Cada uma das mães que optam pelo parto natural tem um relógio único, cuja as carenagens desconhecem regras rígidas de compasso. Um processo que pode durar semanas, dependendo da mulher, e que exige autoconhecimento e treinamento.
No entanto, apesar de trabalhoso, é o que muitas mulheres estão buscando. Algumas optam pelo parto em casa por conta do medo da dor e outras por conta dos benefícios à saúde da criança e das mães.
Basta dar uma olhada nas redes sociais para ver a proliferação dos registros, muitos feitos por fotógrafos profissionais.
Na opinião da enfermeira Laura Graças Padilha, da empresa “Liora, parto em casa”, o aumento está relacionado com o fato de as mães quererem ser protagonistas no processo.
“Nosso trabalho é auxiliar e dar segurança para que ela possa deixar o corpo trabalhar. Desde a concepção, as mudanças vão sendo realizadas pelo organismo, de forma a culminar no parto”, afirma a profissional.
Parto natural X cesária
Em Mato Grosso, conforme o Ministério da Saúde, 62% dos partos são cesáreos. Uma porcentagem que está acima da média nacional 52%. Grande parte das cirurgias é realizada na rede privada.
Para a enfermeira, os números são calçados por estigmas, falta de preparo da equipe de atendimento e até mesmo pressa.
Ela explica que durante anos se consolidaram mitos na cabeça das mulheres, de que ela não era capaz e de que não era seguro. Tudo por conta da chamada “violência obstétrica”, que antes era tida como habitual e, atualmente, passou a ser identificada.
“Era doloroso por questões externas, as pessoas subiam sobre a barriga da mulher e ainda tinha comentários como: estava bom quando fez, então não grita”, argumentou.
Paralelo a isso, as mudanças nos protocolos relacionados às fases do parto distanciaram o nascimento do natural, que antes era quase que ritualístico, para algo programado, com etapas calculadas no relógio.
O ato de parir tornou-se algo associado ao temeroso pique – corte feito na região muscular entre a vagina e o ânus -, fórceps e cesária.
“Lógico que o parto natural não é para todas as pessoas e que as técnicas são necessárias, quando empregadas corretamente. Mas a intervenção não pode ser a primeira opção”, afirma Laura.
Como funciona o parto em casa
O primeiro passo é informar a mãe e o companheiro dela sobre o procedimento, bem como o processo de gestação. Assim, ela vai entender todas as etapas e também se preparar para elas, como técnicas de respiração e relaxamento.
“A contração vai acontecer, mas a intensidade da dor pode estar conectada ao ambiente, a questões familiares e preconceitos. Com informação, auto conhecimento e respiração é possível minimizar”, esclarece a enfermeira.
Na primeira fase do trabalho de parto – prodomos – , a mulher começa a sentir as primeiras contrações e elas indicam que o nascimento se aproxima. Ela pode durar dias até que o sintoma seja contante e tenha o ritmo, o que coloca a mulher na segunda fase, a latente.
Nela a dilatação do colo do útero é acentuada até que se chegue aos 6 cm, quando se inicia a fase expulsativa, o nascimento propriamente dito.
Laura esclarece que nem todas as mulheres precisam fazer o pique e que na maior parte das vezes, o corpo está preparado para a passagem do bebê.
Que tipo de casa ambiente pode ser usado
Qualquer lugar que esteja limpo, onde a mulher se sinta acolhida e que tenha uma distância de ate 40 minutos de carro até uma unidade de saúde.
Dos casos 150 partos atendidos pela empresa, em 2 os bebês precisaram de apoio hospitalar e 6% evoluíram para uma cesária. A porcentagem está abaixo do índice estabelecido pela OMS, que são dentre 10% e 15% de cesárias.
“Temos que considerar que é um procedimento de baixo risco, mas pode acontecer alguma coisa e temos que nos preparar para um remoção até o hospital”, alerta Laura.
Contudo, ela explica que como muitas mães começam o processo antes mesmo de estarem gestantes, o pré-natal é minucioso, o que reduz os risco.
Nos casos em que a mulher seja hipertensa, fumante ou tenha outro fator que possa afetar o parto, o aconselhável é que ela faça o parto humanizado em um hospital, serviço que também é acompanhado pela empresa.
Quanto ao local específico da casa, a enfermeira explica que não existe. Porque, como é respeitado o tempos e a naturalidade, a gestante, como protagonista, escolhe o melhor lugar e a posição, que pode ser até mesmo de pé.
Quais as vantagens
O fato de a mulher ser protagonista no seu parto já traz grandes diferenças no autoconhecimento dela, que se sentirá confiante para os desafios da maternidade, e na relação que ela terá com o filho, que já acontece nos primeiros minutos de nascimento.
Ainda há vantagens com relação à amamentação, que em caso de cesária demora algumas horas para ser realizada. A facilidade é motivada pelo fato de o corpo entender que o nascimento aconteceu e o leite vir mais facilmente.
Laura ainda explica que existem estudos que atribuem ao parto natural a redução dos casos de alergias, diabetes e doenças intestinais da criança.
Quem são as mulheres que buscam pelo serviço e quanto custa
As pessoas que procuram pelo parto normal e humanizado são pessoas entre 26 e 35 anos e que possuem estabilidade profissional e que sabem a importância do nascimento natural.
“Antes, as pessoas sempre ligavam o parto em casa à coisa de ‘hippie’ e os casais que nos procuram estão longe deste estereótipo”, relata.
Atualmente, o custo de um acompanhamento varia entre R$ 5 mil e R$ 7 mil e não é coberto por plano de saúde.
Para realizar o serviço, é essencial o pré-natal com o médico também.