Ednilson Aguiar/O Livre
O ex-governador Silval da Cunha Barbosa (PMDB) afirma ter assumido e pago uma dívida de R$ 4 milhões do deputado federal Carlos Bezerra (PMDB) com a Construmóveis Materiais para Construção.
Os valores teriam sido emprestados a Bezerra para cobrir gastos da campanha de 2010, quando o deputado disputou a reeleição à Câmara dos Deputados. Para pagar a dívida, o ex-governador afirma ter utilizado dinheiro de propina.
A informação consta em um dos anexos da delação premiada fechada por Silval Barbosa junto à Procuradoria Geral da República.
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Silval afirma que o deputado o procurou em um período próximo à eleição de 2010. Bezerra, então presidente estadual do PMDB, teria dito ao ex-governador que precisava dos valores para a campanha e que já havia conseguido alguém para realizar o empréstimo: a empresária Marilena Ribeiro, sócia da Construmóveis.
Segundo a delação, Marilena Ribeiro exigia de Bezerra que a operação tivesse um avalista, função que o ex-governador assumiu. Silval afirma ter assinado um cheque de R$ 2,4 milhões apresentado pelo deputado federal.
Depois de ter sido eleito, Bezerra não teria quitado a dívida com a empresária, que teria procurado Silval exigindo os pagamentos.
Silval conta que conversou com o deputado, que relatou dificuldades para “levantar” os valores e pediu ao ex-governador que pagasse a dívida. Carlos Bezerra teria sugerido que “havia muitas obras no Estado de Mato Grosso, sendo fácil para o declarante [Silval] conseguir levantar recursos de tais obras” e quitar o empréstimo.
O ex-governador diz que inicialmente se negou a buscar propina de empresas e sugeriu a Bezerra que procurasse três empreiteiras: a Construtora Trípolo Ltda, pertencente à família do deputado estadual Ondanir Bortolini, “Nininho” (PSD), que iniciava obras na estrada entre Nobres e o distrito de Bom Jardim; a Ensercon Engenharia Ltda, que tinha sob sua responsabilidade a obra de ampliação do aeroporto de Rondonópolis; e a Empresa Brasileira de Construção Ltda (EBC), que pertence ao empresário Irineu Fiacadori e fazia o recapeamento da MT 060 entre Poconé e Cuiabá.
Bezerra teria dito que procuraria as empresas, contudo, passado algum tempo, o ex-governador diz ter sido cobrado novamente pela empresária. Silval diz que então procurou o deputado Nininho, que confirmou que “estaria ajudando” Bezerra.
Neste momento, por constar como avalista da dívida, Silval afirma que se comprometeu a quitar os valores devidos a Marilena, assinando cinco notas promissórias de R$ 1 milhão cada.
O ex-governador confirma que pagou a dívida com valores de propina, apesar de não se recordar exatamente de onde veio o dinheiro. Mesmo tendo deixado de pagar R$ 250 mil, Silval afirma que a empresária devolveu as notas promissórias.
Outro lado
A reportagem tentou contato com a assessoria de imprensa e com o gabinete do deputado Carlos Bezerra, mas foi informado que um posicionamento só poderia ser dado na terça-feira (29). As ligações feitas ao celular do deputado caíram na caixa de mensagens.