A aparição de Blairo Maggi no Jornal Nacional desta terça-feira (24) durou 15 segundos, tempo suficiente para duas ou três platitudes sobre a controvertida “portaria do trabalho escravo”. Mas a fugaz passagem pela telinha embutiu um par de informações interessantes. Os brasileiros em geral descobriram que, embora não pareça, existe um ministro da Agricultura. E os mato-grossenses constataram que o senador licenciado ainda consegue falar. Blairo perdeu voluntariamente a voz por algumas semanas pela simples e boa razão de que não sabe o que dizer sobre Silval Barbosa.
O sumiço e o silêncio só servem para confirmar a inexistência de álibis capazes de remover a imensa pedra que lhe obstrui a trajetória política: há um Silval no meio do caminho. Talvez fosse mais prudente se tivesse assimilado duas lições recentes. Celso Pitta, o pior prefeito da história de São Paulo, foi coisa de Paulo Maluf. Dilma Rousseff, a pior presidente da história da República, foi coisa de Lula. O pecador compulsivo que resolveu abrir o bico depois de um ano de cadeia é coisa de Blairo Maggi. Surtos de mudez não mudam fatos. E esse tipo de filhote tem sempre a cara do pai.
Há séculos se repete que a criatura costuma voltar-se contra o criador. Muitos afilhados promovem traições explícitas. Outros podem dispensar-se de punhaladas nas costas: para produzir estragos de bom tamanho na imagem dos padrinhos, só precisam atender às ordens emanadas de cabeças desertas de neurônios e infestadas de ideias de jerico, planos imbecis ou projetos criminosos.
Quem se decepciona com um poste se vinga do fabricante na eleição seguinte. Maluf pediu aos eleitores que lhe negassem o voto se Pitta fosse mau prefeito. O pedido vem sendo atendido desde o século passado, e Maluf nunca mais venceu um pleito majoritário. Dilma virou presidente graças a milhões de eleitores que nela enxergaram “a mulher do Lula”. Ao afundar, castigou o criador com o abraço de afogado. Blairo transformou Silval em candidato a vice. De olho no Senado, entregou o cargo ao número 2, que não teria continuado no comando do Estado sem o apoio do padrinho poderoso.
Silval chegou aonde chegou graças a Blairo. Fez o que fez por culpa de Blairo. O atual ministro da Agricultura não chegará aonde sonhava chegar graças ao filhote que concebeu e pariu. Ambos são culpados. Um é criminoso confesso. O outro segue jurando inocência.
De duas, uma: se não sabia direito quem era o parceiro que escolheu, Blairo Maggi é irresponsavelmente leviano. Se sabia, é cúmplice, comparsa ou coisa pior. Não há uma terceira opção.