Quem pensa que morte significa descanso, está enganado. No cemitério da Piedade, um dos mais tradicionais de Cuiabá, uma verdadeira romaria de diferentes religiões vai aos túmulos fazer pedidos, solicitar intervenções e até mesmo pleitear uma ponte com o todo poderoso.
Entre os jazigos mais visitados está o de Francisco Augusto, o Falcãozinho, que morreu em 1971, vítima de câncer. Na época, ele tinha 7 anos e ficou conhecido pela sua religiosidade.
Católico fervoroso, acabou reverenciado pela população e segundo a faxineira de túmulos, Sebastiana Campos, 70 anos, já houve muitos relatos de preces atendidas.
Ela lembra de uma mulher que veio pedir para receber uma indenização do Estado. Segundo a própria solicitante relatou à Sebastiana, ela tinha um imóvel na rota de construção do VLT (que ainda não saiu do papel) e foi desapropriada.
Apesar de ter deixado o local, onde estava instalada a empresa da família, tinha muita dificuldade em receber o dinheiro que deveria ser pago pelo governo.
Nesse momento, a mulher teve conhecimento dos milagres do menino e fez uma oração no túmulo dele. Em poucos meses, recebeu uma parte do prometido.
Além deste, houve outros casos que envolvem doença, conquistas profissionais e desavenças familiares.
Padre e freira, vocações eternar
Os túmulos de padres e o das freiras são muito visitados. O administrador do cemitério, Sílvio Lorenço da Silva, fala que o jazigo onde está o Frei Quirino Franz é ponto certo para os fiéis católicos.
Ele era Alemão e chegou em Mato Grosso na década de 30. Naquele período foi nomeado por Dom Aquino como Vigário Geral de Rosário Oeste e em 1947, assumiu a Paróquia da Boa Morte, onde trabalhou por 40 anos.
Quirino ficou conhecido pela sua dedicação e atuação junto aos pobres e soldados, motivo que o levou a ter a condecoração Almirante Tamandaré.
No mesmo Jazigo que ele estão os padres Alexandre Trebaure (1870-1939) e Donato Sehn (1931-2009).
Outro local muito visitado é o jazigo das freiras, no qual estão 19 irmãs enterradas. O jazigo, explica o administrador, tem uma estrutura diferente.
Existe um alçapão que dá acesso a um pequeno corredor, onde estão instaladas as gavetas.
João Caveira
Um túmulo antigo que é conhecido com a última morada de João Caveira. As placas e registros não possuem informações e nem mesmo o nome dele pode ser lido devido ao desgaste da superfície.
Isto faz com que algumas pessoas cheguem a deixar oferendas e velas no túmulo errado, conta o administrador.
Silvio explica que antes havia um cranio grudado no meio do crucifixo, instalado no túmulo. Porém, a artefato desapareceu.
Conforme os visitantes contaram à ele, João Caveira era espírita e líder de um importante terreiro de umbanda. Por este motivo, até hoje recebe homenagens.
Além das velas de diversas cores, as pessoas costumam deixar muitas oferendas de gêneros alimentícios, principalmente, farofa, carnes (muitas vezes cruas) e cachaça.
Figuras famosas
No rol de celebridades políticas, os jazigos de Dante de Oliveira e Júlio Pinheiro são os mais procurados por familiares, amigos e familiares. Aos dois não são atribuídos milagres, porém uma fidelidade que transpõem a morte.
Além deles, também merece destaque o túmulo da Baronesa de Diamantina, que teve todas as partes trazidas da Europa. A família dela não mora mais aqui, porém vem com frequência ao cemitério fazer as orações, principalmente nos feriados.