A pandemia de covid-19 intensificou o uso da internet no mundo inteiro. Compras, aulas, reuniões familiares e até consultas médicas. Grande parte das atividades diárias passou a ser feita vai web. Esse “novo normal”, entretanto, não é realidade para quem não tem acesso à internet. E quem não tem?
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que em Mato Grosso 21,% das casas não têm internet. A realidade observada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) é referente a 2018.
Os números, segundo o professor doutor Cleberson Ribeiro de Jesuz, do Instituto de Geografia, História e Documentação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), refletem uma condição nacional.
“Temos um número considerável de pessoas no Brasil que não têm acesso à internet. E isso é reflexo de muitos anos de política de democratização do acesso mal feita, da má distribuição”, analisa.
E ele destaca: ainda é preciso levar em conta a qualidade do sinal que chega para muita gente. Segundo o IBGE, quase todos os domicílios acessam a web pelo celular.
“Muitos municípios não tem nenhum tipo de acesso e, quando tem, apenas uma operadora atua. Então, é uma falácia dizer que estamos todos conectados“.
Contraponto
Como contraponto, Cleberson cita o exemplo da Estônia. No país do Norte europeu – que se transformou em exemplo na democratização do acesso – a internet é tida como um direito social, tal qual água e energia.
O reconhecimento faz com que o acesso não seja dificultado. Em 2019, um pacote de dados ilimitado não custava mais que 10 euros (o que, atualmente, equivale a R$ 61).
A conexão com a internet influencia até nas eleições. Desde 2005, o país tem eleições online. O acesso pode ser feito de qualquer lugar do mundo.
Uso de smartphones
A pesquisa do IBGE também apontou que o celular é o equipamento mais usado para acessar a internet. Ele foi encontrado em 99,2% dos domicílios brasileiros.
Em segundo lugar aparece o microcomputador. No entanto, a diferença para o primeiro colocado é gritante. A ferramenta só era usada em 48,1% desses lares.
“Sabemos que o acesso por um smartphone, porém, é limitado. E é sabido também que, no celular, o uso é (quase que) restrito a aplicativos, redes social e comunicação”, aponta o professor.
É aí também que moram os riscos do uso massivo do celular, segundo Cleberson. Entre eles, a disseminação de fake news enviadas por aplicativos como o WhatsApp.
O acesso ao ensino também é uma preocupação do geógrafo, tendo em vista o momento em que vivemos. “Estamos falando do ensino via EaD. Há de se ter uma preocupação com a qualidade do ensino que vai ser ofertado e das condições desse acesso”, finaliza.
A Secretaria de Estado de Educação (Seduc-MT) foi procurada para comentar sobre políticas de acesso à internet para o ensino remoto, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem.