Cidades

Um dia no SUS: “ela veio para uma consulta de rotina e eu vi hematomas”

Prefeitura de Sinop tem treinado profissionais da saúde para identificar e ajudar vítimas de violência doméstica

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Um dia no SUS: “ela veio para uma consulta de rotina e eu vi hematomas”
(Foto: Prefeitura de Sinop)

“Ela veio para uma consulta de rotina e eu vi hematomas nela. Perguntei o que eram aqueles sinais e, depois de muito choro, ela me pediu segredo e disse que há muito tempo era agredida pelo marido”.

O relato é da médica Raquel Gomes de Oliveira, que há 16 anos trabalha na rede de assistência básica em saúde de Sinop (cerca de 500 km de Cuiabá), mas que só há pouco tempo se atentou a situações desta natureza: violência doméstica.

Uma mudança de olhar proporcionada por um trabalho de capacitação promovido pela administração do município. Mais do que saber identificar uma mulher vítima de agressões, os servidores são orientados sobre como proceder depois disso.

“Ela relatou toda sua história e eu ofereci ajuda. Expliquei como funcionam todos os suportes ofertados pelo município. Então, ela voltou no outro dia e aceitou seguir minhas orientações”, lembra a médica.

A paciente denunciou o marido e voltou para a cada dos pais, que moram em outra cidade.

“Espero que ela esteja feliz hoje. Me sinto gratificada em poder ajudar”, afirma Raquel.

Médica Raquel Oliveira foi uma das que recebeu treinamento pela prefeitura (Foto: Prefeitura de Sinop)

Além de médicos, enfermeiros e agentes de saúde foram orientados como identificar casos de agressões físicas e ajudar as vítimas. O caso de Raquel não é o único de sucesso depois disso.

Profissionais que podem fazer a diferença em casos de vida ou morte, já que, como lembra o delegado Joacir Reis, da Delegacia da Mulher de Sinop são os primeiros a ter contato com as vítimas quando se trata de ocorrências dessa natureza.

Trata-se da Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres que o município instituiu.

“A função da Rede é ofertar a proteção integrada, onde todos os órgãos olhem para a violência doméstica e deem suas contribuições de maneira coordenada e organizada para o melhor atendimento das pessoas que necessitam deste apoio”, explica o delegado.

A atuação é articulada entre instituições/serviços governamentais, não-governamentais e a comunidade. Visa, além do socorro imediato dessas vítimas, estratégias prevenção, acolhimento e, principalmente, construção da autonomia dessas mulheres.

A responsabilização dos agressores também é uma preocupação.

O município tem reforçado que denúncias podem ser feita em qualquer delegacia ou pela Central de Atendimento à Mulher, ligando no número 180. Todas são anônimas e disponíveis 24 horas.

Prefeita de Sinop, Rosana Martinelli tem sido elogiada pela iniciativa do município (Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Responsável pela Coordenadoria Estadual da Mulher em situação de Violência Doméstica e Familiar, no âmbito do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (Cemulher), a desembargadora Maria Erotides Kneip, parabenizou a Prefeitura de Sinop – que é administrada por uma mulher – pela ação.

“A prefeita Rosana Martinelli está de parabéns, justamente porque a atuação em conjunto e de forma articulada de poderes, instituições e comunidade vai garantir a aplicação humanizada da legislação e, ao mesmo tempo, combater a violência contra a mulher”.

A instalação da Rede ocorreu no dia 25 de novembro. Data em que foi instituída, em 1999, pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher.

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