O mundo da política não é, definitivamente, para amadores. Em artigo, neste mesmo espaço, em 04 de outubro, véspera das eleições, escrevi sob o título “De Selma Arruda a Jair Bolsonaro”, onde eu tratava das irregularidades da campanha da candidata que, conhecida como Sérgio Moro de saias, prestes a alcançar uma cadeira no Senado da República e que teria pela frente uma batalha jurídica enorme, para sustentar a cadeira obtida com votação expressiva que lhe foi conferida pelas urnas. Foram 678.542 votos a ela conferidos, condição que a fez a mais votada naquele pleito.

A ninguém é dado o direito o desconhecimento da lei, principalmente a ela que construiu seu nome vendendo uma moralidade e combate à corrupção que o tempo acabou por demonstrar ser o que chamei à época de ser uma verdadeira “fake news”.

Desde sua aposentadoria, manchada por recebimento de valores irregulares, Selma julgou que o cargo que deixava para inserir-se num novo mundo, o mundo da política, ela poderia usar e abusar contrariando as regras da lei eleitoral. Justo ela que construiu a sua vida como operadora do Direito.

Antes mesmo do início da campanha, valeu-se, ilicitamente, de recursos obtidos através de seu primeiro suplente, Gilberto Possamai, usando-o como seu grande financiador. Por suas contas bancárias passaram recursos flagrantemente ilegais que regaram sua campanha. Omitiu 72% das despesas efetuadas – 1,2 milhão – configurando caixa 2 e abuso de poder econômico.

Deu no que deu. Denunciada, foi condenada por unanimidade pelo TRE à perda do cargo, junto com seu suplente e financiador, além da perda dos direitos políticos por oito anos, devendo uma nova eleição ser realizada para preencher o cargo ainda por ela ocupado.

É claro que ainda há um não tão longo caminho a ser percorrido, mas até setembro, prazo que o TSE estipulou para o julgamento de todos os recursos oriundos da eleição, em última instância, deverá estar julgado pela mais alta corte eleitoral do país e, pela robustez das provas e com o placar unânime de 7×0, aqui no TRE, é quase impossível imaginar que ela continuará a representar Mato Grosso no Senado Federal.

A campanha de ex-juíza começou de forma atabalhoada e sem rumo. O que se via eram constantes desacertos partidários, com ela chegando a pedir que o segundo voto poderia ser dado para o candidato do PSOL – partido que além de não fazer parte da sua coligação, representa tudo que seu PSL combate, algo inimaginável em qualquer disputa eleitoral.

Há que se reconhecer que a campanha só encontrou um rumo, quando o novo marqueteiro contratado, tirou-a dos embates partidários e colou sua imagem naquele que representava, como ela dizia representar, o combate sem tréguas à corrupção e que, naquele momento, todos sabiam ser Jair Bolsonaro.

Ainda que o impossível possa acontecer e a ex-juíza permaneça no Senado, fica claro que mais uma vez o eleitorado foi enganado, acreditando dar seu voto a alguém que pudesse representá-lo com dignidade.

Agora só resta aguardar que seu advogado, com recursos que ela não declara ter, possa levar a batalha indefinidamente, como normalmente acontece nesse Brasil dada a morosidade da justiça.

Selma Arruda, a ex-juíza moralista, está hoje do outro lado da mesa. No banco dos réus, buscando todas as artimanhas que os que foram por ela condenados usaram para que a justiça não fosse finalizada.

E pior: antes mesmo de o cadáver esfriar, já há um sem número de candidatos brigando pela vaga que deverá ser aberta. A nova eleição se houver, e pelo que parece certamente ocorrerá, deverá acontecer, se os prazos forem cumpridos, no primeiro semestre do ano que vem. E tudo começará de novo: novas promessas, novos compromissos e a venda de novas esperanças que não saberemos se serão cumpridos. Lamentável!

*Advogado, analista político e ex-parlamentar estadual e federal

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