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Startup de SP tem tecnologia premiada para monitorar florestas plantadas

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Startup de SP tem tecnologia premiada para monitorar florestas plantadas
(Divulgação)

A tecnologia também pode ajudar a monitorar o crescimento de florestas plantadas, reduzindo custos e riscos das equipes de trabalhadores que vão em campo para fazer mensurações de árvores, além de aumentar a qualidade dos resultados para a tomada de decisões do setor florestal. A startup paulista Treevia desenvolveu a solução tecnológica que faz tudo isto e muito mais.

Ela é responsável pelo Smart Forest, um software on line na nuvem, que possibilita um salto tecnológico ao setor. Esta solução monitora florestas plantadas em tempo real por meio de sensores instalados nos troncos das árvores, conectados aos satélites.

A Treevia é integrante de uma nova geração de startups chamada “agritech”, especializada em soluções digitais para o agronegócio. Desde 2016, está incubada na Nexus, incubadora de empresas do Parque Tecnológico de São José dos Campos (SP), e conta com o apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

O empreendimento foi criado pelos jovens engenheiros florestais: Esthevan Gasparoto, Emily Shinzato e Maycow Berbert. Eles se formaram na Universidade Federal de São Carlos/Campus Sorocaba. “Desde a graduação, trabalhamos no monitoramento e medição de florestas”, afirma Esthevan, o CEO da Treevia. A palavra árvore (tree em inglês) está até no nome da startup. “A gente está tracionando este ano”, diz em linguagem de startup, que significa já ter atingido relevância no mercado e estar se tornando escalável, atraindo investidores e clientela.

Inovação

O Smart Forest é tão inovador que conquistou o primeiro lugar da principal premiação do setor florestal mundial, a Blue Sky Award, em Berlim (Alemanha), no segundo semestre de 2017. No Brasil, esta premiação foi coordenada pela IBA (indústria Brasileira de Árvores), uma associação que congrega todas as empresas de base florestal. A startup de São José dos Campos concorreu com vários países e apresentou seu projeto à uma banca composta por especialistas e CEOs florestais de empresas internacionais.

Atualmente a equipe do empreendimento é composta por 12 pessoas, entre engenheiros florestais, desenvolvedores de softwares, eletrônica e hardware. As florestas monitoradas pelo Smart Forest estão principalmente em SP e PR.

A startup também está desenvolvendo projetos com tecnologia blockchain, comercialização de créditos, entre outros. A sustentabilidade envolve diferentes aspectos em suas soluções: usar melhor recursos escassos; melhorar as condições de trabalho em termos sociais e ambientais; e reduzir a exposição das pessoas aos efeitos das condições climáticas.

“Queremos ajudar os clientes a manejar de maneira mais sustentável suas florestas. A gente quer fazer esta atividade de maneira economicamente mais viável”, diz o CEO da Treevia. A meta da startup é ampliar o mercado nacional e começar a internacionalizar, no segundo semestre de 2019.

Método empírico

No Brasil e em outros países, o crescimento das árvores e as decisões sobre corte e outros eventos do setor são tomadas empiricamente até hoje, diz Esthevan. O acompanhamento é fundamental para verificar se as árvores estão sadias, sem ataques de pragas e sem problemas com incêndios, se o índice pluviométrico está regular, entre outros.

Há décadas, este trabalho é feito por trabalhadores que vão às áreas plantadas para medir manualmente os troncos das árvores e verificar ‘in loco’ as condições das florestas. O método empírico tradicional significa dias de trabalhos e possíveis enfrentamentos de dificuldades e desafios (animais peçonhentos, acidentes, etc). As incursões em campo costumam ser semestrais e anuais.

Esthevan e Emily fizeram mestrado em mensuração florestal na USP/Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) e parte foi realizado no Canadá. Ele conta que ficou surpreso com a ausência de tecnologia no setor florestal canadense, considerado referência mundial. Lá o monitoramento continua sendo feito pelo método antigo manual. É caro medir florestas em grandes extensões de área com equipes em campo, segundo Esthevan.

Big Data

Além de acompanhar o crescimento das árvores, a solução Smart Forest também gera dados diários (Big Data) com imagens e camada de análises. A qualidade dos dados possibilita a tomada de decisões mais rápidas e assertivas.

