Logo nos primeiros minutos da audiência para reinterrogatório dos militares acusados de participação no esquema de grampos ilegais, conhecido como Grampolândia Pantaneira, a imprensa, os advogados e a banca de juízes da 11ª Vara Criminal de Cuiabá já puderam sentir que o clima na tarde da terça-feira (16) seria de tensão.
A exaltação dos ânimos foi protagonizada, principalmente, pelo representante do Ministério Público do Estado, o promotor de Justiça Vinícius Gahyva, e pelos advogados de defesa.
Nas manifestações iniciais, o promotor do MPE falava sobre a rejeição das tentativas de delações premiadas por parte dos militares quando foi interrompido pelo advogado Francisco de Assis Rocha, que representa o coronel Zaqueu Barbosa. Para o defensor, o promotor abordava questões de mérito do processo, e, em sua análise, aquele não seria o momento adequado.
Calmo, Gahyva respondeu que não se tratava do mérito, quando foi novamente interrompido. O advogado, apontando para o juiz Marcos Faleiros, que conduzia a sessão, disse em alto tom: “estou me dirigindo ao excelentíssimo juiz”.
Na manifestação das defesas, foi a vez de o promotor interromper o advogado Francisco. “Doutor, se me permite…”, pediu. Contudo, ouviu, novamente em tom elevado: “não, eu não permito”.
Os advogados também rechaçaram as declarações do promotor, que pediu que os réus se concentrassem em depor apenas sobre os fatos contidos nos autos.
Representando o coronel Evandro Lesco, o advogado Stalyn Paniago ironizou: “Esta é a primeira vez que eu vejo o Ministério Público pedir para o interrogado não falar tudo o que sabe”. Por sua vez, o próprio juiz Marcos Faleiros afirmou que os réus poderiam falar sem reservas mentais, ou seja, trazerem ao juízo qualquer fato que acreditassem que poderia ser benéfico a eles.
Durante toda a audiência as principais tensões foram pautas nesse tema. Gahyva dizia não entender o motivo dos coronéis exporem fatos que não tinham relação com o caso, os advogados rebatiam, em tom elevado, do outro lado da sala, e o juiz sinalizava ao representante do MPE: “Isso já foi discutido durante as manifestações iniciais. Eles podem falar o que quiserem”.
Apesar das repetidas interrupções com bate-rebate entre MPE e advogados, houve dois momentos de ânimos à flor da pele.
Em um, quando passado mais de uma hora e meia de depoimento, uma advogada de Zaqueu se aproximou e, em seu ouvido, o lembrou que ele não era obrigado a responder todas as perguntas. De seu lugar, o promotor comentou que queria uma defesa como essa, que acompanha até ao banheiro.
O comentário foi considerado machista pelos demais advogados, que gritaram e até se levantaram dos lugares. Advogado de defesa do cabo Gerson Luiz Correia, Neyman Monteiro chegou a afirmar: “Você me aguarde amanhã”.
Pouco depois, o juiz encerrou o depoimento e suspendeu a sessão por cerca de 10 minutos.
Já durante depoimento do coronel Evandro Lesco, novamente um dos momentos de interrupção se sobressaiu: o promotor se levantou e, no caminho para deixar a sala, parou ao lado do advogado Stalyn Paniago. Não se sabe o que foi dito. Contudo, a defesa elevou o tom, chamando a atenção de todos e interrompendo as declarações.
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