Mato Grosso

Selma Arruda: “Já esperava que a política fosse assim”

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Selma Arruda: “Já esperava que a política fosse assim”
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Juíza aposentada, mãe, avó e futura senadora da República por Mato Grosso. Selma Rosane Santos Arruda, ou apenas Selma Arruda (PSL), ficou conhecida por sua atuação na 7ª Vara Criminal de Cuiabá, onde determinou a prisão de figurões da política mato-grossense, como o ex-governador Silval Barbosa e o ex-presidente da Assembleia Legislativa José Geraldo Riva.

Ela entrou na política em abril deste ano, quando decidiu se filiar ao partido do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Erguendo as bandeiras contra a corrupção e o crime organizado, foi eleita senadora mais votada no Estado nas eleições deste ano, ao receber quase 700 mil votos.

Agora, a pouco mais de um mês de assumir uma cadeira no Congresso Nacional, Selma Arruda fala sobre mudanças, desafios, família, diferenças entre a política e a Magistratura, bem como sobre decepções.

Confira as cinco perguntas que Selma Arruda respondeu para o LIVRE:

1 – Qual a principal mudança que deve ocorrer na vida da senhora a partir de 1º de fevereiro?

Selma Arruda – Essa mudança já começou bem antes, desde a pré-campanha e a campanha, concretizou-se com a eleição e agora com a diplomação. A partir de primeiro de fevereiro, vai ser apenas um passo a mais nessa caminhada pela qual eu optei, que a partir da posse vai começar a se materializar.

Na minha vida pessoal, mudança nenhuma. Na profissional, é óbvio que haverá mudança de rotina, deslocamento de Cuiabá a Brasília, mas com relação a articulações e a política em si, isso está acontecendo desde já.

Temos várias ideias, vários projetos para colocar em prática. Nós precisamos, num primeiro momento, nos articular, e isso os partidos já vêm fazendo, para definir a presidência do Senado. Isso é muito importante para que a gente consiga ter uma fluidez nos projetos, para que eles sejam pautados sem embargos e, para isso, precisamos de um presidente que não atravanque essas proposituras.

Essas articulações já estão acontecendo e a partir de primeiro de fevereiro elas vão cada vez mais se materializar, mas o mandato é longo e é um processo constante de mudanças, de acordo com a conjuntura e as necessidades da população.

2 – Qual a senhora acha que será a maior diferença entre o gabinete de juíza e o plenário do Senado? 

Selma Arruda – O comportamento do protagonista desse gabinete, no caso, do juiz ou do senador. O juiz é muito mais recluso, não pode expor as suas ideias, espera os pontos de vista diversos chegarem para depois medir e tomar uma conclusão, isso é um exercício que se faz todos os dias na magistratura. O senador, como político, como parlamentar em geral, como o próprio nome já diz, ele parla muito, fala, discursa, expõe as ideias.

Eu vejo que as portas vão estar muito mais abertas a ideias, discussões, a todo tipo de pessoas que possam aparecer, fazer reivindicações, sugestões. O senador, embora não tenha a mesma característica do deputado federal, também trabalha com a visão voltada para os interesses do Estado como um todo, mas obviamente que ele se firma na sua base eleitoral.

O senador depende e precisa do povo externo, enquanto o juiz, já mais recluso, se firma no próprio processo, naquilo que ele tem, mais no papel do que na palavra das pessoas.

(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

3 – A senhora vai se mudar para Brasília ou ficará na ponte aérea? Como a família está encarando o fato de a senhora passar tanto tempo longe de casa? 

Selma Arruda – Eu devo ter um lugar para ficar em Brasília e vou ficar alternando entre Brasília e Cuiabá. Até porque, não só em Cuiabá, mas em várias cidades aqui do interior, eu vou ter que me fazer presente. Então, devo ficar na ponte aérea.

Vou usar esse recurso quando houver necessidade. Até por uma questão de economicidade, eu não virei a Cuiabá simplesmente para descansar, quero vir para trabalhar. Mas óbvio que meus filhos e minha neta vão permanecer em Cuiabá, tenho laços aqui, que obviamente não vou deixar se fragilizarem por conta da minha missão em Brasília.

Então, devo ficar com essa vida normal de parlamentar, mas sempre com o olhar voltado para nossas bases, que são em Mato Grosso.

4 – Com tantas coisas negativas que aconteceram desde que a senhora entrou para a política, em algum momento já se arrependeu? 

Selma Arruda – Realmente eu passei por muitas coisas desagradáveis desde a minha pré-campanha, desde a minha aposentadoria, mas eu também passava por muitas coisas desagradáveis quando estava na Magistratura, porque eu desagradava interesses e agora continuo desagradando, talvez até mais. Então, essa posição de um certo conflito constante com alguém ou com algum interesse já é uma posição que eu venho carregando há muito anos, por conta do exercício da Magistratura.

Eu não me arrependendo de forma alguma, como nunca me arrependi do que fiz enquanto magistrada. Acho que é uma batalha e toda batalha tem disso. Tem momentos que você vence e momentos que você perde, isso é natural do processo, mas eu tenho muita fé e muita vontade de que ao cabo, ao fim, a gente consiga, efetivamente, derrubar certos comportamentos ilegítimos, ilegais, que ainda estão enraizados em alguns setores da sociedade brasileira e da sociedade mato-grossense.

A velha política não quer que as coisas mudem e ela está muito incomodada com meu ingresso na política. Isso não está acontecendo só em Mato Grosso, eu tenho conversado com vários colegas, muitos deles de primeiro mandato, de vários partidos, e todos relatam situações muito semelhantes, inclusive de perseguições. Isso é normal, estamos mudando e toda mudança é dolorosa para aqueles velhos que têm que ser afastados. Mas nós vamos em frente, com muita fé em Deus, muita garra e determinação. Se Deus quiser, a gente consegue consertar e fazer um Mato Grosso, um país melhor.

5 – Com quem, ou com o que, a senhora mais se decepcionou até agora?

Selma Arruda  – Já me decepcionei com muitas coisas na vida, mas na esfera política eu posso dizer que não me decepcionei com nada, eu já esperava que fosse assim. Claro que a gente não tem como prever o futuro, sabia que iam haver perseguições, esses combates, mas me decepcionar efetivamente eu me decepcionei quando eu ainda estava na Magistratura, quando eu comecei a ver como são os porões, como é o mecanismo, como ele se põe e funciona. Minha grande decepção foi com isso e foi por conta dessa decepção que eu resolvi entrar para a política.

 

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