Nosso direitismo é ainda recém-nascido. Não adianta cobrar do movimento da direita uma maturidade que não temos. Mas temos que saber aproveitar as oportunidades para aprender, quando brigar e pelo que brigar. Uma destas janelas de aprendizagem foi aberta por um pequeno vídeo de um pronunciamento do reitor da Universidade Federal de Rondônia.
O “magnífico” reitor, que tem uma lista enorme de processos nas costas[i], em uma palestra local reclama do ataque que as universidades federais estão sofrendo no Brasil perpetrado pelas “vozes do moralismo.” Ele conclama os alunos a se levantarem contra as “vozes do atraso que querem destruir a universidade.”
Nada de mais, até aí. Imagino que todos os reitores federais fizeram isto: reclamaram do atual estado de coisas, das investigações, das mudanças políticas, do fim da cultura de “casa-da-mãe-Joana” que o PT lhes ajudava a cultivar nas instituições de ensino federais.
Mas o magnífico Dr. Ari, com um certo humor, qualifica esta suposta perseguição como um fenômeno moral. Debocha das críticas que se referem aos alunos andando pelados nas Uni e do uso de drogas. “Se tiver festa de pelados, me chame!” – diz ele, arrancando risos da plateia. E aí passa a dizer que a maconha é normal na vida universitária, e conta uma história de um amigo, médico cirurgião hoje, que fumou a Bíblia de sua mãe inteira, do Gênesis ao Apocalipse.
O piadismo de Ari Ott tinha uma intenção clara: fazer um espantalho das críticas públicas que a universidade está sofrendo. Ele transforma o debate público que expôs as vísceras podres das instituições de ensino em uma discussão infantil entre as vozes do moralismo retrógrado e a liberdade apregoada por ele e seus comparsas da educação chamada de “superior.”
Mas em nenhum momento a crítica às Federais foram feitas num espírito retrógrado ou moralista. Não são críticas inspiradas por um dogmatismo religioso ou por preconceito, como ele insinua. A falácia usada por Ari é a favorita de 99,9% dos esquerdistas. Defender-se de ataques legítimos é difícil. Mas ridicularizar críticas legítimas fazendo-as parecer o que não são, ridículas, torna o trabalho mais fácil.
O pior é que os militantes zelosos da direita não sabem discernir essas diferenças. Saltam ansiosos em cima de qualquer oportunidade para criar um meme e trazer um possível descrédito para o outro lado. O pior é que, ao se indignarem com a resposta de Ari aos ataques que sofre, eles confirmam o espantalho e se deixam pautar por ele.
A historieta de Ari Ott sobre o rapaz que é cirurgião hoje, e “fumou a Bíblia de Gênesis a Apocalypse”, arrancaria risos de uma plateia de igreja se o rapaz estivesse dando um testemunho de conversão, muito comum nas igrejas Pentecostais. Não é uma blasfêmia contra a Bíblia Sagrada.
O ministro Weintraubb não fez uma crítica ingênua como insinua Ari Ott. “- Ah, estão fumando maconha nas universidades!!” Isto seria, sim, reflexo de um moralismo ingênuo e fora de contexto. Maconha será fumada, festas acontecerão. Mas o que nos revolta não é isto. É a institucionalização do uso de drogas com o respaldo de professores, e até do próprio currículo oferecido nos cursos.
O que está sendo dito e provado contra as Uni é que muitas viraram antro do tráfico de drogas e fazem abertamente a apologia do uso de drogas, de todos os tipos. Maconha era plantada[ii] e traficada dentro destas instituições debaixo do nariz de todos. Um documentário de 2008[iii], por exemplo, mostra o tráfico e o uso de LSD num diretório acadêmico da Fafich, na UFMG.
A indignação nacional é bem fundamentada em fatos que horrorizariam qualquer reitor sério em um país sério, Dr. Ari. Não é criticazinha “moralista” não. Andar pelado[iv] e defecar em público é lugar comum nos protestos dos estudantes e até de professores radicais das universidades. Não estamos falando de festas em que os jovens estão vivendo sua juventude. Estamos falando de uma cultura perniciosa, obscurantista, que odeia o saber e recorre a atos escatológicos para se manifestar sabe-se-lá contra o quê. Tudo e todos.
O problema é que quando se dá atenção a um espantalho ele se traveste de verdade verdadeira. A rede Parlamentar Evangélica[v] resolveu desavisadamente responder à mentirada do magnífico. Infelizmente, ao fazê-lo, os parlamentares acabaram se pintando com as cores do radicalismo obtuso que Ott os acusa de usar.
Minha pergunta hoje é: será que ainda dá tempo para aprendermos que na guerra cultural você não pode conceder ao inimigo o poder de te definir? Infelizmente, nesta pequena batalha, quem saiu vencedor foi o asqueroso magnífico.
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[i] https://www.jusbrasil.com.br/topicos/52063314/ari-miguel-teixeira-ott
[ii] https://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/policia-civil-descobre-plantacao-de-maconha-na-universidade-de-brasilia.ghtml
[iii] https://www.youtube.com/watch?v=OSos5xk0t_0
[iv] https://www.youtube.com/watch?v=ZQXnWmFm8u8
[v] Nota de Repúdio Frente Parlamentar Evangélica: