Mayke Toscano/Gcom-MT
Central de escutas ilegais estaria a serviço do então candidato e hoje prefeito do município, Luiz Binotti (PSD), narrou Siqueira
O secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos, coronel Airton Benedito Siqueira Júnior, afirmou que uma central clandestina de escutas e espionagem foi montada e operada em Lucas do Rio Verde (340 km de Cuiabá) durante a última campanha eleitoral do município.
O relato consta de trecho do depoimento prestado na quarta-feira (5) no quartel do Comando Geral da Polícia Militar, em Cuiabá. De acordo com o secretário, a estrutura estava a serviço do então candidato e hoje prefeito do município, Luiz Binotti (PSD).
Siqueira citou ter tomado conhecimento de uma “missão” assumida por três policiais, identificados no documento apenas como Cabo Rafael, Major Barros e Tenente Coronel César Gomes.
O grupo, segundo o secretário, teria sido contratado pelo coordenador da campanha de Binotti, Rogério Ferrarin, para investigar um possível esquema de compra de votos por parte do candidato adversário, o empresário Otaviano Pivetta. O custo do serviço foi estabelecido em R$ 20 mil.
“Que o Cb PM Rafael disse ao informante [Siqueira] que instalaram escuta ambiental e câmeras de vídeo no comitê da campanha do Pivetta e invadiram o escritório jurídico do hotel e tiraram fotos e mandariam esses dados ao Ten Cel PM César Gomes para produzir um relatório e subsidiar futura impugnação da candidatura”, disse, em um trecho.
Para atuar na investigação clandestina, segundo o depoimento, os policiais utilizaram uma história fictícia como “cobertura”: estariam a ministrar instrução de tiro. “(…) Que tinham que criar esta estória [como] cobertura porque o Ten Cel PM César Gomes estava na SEMA, o Maj PM Barros estava no BOPE e o Cb PM Rafael na SALP”, afirmou.
O caso, contou Siqueira, o deixou em uma “situação difícil”, uma vez que Pivetta era o candidato apoiado pelo governador Pedro Taques, e Binotti, o candidato apoiado pelo vice-governador, Carlos Fávaro.
“(…) Que ele percebeu um mal-estar gerado com o vice-governador, sendo que provavelmente venderam uma história de que o informante [Siqueira] estava fazendo atividade de inteligência”, relatou.
Outro lado
Siqueira disse que o caso gerou abertura de inquérito policial pelo delegado Flávio Stringueta. Ao LIVRE, o delegado disse que não poderia se pronunciar, pois a investigação é sigilosa. A reportagem entrou em contato com a assessoria do prefeito de Lucas do Rio Verde mas não obteve retorno.