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“Sigam-me os bons”: Chapolin de MT mora em Bom Jardim e é dono de restaurante

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“Sigam-me os bons”: Chapolin de MT mora em Bom Jardim e é dono de restaurante
Reprodução/MT de Fato

Em Bom Jardim, distrito de Nobres (125 km de Cuiabá), vive um personagem bastante conhecido na região: Chapolin Pedroso, também conhecido como Chapola, de 55 anos.

Apesar de contar um pouco das histórias de sua nada rotineira vida, Chapolin não revela seu verdadeiro nome, já que todos o conhecem pelo personagem eternizado pelo mexicano Roberto Bolaños.

Foi há 30 anos que ele ganhou o apelido que hoje assume como nome de batismo. Em um tempo em que região não tinha estradas asfaltadas, nem pontes e muito menos energia elétrica. O local onde ele morava era um dos únicos abastecidos por gerador de energia e que ele equipou com uma TV de 22 polegadas, de suporte de madeira, e uma parabólica.

“Naquela época, quando as coisas eram muitas caras a gente dizia que custou muitos bezerros. Eu não lembro quanto paguei ao certo pela parabólica e pela TV, mas lembro que foram vários bezerros”.

E assim, Chapolin foi uma das primeiras pessoas a ter uma televisão na região. Seu programa favorito, nem precisa dizer: o Chapolin Colorado! E como por repetidas vezes ele assistia e repetia tudo que o personagem falava, o marido de sua prima o apelidou de Chapolin.

“No começo eu não gostava, briguei com o Cleiton por causa disso. Mas depois que minha ex-esposa começou a me chamar também, aí tive que aceitar o apelido”, relembrou.

Há alguns anos, entrou de vez na brincadeira e decidiu comprar uma fantasia. Das primeiras vezes que utilizou, passou calor, ficou um pouco desconfortável, mas se não utiliza sua indumentária, os turistas logo sentem falta.

Foto: Arquivo Pessoal

A cozinha que não é restaurante

Chapola sempre gostou de cozinhar, grande paixão de sua vida. Há quatro anos, decidiu abrir no rancho da família – um local com 36 hectares onde mora com outros familiares – um negócio diferente, como ele mesmo denomina. “Meu negócio não é um restaurante. Meu negócio é cozinhar”, explicou o comerciante.

A ideia nasceu para justamente colocar sua paixão em prática. Um fogão de lenha, algumas panelas de ferro, um freezer e uma mesa comprada fiado no “mercado do Clovis” deram início ao negócio que tanto ama.

Reprodução TripAdvisor

Chapola lembra até hoje dos primeiros clientes que atendeu. Era um casal de turistas que tinha vindo de Porto Velho (RO) e que estava hospedado em uma pousada. Os donos da pousada indicaram o rancho de Chapolin para os turistas almoçarem, já que sabiam que o comerciante iria começar suas atividades naquele fim de semana.

“Era pra ser só esse casal, mas daí eles animaram e foram chamando todos os turistas que você pensar. Quando fui ver tinha 20 turistas aqui no meu rancho e eu só pensava que a comida não ia dar pra todo mundo. Nem as panelas e muito menos os pratos. Aí fui na casa de mamãe, pedi todos os utensílios dela emprestados e atendi aquele povo todinho”, relembra.

A receita de pacu assado que tanto faz sucesso – Foto: Arquivo Pessoal

E as receitas fazem sucesso entre os turistas. Só há uma regra para a comida: “eu só cozinho aqui o que eu mesmo gosto de comer”, frisou. Arroz, feijão caseiro, farofa de banana – que ele faz questão de dizer que não é farinha com banana e sim banana com farinha – carne de porco na lata, pacu assado na folha de bananeira – especialidade da casa – e a feijoada mineira, que aprendeu quando morou em Minas Gerais.

Chapolin tem duas funcionárias que ajudam na limpeza e conservação do local. Mas é só ele quem cozinha no rancho. “Eu gosto das minhas panelas brilhando, então uma vez por semana eu paro para arear, porque só eu sei fazer do jeito que fica bom”. E penduradas em cima do fogão de lenha, as panelas de Chapolin reluzem de tão limpas.

O comerciante inovou até mesmo no sistema de funcionamento de sua cozinha: o cliente mesmo se serve, come o quanto quiser e na hora de pagar o destino é uma caixinha de madeira próxima do fogão, já que Chapola não manuseia o dinheiro. Na base da confiança, o cliente mesmo é que paga pelo seu almoço: R$ 30 por pessoa e mais o que bebeu. Mas será que isso funciona?

“Eu já levei calote sim, mas a maioria paga certinho. Uma vez uma dona veio aqui, almoçou, comeu bem até…e foi embora. Pensei que eu tinha ficado no prejuízo. Mas daí ela me ligou chorando e pedindo desculpas. Voltou aqui no outro fim de semana, almoçou de novo e pagou pelos dois almoços”, lembrou dando risada.

Essa despreocupação também é com o estabelecimento. Chapolin não colocou nenhum tipo de tranca, chave ou cadeados. A caixinha de madeira muitas vezes fica em cima da mesa com dinheiro dentro e ele não fica preocupado se vão levar o dinheiro ou não, porque ainda acredita nas pessoas.

Família

Chapolin tem dois filhos que vivem com ele, mas a quantidade total da prole impressiona: “19 chapolinzinhos”, como ele mesmo chama. O mais novo ainda está na barriga. A mãe da criança – a “Morena” – está grávida de dois meses e Chapolin apesar de não querer mais casar, está acompanhando de perto todos os exames da mãe da criança.

“Eu fui casado, já faz uns meses que eu separei. Ela foi embora e queria me levar para Alta Floresta, mas eu não fui não, daí sofri muito. Morrer não morre não, mas dói bastante, viu? Agora não quero casar porque vai que a Morena também decida ir embora?”, argumentou.

Redes sociais

Os dias da velha TV de madeira estão cada vez mais distantes. Chapolin está na era tecnológica e continua mantendo o hábito de assistir diariamente os capítulos de seu personagem favorito, mas agora direto de seu celular. Até que ele se rendesse à tecnologia, precisou que os clientes de seu rancho o convencessem.

Foi uma turista de São Paulo que mostrou o quanto a internet poderia ser vantajosa para atrair mais turistas para seu negócio. Até que resolveu comprar um celular, instalar uma internet wi-fi e ganhar intimidade com as redes sociais e ser o personagem principal de seus vídeos.

Mensagens de bom dia, vídeos ao lado de inúmeros turistas que por ali passam, fotografias com crianças que adoram o personagem e vídeos da rotina do rancho estampam suas redes sociais, tanto Facebook, quanto Instagram.

 

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Tanto reconhecimento para seu negócio, Chapolin acredita ser fruto daquilo que ele mais preza em seu negócio: o bom atendimento. Todo o cliente que chega no rancho ele faz questão de ir até o carro, tratar com toda a atenção, brincar e nunca perder o bom humor.

“A gente vai trabalhando… onde eu errei, não quero mais errar. Eu sempre falo o meu bom dia lá nos vídeos, agradeço a Deus o meu trabalho, meus amigos das pousadas aqui próximas que mandam cliente pra mim. E eu só tenho a agradecer mesmo. Não fiquei rico, mas vivo feliz aqui no meu rancho”, finalizou.

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