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Setor algodoeiro segue otimista mesmo após surto de coronavírus

Para a Abrapa, ainda é cedo para arriscar um prognóstico; China foi o destino de 34% do total de algodão produzido no país

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Setor algodoeiro segue otimista mesmo após surto de coronavírus

O surto de coronavírus não tirou o otimismo do cotonicultor mato-grossense, que enviou para a China mais de 300 mil toneladas da pluma, em 2019, cerca de 32% do total enviado para o exterior. A previsão para este ano, no entanto, ainda é incerta, mas, se depender do ânimo dos representantes do setor, os números devem permanecer no mesmo patamar ou até ganhar um incremento.

Para a agência de classificação de risco Moody´s, a doença deve afetar a economia chinesa temporariamente e manteve a estimativa de crescimento do país em 5,8% neste ano. No ano anterior, o crescimento foi de 6,1%, menor índice registrado em quase 30 anos, conforme dados do governo chines.

Segundo a agência, o surto de coronavírus tem seu principal efeito sobre a economia da China por meio de seu impacto sobre os consumidores e as cadeias de suprimentos. Com a quarentena, muitas indústrias estão paradas, sem a mão-de-obra necessária para as atividades. Além disso, o feriado do ano novo chinês foi estendido.

Carlos Menegatti, diretor de comercialização da Cooperfibra, disse que, até o momento, as operações seguem dentro da normalidade. “Apesar do mercado internacional ter sentido um pouco os efeitos do surto”, comenta.

Localizada em Campo Verde (140 km de Cuiabá), a cooperativa conta com 198 cooperados, que produzem cerca de 120 mil toneladas. “Desse volume, o mercado chinês absorveu 20%”, calcula.

O diretor explica que todo o envio é foi feito por meio das tradings e que estas sim sentiram mais os efeitos do surto. “A princípio era mais a dúvida, a falta de informação se seria possível ou não carregar para a China, se a cidade ou os portos estariam parados em razão da quarentena. No que tange aos produtores, o otimismo permanece”, disse.

Na cooperativa, a previsão para 2020 é continuar enviado ao menos 20% da produção para a China. “Devemos manter, se tivermos alguma alteração nos números creio que será para mais”, avalia.

Brasil alcançou a segunda posição no ranking mundial de países exportadores de algodão – Foto: Abapa

Brasil

Para a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), ainda é cedo para arriscar um prognóstico acerca dos efeitos, no mercado de algodão, do fim da guerra comercial entre Estados Unidos e China e também da epidemia de coronavírus. Este último derrubou, por três dias seguidos, os preços da commodity no fim de janeiro.

Em 2019, o Brasil alcançou a segunda posição no ranking mundial de países exportadores, e a China foi o destino de 34% do total de algodão produzido no país.

“Hoje é a China quem dá o ritmo do mercado no globo, e, literalmente, um espirro que vem de lá pode chacoalhar a economia mundial”, comenta o presidente da Abrapa, Milton Garbugio.

Para ele, o Brasil não corre risco de perder a posição conquistada, “pois os Estados Unidos terão de ser competitivos para vender para a China na quantidade e qualidade que eles se propõem a comprar”.

Mas o coronavírus, segundo ele, é uma preocupação pelo temor que a epidemia se agrave e alastre. No fim de janeiro, após as primeiras notícias da doença, alta volatilidade da commodity marcou o mercado.

Garbugio: EUA terão que ser competitivos para entregar à China algodão em quantidade e qualidade exigida pelo mercado

Preferência pelo algodão brasileiro

Garbugio lembra que, nos últimos dois anos, o algodão brasileiro entrou fortemente na China e ocupou o vácuo deixado pelos EUA. Segundo ele, a produção e o consumo de algodão no mundo hoje estão equiparados. A produção mundial é de cerca de 26 milhões de toneladas de pluma.

“Nós temos 2 milhões de toneladas que precisam ser exportadas e serão. É uma questão de rearranjo de mercado. Mas é fato que os chineses gostam do algodão brasileiro, o que obriga os americanos a ser competitivos”, disse.

Também para o presidente da Anea, Henrique Snitcovski, a maior preocupação dos mercados hoje está voltada para os possíveis impactos no consumo e movimentação de mercadorias com o coronavírus.

“Mais do que nunca, é importante esse esforço das entidades que representam a produção e a exportação da fibra, Abrapa e Anea, junto com o Governo Federal, para promover o produto no mercado asiático”, conclui.

Foto: Assessoria

Ministra recebe embaixador chinês

Nesta semana, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, recebeu o embaixador chinês Yang Wanming que relatou as medidas adotadas pelo governo chinês em relação ao coronavírus. “Vamos acompanhar de perto, mas por enquanto está tudo normal”, afirmou a ministra.

No que diz respeito ao setor agropecuário, não há restrição ao intercâmbio comercial entre os dois países devido ao surto da doença. “Não mudou nada. O que pode ter atrapalhado a movimentação foi o feriado do ano novo chinês, que foi prolongado por causa do coronavírus”, argumentou.

O embaixador afirmou que a relação comercial entre os dois países no setor agropecuário é duradoura e será cada dia mais estreita. “O governo chinês se dedica a manter essa relação de longo prazo e estável com o governo brasileiro. Os produtos agrícolas brasileiros são bem-vindos. Não acredito que a relação sino-brasileira será prejudicada (pelo surto)”, disse.

O novo coronavírus, detectado pela primeira vez em Wuhan no final de 2019 e listado como 2019-nCoV, resultou, até este domingo (09), mais de 37 mil casos e 811 mortes somente na China. Este número sozinho, desconsiderando as mortes em outros países, já supera o total de mortes registrado na epidemia de Sars de 2002-2003.

Ministra garante que vai acompanhar de perto a situação, mas lembra que não há restrições ao intercâmbio comercial entre os países – Foto: Guilherme Martimon/Mapa

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