Com a formação mais duradoura das mais de uma década de estrada e, agora, com Anderson Rezende de volta às guitarras, a Sr. Infame completa bodas de aço – sendo que os dois últimos anos foram de produção a todo vapor. Mais espaço para o rock e a música autoral? Apesar de algumas iniciativas, louváveis, não necessariamente. Segundo os integrantes, o cenário atípico tem muito a ver com o comportamento “correria” que marcou a trajetória da banda nesses 11 anos de ‘música por amor’.
“Acho que foram casualidades, diríamos sorte”, especulou o vocalista Jomar Brittes sobre a intensidade da atual agenda de shows. “Na verdade, a gente correu atrás de coisas diferentes do nicho que a gente tocava, fomos abrindo espaços”, complementou o baterista Maicol Fernando. Espaços, estes, bares da capital e cidades do interior do Estado, eventos de motociclista e até cervejarias, correndo na contramão da falta de espaço na cena para a música autoral.
E mesclando a maturidade dos 40 anos dos integrantes à infâmia roqueira expressa nas composições da banda– ambivalência que, aliás, norteou a escolha do nome – a Sr. Infame foi consagrada com um festival próprio, que lotou o lendário Cavernas Bar como há muito não se via, no aniversário de 10 anos de banda.
A celebração irá se repetir neste sábado (22), reunindo nova safra e velha guarda do rock autoral mato-grossense, a partir das 22 horas, no mesmo local. A batalhadora Mutar3, a jovem e extrovertida Banana Chips, a veterana Lopes e a velha guarda rondonopoliana da Remorse são as bandas que somam ao Infame Rock Fest 2018. A entrada é R$ 15.
E o novo momento da banda conta com novidades. A música “Abutre Virtual” integra a nova coletânea “Viva a Cena”, organizada pelo Malcom Pub, e outra autoral já está em processo de gravação para a “Cuiabá Capital do Rock”, iniciativa do Estúdio Riff.
Shows ao lado de importantes bandas na cena nacional e outras quatro canções também já estão engatadas para se concretizar em breve. Sempre de forma independente, com recursos próprios e o apoio de parceiros, mantendo os pés no chão, a fé no rock e bandeira do autoral.
“Já tem um tempo que as bandas autorais perderam o espaço para os covers. Acho que é mais questão do público que prefere sair para ouvir uma música que já conhecem. O rock autoral é mais especifico, não é toda casa que abre espaço e são as próprias bandas que o fazem. Tem o Cavernas, um lugar próprio do autoral, independentemente de ser rock pesado ou não, o Malcom, que já algum tempo promove o Viva a Cena, já participamos do Pacú Elétrico no Bar do Bigode, do CineCaos… Fora isso a gente que corre atrás”, avalia o baixista Aldivan, o “Jacaré”.
Trajetória
A banda Sr. Infame surge de um hiato da antiga Karrascos, banda de thrash metal que durou de 2000 a 2007. A ideia despretensiosa e boêmia, que partiu de Anderson “Fofão” e Jomar Brittes, era montar uma banda cover para homenagear clássicos do rock setentista. Deep Purple, Black Sabbath, AC/DC, além de referências do novo projeto musical, também fariam parte do repertório.
O primeiro show da banda ocorreu em Rondonópolis, em janeiro de 2008. E os riffs de Anderson logo encontraram as letras de Jomar, compondo os primeiros trabalhos autorais da banda que tomou corpo e sincronia alguns anos depois. À seriedade e concretude gradativa do projeto, o grupo atribui a Aldivan, o “Jacaré”, ex-baixista da cultuada G.W.T. “Quando o convidamos para a banda, ele estava embaixo da lama fria, hibernando”, brinca Jomar. “Apesar da gente ter montado a banda, o Jacaré foi quem sempre se preocupou em ensaiar e tocar, a partir dele é que começou”, ressalta.
Nas várias formações, com a mudança de Anderson de cidade, em 2009, também passaram pela banda as baquetas de Roberto “Poison” e as guitarras de Christopher Carneiro e Fernando Alvarez. Este último ficou até 2017, quando o ex-guitarrista retorna para a formação que finalmente se concretizou em 2014: Jomar “Karrasco” Brittes (microfone); André Murilo (guitarra); Anderson “Fofão” (guitarra); Maicol Fernando (baquetas); e Aldivan “Jacaré” (bordões).
Aquele ano também foi de gravação um EP autointitulado com seis canções autorais, lançado em maio de 2015.
Pé no chão
Além de velha guarda, a Sr. Infame é uma banda de músicos com outras profissões. Apesar do profissionalismo presente em uma certa rotina de shows e ensaios, eles nunca viveram da música e continuam não vivendo. “É um hobby que a gente leva muito a sério. Sempre fomos muito pé no chão, porque, viver de rock… se você está lá em São Paulo, talvez. Cuiabá é muito difícil, mas nem por isso a gente deixou de fazer nosso som”, explica Maicol.
“A gente quer fazer música, eu gosto de música pra caralho, não posso viver sem música e se eu pudesse viver da música eu viveria”, revela Jomar. “Essa coisa de tocar é mais uma necessidade pessoal, gosto muito do que faço e não tenho intensão nenhuma de fazer pelo dinheiro. Se vier, está lindo, mas geralmente é o contrário, a gente tem é muito gasto”, opina Jacaré.
Tanto é que, nos últimos anos, eles determinaram que o cachê iria para um caixa coletivo da banda. Com a grana arrecadada, conseguiram gravar música, comprar uma câmera e ter estrutura mínima de divulgação e produção. “Antes a gente nem dividia, bebia lá no show mesmo o cachê”, brincam.
As letras, à proposito, além de retratos existenciais e críticas sociais, dizem o que diriam os bares se falassem, conta Jomar. O Cavernas Bar e os episódios que marcaram suas vivências na noite, por exemplo, sempre lhe serviram de inspiração. “Às vezes eu escrevo a letra primeiro, mas geralmente escrevo baseado no que eu ouço, vou assimilando. A Sr. Infame é uma das bandas que mais casam letras. Se a música é pesada, escrevo algo mais sério, se o riff é mais divertido, a letra também é”, explica o compositor.
A musicalidade de “peso e melodia” contemplam do heavy metal ao hard rock, influenciados pelo rock nacional dos anos 1980. Remanescentes do trash, não ficam só no rock e são amantes da MPB e até do samba, como Jacaré. “Para música é muito bom você flertar com outros estilos porque você acaba absorvendo bastante coisa e não fica travado no rock”.