa agulha que não era minha.

4 – Teve algum zagueiro que você jogava de gostar contra?

Viola: Eu gostava de jogar contra todos. Todos me respeitavam e eu tinha um grande respeito pela pessoa e pelos profissionais. Eu sempre fui um cara que sempre procurei jogar na bola. Nunca fui de ficar distribuindo cotoveladas e tal. Futebol é pra homem. Bateu, levou. Se você bate e não é por maldade e pede desculpa, você aceita, mas se me bateu e não pediu desculpa, o cotovelo canta, a dentadura cai e tá por aí.

5 – O que era melhor: treino, concentração ou balada; ou tinha que ter um equilíbrio?

Viola: Primeiro; todos tem uma imagem de Viola porque eu fui nascido e criado na favela. Como eu disse aqui, eu vi muitas coisas, presenciei muitas coisas, mas nunca fui para o lado errado, sempre fui um cara correto. Então quem acha que o viola bebe, eu não bebo, nunca usei droga na minha vida, meu único vício, vocês sabem o que é – que eu não posso falar aqui, e jogar na loteria.

 

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