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Um chilique corporativista

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Um chilique corporativista

Até os bebês de colo, os índios das tribos isoladas e os doidos de hospício concordam com o que vivem afirmando autoridades da Justiça Federal, do Ministério Público e do Judiciário: é de bom tamanho o número de advogados e agentes penitenciários incorporados ao esquema criminoso forjado para infiltrar nas cadeias objetos e substâncias proibidas pela legislação.

Como escancarou mais uma vez a onda de rebeliões envolvendo a população carcerária, os presidios estão infestados de armas, celulares e drogas, fora o resto. Se nada disso é produzido ou cultivado por lá, nem costuma cair do céu, é claro que os beneficiários do contrabando dispõem de comparsas em liberdade que exercem o direito de ir e vir para cometer essa espécie de delinquência. Entre eles sobram bacharéis em Direito.

Na entrevista concedida ao programa O Livre pelo secretário de Segurança Pública de Mato Grosso, Rogers Jarbas, perguntei-lhe o que esperam as instituições para erradicar facilidades e privilégios que fazem de bandidos com anel de doutor meros office-boys de gangues como o PCC. O entrevistado ponderou que não gostaria de atribuir apenas a um grupo profissional o gravíssimo leva-e-traz dos vigaristas de gaiola. Responsabilizei-me pela afirmação, o assunto logo chegou ao fim e já teria sido esquecido se não estivesse de tocaia o aparelho auditivo de Leonardo Campos, cujo cartão de visita anuncia o “Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil ─ Seccional Mato Grosso (OAB-MT)”.

O dirigente sindical botou na cabeça que eu havia enquadrado todos os advogados do Brasil pela entrada de drogas e armas nos presídios. E aquilo não podia ficar assim, decidiu a vítima do chilique que nem teria começado se soubesse que sou filho de advogado, que minha família é um viveiro de magistrados e promotores públicos, que são advogados dois de meus irmãos, que tenho incontáveis amigos advogados e que só não terminei o curso na Faculdade Nacional de Direito por imposição do regime militar.

Entre essa gente toda não há nenhum cúmplice de narcotraficantes. Os rábulas mencionados na entrevista são os bandidos que usam a carteira da OAB como um salvo-conduto que os livra de revistas na porta das prisões e outras medidas cautelares.

O surto de corporativismo agudo inspirou uma nota oficial que assassinou vírgulas entre sujeito e verbo, insultou a lógica e torturou a verdade. Mais: promoveu o presidente dos 15 mil filiados à OAB-MT a porta-voz de “1 milhão de profissionais em todo o país”. Embalado com a louvação do próprio desempenho no comando da entidade, acabou derrapando na confissão contraditória. Ele jurou que “adota as medidas cabíveis, com julgamentos no Tribunal de Ética e Disciplina (TED) contra profissionais de seus quadros que atuem em desconformidade com o que determina a legislação”.

Que tal deixar de lado a conversa fiada em juridiquês e explicar a coisa em linguagem de gente? Que tal detalhar os “casos de desconformidade com o que determina a legislação”? Incluem algum contrabando de armas, celulares e drogas para o interior das gaiolas?

Se não houve nenhum, Leonardo Campos é mais que presidente de uma regional da OAB. É o capataz de uma legião de anjos fundada para desmentir o que acontece no restante do Brasil. Em todos os Estados, organizações criminosas há anos vem recrutando advogados que trabalham em tempo integral para impedir a captura ou tirar da gaiola os meliantes mais perigosos do país. Em São Paulo, o PCC já banca as despesas de um exército de estudantes de Direito que cuidarão dos chefões da sigla daqui a pouco tempo. No momento, aperfeiçoam-se na arte de absolver matadores irrecuperáveis.

“A OAB-MT tomará as medidas cabíveis”, diz a nota, antecipando a apresentação de uma interpelação judicial . Que venha. Será um prazer repetir na presença de Leonardo Campos o que afirmei no programa, informar que pretendo provar o que digo e apresentar a lista dos que testemunharão em minha defesa. Todos são advogados que honram a profissão.

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