O cabo da Polícia Militar (PM) Gerson Correa, réu na ação de interceptações telefônicas clandestinas, conhecida como “Grampolândia Pantaneira”, disse nesta segunda-feira (27), na 11ª Vara Militar de Cuiabá, que a juíza Selma Arruda, que concorre ao Senado, sabia que uma denúncia de organização criminosa havia sido forjada para que nomes fossem inseridos em escutas.
O militar destacou que, em 2015, a magistrada foi ao Grupo de Atuação Especial ao Crime Organizado (Gaeco) para delatar ameaça a sua integridade física e foi recebida pelo então chefe do grupo, promotor de Justiça Marco Aurélio de Castro. “Marco Aurélio me chamou na sala e narrou que ela estava sofrendo ameaça. Fui ao gabinete dela para saber o que seria essa ameaça”, disse Gerson, em depoimento nesta segunda-feira (27).
O PM ainda disse que Selma informou a ele que sua assessora tinha falado para ela que havia ficado sabendo por terceiros que a tinham ameaçado, dizendo que sabiam onde sua neta estudava e como era o dia-a-dia da magistrada.
“Eu sabia que, logo em seguida que o relatório foi produzido, ela [Selma] ia se declarar impedida e foi o que aconteceu. O processo foi distribuído para Vandinalma [Santos], da 14ª Vara Criminal”, afirmou o cabo.
O policial ressalta que, com essa história, recebeu ordens de incluir alguns números de telefone, como os do ex-governador Silval Barbosa, do irmão do ex-governador Antônio Barbosa e do empresário Filadelfo dos Reis.
Segundo ele, a juíza Selma e o promotor de Justiça sabiam desse caso de “barriga de aluguel”. “Criamos um cenário e os inserimos no bojo da informação; 33 laudas produzidas por mim e ele mandou instaurar como denúncia anônima. Não existia a história de organização criminosa. Especialmente essa de que Filadelfo seria o novo Arcanjo de Mato Grosso”.
Este caso não estaria ligado ao escândalo conhecido como “Grampolândia Pantaneira” e os outros quatro militares em julgamento na Vara Militar não teriam participação, sendo eles os coronéis da PM Zaqueu Barbosa, Evandro Alexandre Ferraz Lesco e Ronelson Jorge de Barros e o tenente-coronel Januário Antônio Edwiges Batista.
O caso
O esquema de grampos ilegais foi denunciado pelo promotor de Justiça Mauro Zaque à Procuradoria Geral da República (PGR), à quem afirmou que o governo do Estado tinha conhecimento sobre as escutas ilegais instaladas em Mato Grosso.
Inicialmente, o pedido de interceptação telefônica foi autorizado pela Justiça Estadual, mas teve a finalidade alterada depois que número de pessoas sem envolvimento em crimes terem sido incluídos – uma manobra chamada de barriga de aluguel.
Depois de ter alertado o governador Pedro Taques, Zaque procurou a PRG, em janeiro de 2017. O escândalo veio à tona após uma reportagem veiculada pelo Fantástico, em maio de 2017, na qual o promotor reafirma as denúncias.
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