Quando um dos candidatos à Presidência da República é um presidiário e o outro, um lambe-botas de militares, é que estamos mesmo de mal a pior. A opção por ambos é deliberada, caso para a antologia patológica de um povo cronicamente equivocado. Lula representa o “rouba, mas faz”, definitivamente. Como colocou-se à imagem de desenvolvimentista, tendo se aproveitado da estabilização financeira e do fluxo internacional positivo, consolidou-se no imaginário coletivo como “pai dos pobres”. Tão profunda a hipnose coletiva que os piores casos chegam a mudar de nome para incluir a alcunha do reeducando.

Por outro lado, a única plataforma apresentada por Bolsonaro, além das fobias costumeiras de alguém intelectualmente limitado, é o rearmamento. Baseado na insegurança coletiva, o candidato acredita que o caminho é armar os cidadãos, cedendo ao lobby da indústria das armas. De resto, é um saco furado. Não apresenta nenhuma ideia pertinente sobre a questão tributária, previdenciária, trabalhista, nossos principais gargalos de desenvolvimento.

Está mal? Sim, está. Mas não se esqueçam que, tudo na vida, pode ficar ainda pior. um grupelho de adolescentes pede nas ruas por intervenção militar. São crianças que exigem ordem no parquinho, porque precisam brincar em paz. A mentalidade frágil e complexada de alguém que precisa de um corretivo, de uma figura masculina forte e onipresente. Outros suspiram: “ah que saudade dos militares”.

[featured_paragraph]Evidentemente, estes não estiveram pendurados nos paus-de-arara de vida, nem tampouco foram sujeitos ao choque elétrico nos testículos. Como os torturados formam a minoria da população, esses inocentes úteis justificam abertamente a tortura: serviu apenas para criminosos. Ou seja, para criminosos, vale tortura. É isso mesmo. Na personalidade carente, o pai deve castigar os filhos toda vez que for afrontado, desafiado ou desrespeitado. A censura, para esses adolescentes, é mais um preço a se pagar por paz social, crescimento econômico e, principalmente, pela tão sonhada honestidade castrense. Como o brasileiro é fraco em leitura e não sabe patavinas de história, se pudesse acessar as revistas da semana, veria que os mais corruptos são justamente os regimes de força.[/featured_paragraph]

O que nos sobra? O que resta é meio patético. Geraldo Alckmin, uma espécie de Forest Gump, metido até o pescoço em corrupção; Fernando Haddad que conseguiu a façanha de ser reprovado como prefeito; Marina Silva com aqueles trejeitos de Madre Tereza de Calcutá, sem qualquer articulação política para governar de verdade. Além da interminável fauna política que é insólita: Rodrigo Maia, o ursinho Puff do Congresso Nacional, oriundo do Estado mais caótico do Brasil; Ciro Gomes, um coronel seiscentista com cara de político; e os pequenininhos que se prestam a serem alugados por um candidato mais endinheirado. Portanto, o quadro é tão patético quanto desesperador.

O sistema político nacional sufocou completamente a chance de uma renovação que se exige. Os políticos limitam-se ao serviço cartorial em Brasília, defendendo interesses estratégicos de empresas privadas ou de grupelhos de funcionários públicos tratados como príncipes. Não é mole. Errou completamente De Gaulle ao afirmar que o Brasil não é um país sério. Dá-se justamente o contrário – o país tem um sério compromisso com atraso.

[featured_paragraph]Uma ideia que me acontece – absolutamente paliativa, espécie de homeopatia política de momento – é a liberação das candidaturas avulsas. Já que os partidos políticos não existem no Brasil, a saída é ignorá-los olimpicamente. Já pontifiquei muito pelo fortalecimento dos partidos. Hoje, vejo que a maioria não passa de uma quadrilha, crime organizado que vai se estruturando da vereança até a presidência.[/featured_paragraph]

Em tudo se assemelham: nos pedágios por cargos, na venda de legislação, na liberação de verbas públicas (captação), depois na cadeia de comando, na distribuição desigual para campanha, na obediência ao cacique (estrutura), e finalmente com o aparelhamento estatal, fraudes em licitações e extorsão política para votos parlamentares (execução). Talvez uma cabeçada como candidaturas avulsas pudesse ajudar. Talvez impor mandatos limitados a ministros do STJ e STF. Talvez possibilitar um recall eleitoral no meio do mandato executivo. Talvez aprofundar a lei de ficha limpa vedando candidaturas de condenados em primeira instância Talvez aprovar o fim do voto obrigatório. Talvez os militares. Talvez Lula. Talvez Ciro. Talvez Bolsonaro. Talvez um tiro na cabeça. Talvez, talvez, talvez.

Eduardo Mahon é escritor e advogado, articulista de O Livre.

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