O preço do óleo, unguento ou perfume com que Madalena lavou os pés de Jesus, foi pomo da discórdia entre Judas, caixa da campanha do Mestre, e os outros apóstolos.

Na narração dos Evangelhos de Mateus e de Marcos conta-se que Jesus estava em Betânia, na casa do leproso Simão, não de Lázaro, quando chegou uma mulher cujo nome não é dito e com um frasco de perfume caro começou a derramá-lo sobre a cabeça Jesus, e não sobre os pés, como dizem outros evangelhos, alguns dos quais identificam por Madalena a doadora tomada por aquele extraordiário arrebatamento.

Os discípulos se indignam, pois a fragrância era muito cara e o dinheiro utilizado para comprá-la teria sido surrupiado de doação a ser feita aos pobres.

O episódio é narrado também no Evangelho de São João, provavelmente na mais bela e clara das versões. Ele não diz que é Maria  Madalena a pessoa que derrama a essência misturada a óleo, diz apenas que é uma das mulheres muito próximas de Jesus, todas chamadas Maria, talvez a irmã de Lázaro, a quem o Mestre acabara de ressuscitar.

João confirma que o episódio teve lugar na casa de Lázaro. Maria pegou uma libra de nardo, lavou os pés de Jesus e os enxugou com os seus (dela) cabelos, um gesto inusitado porque a mulher judia não soltava os cabelos em público!

Judas reclama que é um desperdício porque aquela substância aromática, já beneficiada, poderia ser vendida por trezentos denários e esta quantia seria distribuída aos pobres. Quer dizer, o dinheiro ainda não estava disponível, mas poderia ficar com a venda da mercadoria.

A quantia equivalia a trezentos dias de trabalho, pois era de um denário o pagamento a diaristas por um dia de serviço de ceifeiros, pedreiros e outros tipos de mão de obra avulsa naquela época.

Tinha preço elevado o nardo, a substância utilizada no fabrico daquele aroma.

São João, autor de complexas sutilezas em seu relato de mil simbologias, é claro e denotativo desta vez: “O traidor dizia isso porque era ladrão e furtava o dinheiro recolhido…”.

P.S: Meu querido amigo Ricardo Boechat, falecido na semana passada, âncora e parceiro de uma coluna semanal na Rádio Bandnews Rio desde 2011, ateu confesso e autoproclamado, humanista e solidário, apreciava muito as narrativas cristãs que, para ilustrar uma palavra, expressão, provérbio ou dito famoso, eu incluía na pauta de nosso colóquio, sempre ao vivo, às 5as. feiras. Como estou com os sentimentos desarrumados, resolvi me ocupar de uma delas e o faço neste domingo de fevereiro, o primeiro do resto de nossas vidas sem sua saudável irreverência.

É o segundo texto que faço na semana. O primeiro foi publicado na revista ÉPOCA e pode ser acessado clicando, aqui.

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