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Superlotação faz pacientes concordarem em voltar para o interior

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Superlotação faz pacientes concordarem em voltar para o interior

Ednilson Aguiar/Olivre

Pronto Socorro Municipal de Cuiabá

Antônio dos Santos Souza, 68, sua esposa, Lúcia Maria, e a filha, Francisca, passaram uma semana no pronto-socorro de Cuiabá

“Se você levantar para ir ao banheiro, quando voltar, não encontra mais a maca em que estava deitado. E são os próprios enfermeiros que tomam ela de você para colocar outra pessoa”. A afirmação é de Lúcia Maria Pereira da Silva, 58 anos, segundo quem “não dá para andar sem chutar pessoas” pelos corredores do pronto-socorro de Cuiabá.

Lúcia Maria é esposa de Antônio dos Santos Souza, 68, que passou a última semana internado na unidade, após sofrer um acidente de moto. Durante todo o tempo em que esteve lá, Antônio não entrou em um quarto. No primeiro dia, recebeu a medicação sentado numa cadeira da recepção. Já a noite, “com muito custo”, nas palavras de sua esposa, conseguiu uma cama. No corredor.

O caos foi revelado à reportagem do LIVRE por meio de um vídeo gravado por uma visitante que preferiu não se identificar por medo de represálias a seu irmão, que está internado na UTI. Segundo Lúcia Maria, no domingo (12), o acompanhante de outro paciente foi obrigado por seguranças a apagar uma foto de seu pai deitado numa maca. Ele a enviaria para os para os irmãos, que moram em Rondônia, e queriam notícias do estado de saúde dele.

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A superlotação é o motivo pelo qual a maioria das pessoas entrevistadas pela reportagem do LIVRE na porta do pronto-socorro na manhã desta segunda-feira (13) concorda com a medida adotada pelo prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (PMDB), de “devolver” para o interior do Estado os pacientes que não correm risco de vida.

Francisca Pereira da Silva, 41 anos, filha de Antônio, no entanto, levanta uma condição à iniciativa, que também foi apontada por todos os outros entrevistados: “se houver estrutura nessas cidades para receber essas pessoas”.

Até mesmo Jandir Franco, 65 anos, que veio de Sinop acompanhar a esposa acredita ser essa a melhor alternativa. “Acho que tem que fazer isso mesmo”. Ele próprio ressalta, entretanto, não ter encontrado tratamento para a mulher – que sofreu um acidente e fraturou uma vértebra da coluna – em sua cidade.

Ednilson Aguiar/Olivre

Pronto Socorro Municipal de Cuiabá

Jandir Franco, 65 anos, veio de Sinop porque a esposa não encontrou tratamento adequado na cidade

“Se o interior tiver qualidade e condições, não tem porque não atender lá. O ideal seria que as pessoas pudessem receber esses primeiros-socorros em suas cidades e vir para cá, só quando fosse fazer um tratamento específico. Mas se não tem, traz para cá que a gente colabora, sim”, defende Cícero Henrique Luna, 46 anos, que esteve no pronto-socorro esta manhã para doar sangue a um dos pacientes.

Para a autora do vídeo cedido ao LIVRE, ações mais rápidas no trato dos pacientes também ajudariam a evitar boa parte dos problemas enfrentados na unidade. “Tem pessoas que chegam e precisam de só de uma sutura ou coisa do tipo e ficam horas sentadas, esperando serem atendidas”, reclama.

“Meu irmão precisava de uma UTI, um paciente recebeu alta de uma, mas eles não desocupavam o leito porque não tinha ninguém da família daquela pessoa para, simplesmente, assinar um papel”, completa.

Pronto Socorro Municipal de Cuiabá

Pacientes chegando ao pronto-socorro de Cuiabá na manhã desta segunda-feira

 

Triagem
De acordo com informações da Secretaria Municipal de Saúde, a triagem dos pacientes que estão no pronto-socorro de Cuiabá terá início na tarde de hoje. Serão transferidos para o interior todos que aguardam cirurgias eletivas – que não caracterizam casos de urgência e emergência – e não correm risco de vida.

A medida é defendida pelo presidente da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), Neurilan Fraga (PSD), e pela presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Mato Grosso, Silvia Regina Cremonez Sirena.

“A única coisa que fizemos questão de ressaltar é que os critérios dessa equipe de triagem sejam os mais coerentes e técnicos possível para evitar que, por algum descuido, possa ser transferido um paciente que não poderia sair do pronto-socorro”, pontuou Neurilan.

Segundo o presidente da AMM, a proposta é que todas as pessoas que vão retornar para suas cidades o façam já com a data da cirurgia que necessitam agendada. “Um paciente que vai ficar 15 ou 20 dias esperando uma cirurgia e que não corre nenhum risco de vida, é melhor ele ficar na casa dele do que lá [no pronto-socorro], na maioria das vezes, numa situação quase que desumana”, defendeu o presidente.

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