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Silval não se surpreendeu com o que Gilmar fez no TSE

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Silval não se surpreendeu com o que Gilmar fez no TSE

– Governador, que confusão é essa!!!??? – ouve-se a voz de Gilmar Mendes num tom que desenha um buquê de pontos de exclamação e interrogação.

– Barbaridade, ministro, isso é uma loucura! – ouve-se a voz de Silval Barbosa num tom de quem faz o possível para simular espanto.

Naquele 20 de maio de 2014, a residência do governador de Mato Grosso, investigado por corrupção no Supremo Tribunal Federal, fora alvo de um mandado de busca e apreensão. Ao vasculharem a casa, agentes da Polícia Federal haviam encontrado uma pistola com registro vencido. Depois de pagar a fiança fixada em R$ 100 mil, Silval pedira socorro ao ministro. Como atesta o áudio abaixo, foi prontamente atendido pelo ilustre mato-grossense de Diamantino.

– Que coisa! Tô sabendo isso agora! – Gilmar continua perplexo.

– É… é uma decisão aí do Toffoli – começa o cortejo de palavras desconexas, frases truncadas e explicações incoerentes, interrompido a cada meia dúzia de sílabas por vírgulas bêbadas e reticências que denunciam a ausência de álibis. Entre um e outro hum-hum rosnado por Gilmar, o governador menciona Blairo Maggi, uma delação premiada e denúncias envolvendo a campanha eleitoral de 2010 que nem sabe direito quais são. Precisa conferir o processo. -É uma loucura, viu? – recita com voz chorosa.

– Que loucura!, que loucura! – concorda Gilmar, antes de avisar que o socorro está a caminho. – Eu vou ver. Vou agora para o TSE conversar com o Toffoli.

O governador repete o falatório incongruente. O ministro do STF reitera a promessa de ajuda:

– Eu vou lá e, se for o caso, depois a gente conversa – combina Gilmar, que se despede com “um abraço de solidariedade”.

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Em 10 de maio de 2013, durante a cerimônia de entrega da medalha da Ordem do Mérito de Mato Grosso, Gilmar Mendes emocionou-se ao lembrar os laços fraternos que havia tempos mantinha com o governador: “Somos amigos há muito anos. Sempre tivemos conversas proveitosas”. A conversa ocorrida um ano mais tarde só foi proveitosa enquanto o investigado gozou da proteção do foro privilegiado. Em 17 de setembro de 2015, depois de ficar foragido por dois dias para escapar da prisão preventiva decretada pela juíza Selma Arruda, Silval entregou-se à Justiça. Está preso até hoje.

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Centenas de milhares de brasileiros descobriram só na semana passada que o Tribunal Superior Eleitoral é presidido por um ministro da defesa de bandidos de estimação. Os protagonistas e espectadores da história recente de Mato Grosso não têm o direito de espantar-se. Silval Barbosa, por exemplo, não se surpreendeu com o que Gilmar fez no julgamento da chapa Dilma-Temer. Ele não é de abandonar amigos em apuros.

Mesmo ministros que podem tanto não podem tudo, e às vezes são compelidos a desistir de uma causa. O amigo mato-grossense, por exemplo, anda sumido da pauta de preocupações do especialista em absolvição de culpados. Gilmar insiste em marcar encontros com “as prisões alongadas ocorridas em Curitiba”, mas não parece interessado em visitar a cadeia que há quase dois anos aloja Silval. Feroz inimigo de delações premiadas, Gilmar decerto não gostou de saber que o ex-governador negocia um acordo com a Justiça que o obrigará a contar tudo o que sabe. A amizade entre essas duas celebridades mato-grossenses pode estar perto do fim.

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