A coleta de informações climáticas também é feita pela ferramenta. Hoje, as indústrias dependentes de madeira usam modelos matemáticos que estimam o crescimento das florestas no futuro. Os dados gerados pelo Smart Forest vão melhorar estas estimativas, informa Esthevan.

Qualidade da informação

Depois da formatura, Esthevan e Emily trabalharam em grandes empresas florestais, onde aprenderam muito sobre este mercado. “As indústrias que consomem florestas no processo produtivo plantam suas florestas, diminuindo a pressão sobre as florestas nativas”, explica.

O Brasil é muito competitivo no setor e referência mundial em florestas de pinus e eucaliptos. Há muita pesquisa no país em manejo florestal por conta do clima, solo e material genético. “Aqui as florestas plantadas crescem mais rápido do que em outro lugar no mundo. Uma floresta de eucalipto, por exemplo, cresce para corte em seis anos, enquanto no Canadá pode levar até 80 anos”, ressalta.

Informação de qualidade é fundamental para a sustentabilidade do setor florestal e das indústrias que dependem de madeira para produzir. Comparado às culturas agrícolas, como soja e milho, o ciclo de florestas plantadas é longo. “O investimento no plantio de florestas é alto e não pode falhar. É preciso confiar nas informações para planejar e saber se a produção da floresta plantada será suficiente, se vai faltar ou precisará comprar do mercado”, detalha Esthevan.

Tablet

A solução da Treevia pode ser útil tanto para grandes empresas (Klabin, Suzano, etc) até médios plantadores de florestas, que costumam seguir uma ‘receita de bolo’, monitorando o crescimento das árvores uma vez ao ano e fazendo o corte com cinco anos.

A confiabilidade da informação depende da frequência da medição, segundo Esthevan. O Smart Forest acompanha diariamente as áreas plantadas e ainda agrega outros aspectos: pode acessar os dados tradicionais (manuais); possui aplicativo de coleta de dados embarcado em um tablet especial (desenvolvido em parceria com a Samsung, que também serve para uso militar).

A ferramenta conta com duas formas de inserir dados no sistema e participou do Programa Colaborativo de Startups, coordenado pela Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores), Samsung, Criative Startups, entre outros.

“Amadurecemos bastante e nos tornamos representantes deste tablet no Brasil, que tem forte aderência no setor agropecuário”, revela.

A terceira forma de monitorar florestas plantadas pelo Smart Forest é feita remotamente do escritório da startup. Os sócios da Treevia chamam carinhosamente esta modalidade de monitoramento de ‘IOTREES’ ou ‘Internet das Árvores’, uma brincadeira com a sigla tecnológica IOT, muito conhecida que significa Internet das Coisas (Internet of Things).

Empreendedores

No final de 2015, ao retornarem do Canadá, Esthevan e Emily resolveram empreender na ideia de desenvolver tecnologia para o setor florestal. “Quando se está começando a empreender, é preciso enfrentar cenários muito incertos. Era a nossa primeira experiência em empreendedorismo. Tínhamos uma ideia do problema e da solução”.

Resolveram desenvolver um plano de negócio para inscrevê-lo no prêmio do Banco Santander para empreendedores, que forneceria R$ 100 mil para o melhor projeto desenvolvido por universitários, a partir de um plano de negócio. “Concorremos com 24 mil projetos inscritos e fomos vencedores”, conta Esthevan orgulhoso. Assim conseguiram o capital inicial para a startup, que passou a integrar a incubadora Nexus em São José dos Campos (SP), no início de 2016.

“A gente quer colocar o Brasil na vanguarda florestal”, enfatiza o CEO da Treevia. As tecnologias chegam de fora, mas queremos acabar com isto”.

A solução da startup também pode ser útil no monitoramento de florestas nativas para sequestro de carbono e, ainda, para o pequeno produtor rural. No momento, os sócios e equipe da startup estão definindo estratégia para atingir este público, que planta mogno africano, teka e outras madeiras nobres em áreas de 15 a 20 ha. ” Este é um mundo à parte com grande potencial e vai gerar benefícios também”, prevê.

 

Com Assessoria 

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