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Sobre os tiroteios na América

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Sobre os tiroteios na América
(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Canso de escutar brasileiros comentando sem entendimento sobre os tiroteios em massa que acontecem na América. Nos parece ser um fenômeno estranho e distante da nossa realidade, mas quero propor aqui que não é. Infelizmente, se convive tanto com a violência no Brasil que não sabemos nem reconhecê-la mais.

A violência no Brasil é ubíqua, parte da paisagem, quase uma definição de quem somos. Na América a violência praticada em massa nos causa horror, revolta e principalmente conflito político. Mas ela não é aceita como se fosse um fato inexorável da existência. Aí está talvez a maior diferença entre os dois países. Além disto o número de asssassinatos é dez vezes menor nos EUA, apesar dos tiroteios em massa.

Outra falsa impressão que nos comunica a mídia nacional, bem alimentada que está pelos veículos midiáticos americanos tão ideologicamente aparelhados quanto os nossos, é de que estes tiroteios aumentaram no governo Trump. A verdade é que eles aumentaram, sim, mas nos últimos 20 anos. Estudando a lista dos massacres acontecidos nos ultimos 20 anos, pode-se perceber que o que diminuiu foi a capacidade da polícia e do público capacitado de reagir imediatamente. Poderíamos até arriscar a dizer que o grande culpado é o desarmamento e a atitude anti-policiamento, que cresce cada vez mais na América.

No massacre de Dayton, Ohio, acontecido à uma da manhã do último domingo, o atirador foi eliminado pela polícia depois de 30 segundos disparando sobre a multidão. Com arma de disparo rápido, ele deu 41 tiros em 30 segundos. A polícia agiu com presteza e impediu um desastre ainda maior. Em meio minuto o atirador estava no chão. Já no massacre no Texas ocorrido no dia anterior, o atirador matou quanto quis sem enfrentar reação e só foi preso quando tentava fugir, no estacionamento do Wallmart.

Num dos piores massacres da história até agora, o do show country em Las Vegas,  onde cerca de 600 pessoas ficaram feridas e 58 morreram, a polícia levou mais de 50 minutos para entrar no quarto onde estava o atirador armado e eliminá-lo. Um vídeo vergonhoso mostra a polícia de Las Vegas hesitando por preciosos minutos antes de entrar no apartamento de onde o assassino atirava sobre a multidão. O problema foi creditado a comunicação via rádio, que era sofrível dentro do hotel, mas se vê claramente no vídeo a falta de empenho dos policiais e a cautela em “causar” mais violência superando o desejo de impedi-la

O massacre da escola em Parkland, na Florida, acontecido em fevereiro de 2018, que se tornou uma espécie de marco na campanha atual pelo desarmamento, e no qual morreram 17 pessoas, é talvez o que oferece o quadro mais claro sobre a hesitação da intervenção, nossa velha conhecida no Brasil, mas que agora toma conta da polícia americana.

O único guarda armado do local ouviu os tiros e decidiu não entrar na escola. O xerife, que chefiava 5,8 mil homens da força policial, manda reforços, mas também os impede de entrar no local. Tem-se, então, oito policiais armados hesitando fora da escola, ouvindo o atirador de 19 anos descarregar sua arma nos alunos, sem fazer absolutamente enquanto os jovens são chacinados. O criminoso acabou sendo pego do lado de fora, quando tentava fugir depois de ter matado o quanto achou necessário.

Este xerife covarde ainda posou de herói falando contra o desarmamento e se protegeu das acusações usando a desculpa de que tinha ordem do governador para não entrar na escola. Finalmente, em junho deste ano, depois de uma longa investigação, foi tirado do cargo e está sendo processado por incompetência, assim como o guarda da escola, primeiro homem armado na cena.

Na época em que o massacre aconteceu, o xerife foi tratado com respeito, quase reverência, pela mídia esquerdista que estava decidida a usar politicamente o ocorrido contra o presidente Trump, num estado politicamente muito dividido entre democratas e republicanos.

Mas depois da investigação, até o bastião tradicional do esquerdismo como o New York Times teve que reportar a incompetência do xerife, que muda bastante a narrativa do massacre. O desastre ocorreu mais por falta de armas em mãos certas e não apenas pelo excesso delas.

O quadro da violência em massa nos EUA é complexo do ponto de vista social, mas o uso político de que se vale a mídia pró-desarmamento é o mais rasteiro possível. O estado do Texas parece que vai fazer a coisa certa depois do massacre de sábado e legalizar o porte de armas em igrejas, mesquitas e locais públicos. O fato é que num lugar onde armas são proibidas, loucos assassino não vão deixar de atuar.

Loucos homicidas não respeitam a lei. De que vale então impedir que  pessoas de bem e a própria polícia  protejam a si e a outros?  A placa que hoje é comum aqui nos EUA – Gun Free Zone-  não funciona para deter assassinos. pelo contrário, torna os assassinos soberanos sobre as pessoas de bem. Como enfrentá-los? Com um canivete? O desarmamento só impede a reação do bem. O Brasil é uma prova disto do alto de seus 60 mil assassinatos por ano. Violência pra nós é lugar-comum e vai continuar sendo enquanto vivermos debaixo do falso pacifismo que nos causa ojeriza por armas. 

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